Nesse carnaval, elas vão para as ruas com um aviso claro, direto e cheio de estilo: “não sou obrigada”. No braço, nas coxas, no pulso ou no pescoço, a ilustração parece tão abusada e poderosa quanto uma tatuagem de verdade. E bem que poderia ser, né? Três mulheres de Brasília resolveram transformar em arte uma luta que faz parte do nosso cotidiano, com ou sem marchinha de carnaval.
Conspiração Libertina (você pode acessar o site delas aqui, ó) é um projeto de Carol Ferrare, Gabriela Alves e Luciana Lobato, que traduz a militância feminista e LGBT em ilustrações lindas e coloridas, em formato de tatuagens removíveis, imãs, pôsteres, quadros e outros coisas bem legais, em prol das manas, das minas e das monas, sem distinção, como uma das próprias criadoras gosta de dizer. Carol Ferrare bateu um papo comigo para contar mais sobre essa conspiração toda e garante que vivemos o momento perfeito para apontar dedos e problematizar muito, sim. Obrigada!
“O ano de 2015 foi um ano muito esquisito, mas tem uma coisa que considero positiva devido à saída dos fundamentalistas do armário. Acabou o papo de que somos um país tolerante. Não dá mais pra dizer que o brasileiro não é machista, racista, homo e transfóbico. Se eles têm o direito de professar o preconceito, nós, feministas, viados, sapatões, trans, pretos, pobres também podemos problematizar o mundo”, defende ela.
Para Carol, a graça é justamente transformar qualquer pedacinho do dia-a-dia em manifesto, como a geladeira ou a parede da sala. O corpo também entra na brincadeira, já que as tatuagens são irresistíveis! Entre as ilustrações, criadas pelas designers Gabriela e Luciana, estão a do dedo do meio, o símbolo feminista florido e algumas outras com “tiradas” sensacionais e mais verdadeiras do que nunca, como a que diz “meu corpo, minhas regras”.
Lançar essas tatuagens no carnaval, aliás, faz todo sentido. “O abusador já tem todas as desculpas, que são tristemente aceitas pela sociedade, para ignorar o “ não” das mulheres. Para melhorar, ainda vem uma marca de cerveja e diz que a mulher ‘esqueceu o não em casa’. Ou seja, é um período em que se posicionar é quase questão de vida ou morte. As tatuagens ajudam a difundir mensagens de empoderamento”, pontua Carol.
A jornalista reforça que a ideia das ilustrações e cartazes é justamente atingir um público novo, que não tem tanto contato assim com a militância feminista. Qualquer uma pode fazer parte desse rolê e ajudar a propagar uma mensagem que pede respeito, consideração e igualdade para as mulheres.
“Tem a menina de 15 anos que compra o símbolo feminista, a senhora de 60 com um adesivo ‘não sou obrigada’ no celular… É só um adesivo (ou imã, ou tatuagem), mas contribui para o empoderamento de muita gente. Outro dia, uma menina que trabalha em um navio comprou um símbolo feminista pra levar para uma garota chinesa que trabalha com ela. Essa menina fugiu da família para não ter que casar obrigada, foi trabalhar como auxiliar de limpeza na embarcação e agora tem o símbolo do movimento feminista colado no espelho. É emocionante”, diz.
Os próximos passos dessas conspiradoras envolvem novas tatuagens, com foco na questão do combate à violência contra a mulher, pôsteres que retratam heroínas brasileiras esquecidas pela histórias e muita libertinagem. Se liga no trampo das meninas aqui na nossa galeria: