(Por Fabiana de Carvalho) – O “larga esse videogame e vai estudar, menino!”, típico das mães de jogadores compulsivos, já não faz mais tanto sentido assim. É cada vez maior o número de pessoas que estudam jogando. E que, inclusive, ganham a vida graças aos games. Em um mercado cresce muito e muito rápido – em países como a Inglaterra seus valores já superam os de mercados de cinema e de música até – o que não falta é espaço e oportunidade para quem quer fazer disso uma profissão.

Seja para videogame, computador ou celular, um jogo passa por diversas etapas do projeto inicial até chegar ao consumidor final. E, em cada uma dessas fases, profissionais especializados são requisitados. Roger Sodré, por exemplo, está abrindo uma empresa, a Studio Avante, para cuidar especificamente de programação e modelagem. Ele, que até poucos meses lidava com jogos apenas por hobby, deixou de lado um emprego estável e bem remunerado programando sites corporativos e decidiu se dedicar integralmente ao que realmente gosta.

Interessado em computadores e jogos desde criança, Roger fez seu primeiro curso de programação aos 14 anos e estudou Ciências da Computação. “Me formei em 96, e naquela época não havia cursos universitários específicos de games. Se houvesse, com certeza teria feito”, diz. Foi aproveitando o conhecimento que já tinha e analisando os jogos que comprava que ele acabou fazendo suas primeiras experiências na área, como cenários para Counter Strike que mostravam o Rio de Janeiro, e que tiveram grande repercussão.

Cursos

Diferentemente da década de 90, no entanto, várias instituições já oferecem cursos para quem quer trabalhar com games. É possível estudar desde modelagem para cenários e personagens (em um curso livre da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro) à modelagem em 3D e desenvolvimento de jogos em Flash (no Senac, em várias unidades) até a criação de jogos para iPhone (em um curso livre da Impacta, em São Paulo).

Existem ainda cursos superiores, como os da Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, da Unisinos, em São Leopoldo (RS), e da Infórium, em Belo Horizonte. Em São Paulo, além da Unicsul e PUC, outra opção é o curso de Design e Planejamento de Games, da Anhembi-Morumbi.

Um dos professores deste último, Alexandre Machado, explica que, por ter ênfase no design, ali a programação é apenas introduzida, e o foco é maior para roteiro, lógica e arte. Mas ele ressalta que, por ser um trabalho multidisciplinar, é essencial que haja profissionais especializados para cada etapa: “Um programador precisa ter uma base sólida de conhecimento de ciência da comunicação. Um artista precisa ter o conhecimento de história da arte, fundamentos de design, teoria da cor etc”.

Olavo Ekman, do estúdio BijaRi, concorda que é realmente importante bastante informação e conhecimento. “Muitas vezes a arte precisa se adequar às especificações técnicas, a possibilidade da plataforma em que o jogo vai rodar de exibir as cores, efeitos ou geometria, por exemplo. Quando pensamos na criação de jogos para consoles de última geração, vemos que as possibilidades atuais são quase ilimitadas, chegamos perto do hiper-realismo”, diz.

Também interessado por games desde a infância, Olavo é um ex-jogador de Atari que, em sua tese de graduação, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, criou o edifício da própria faculdade dentro de um jogo 3D, mostrando que era possível fazer realidade virtual a um custo muito baixo, e integrando os jogos ao trabalho de projeção e arquitetura.

Hoje, como sócio-fundador do estúdio BijaRi, está envolvido na produção de seu primeiro jogo, junto com a produtora Redalgo. “Operação Cosmos” (foto), agora em fase de finalização e pode ser visto no site da Redalgo, tem um caráter educativo e será vendido a escolas, com manuais para que os professores acompanhem os alunos e abordem os temas nas aulas. “É um jogo de ficção científica, baseado num conto do físico Marcelo Gleiser, que também é consultor científico do projeto”, explica.

iPhone e desenhos

Exemplo de que o mercado de games se diversifica a cada dia, Roger Sodré desenvolve agora um projeto completamente novo. Há quase três meses ele trabalha em seu primeiro jogo exclusivo para iPhone, um game de estratégia e raciocínio. Roger explica que a própria Apple deverá vender o aplicativo, em sua loja virtual, para o mundo todo. “A Apple restringe as aplicações que serão associadas ao iPhone, até para manter um padrão de qualidade e evitar a pirataria. A Studio Avante já está com toda a documentação encaminhada e em breve estaremos vendendo o jogo com a chancela oficial deles”.

Já Alexandre Machado, além de professor, é também o diretor da 44Toons, uma divisão do estúdio 44 Bico Largo especializada em desenhos animados. “Temos trabalhado atualmente no desenvolvimento de projetos multiplataforma”, explica ele, que já produziu jogos para publicidade e para internet.

Futuro

O mercado é bastante promissor para quem trabalha com games, especialmente porque não se restringe ao Brasil. Como Roger lembra, há muitos brasileiros que desenvolvem trabalhos sob encomenda para estúdios e produtoras de outros países, sem sequer precisar viajar.

Mas aqui também as perspectivas são animadoras. Alexandre Machado diz que o número de empresas brasileiras de games está em expansão, a maioria criando conteúdo para celulares e internet. Mesmo Olavo Ekman, que, ainda às voltas com seu primeiro jogo, diz não estar familiarizado totalmente com o mercado, já percebe que há lugar para muita gente. “Mas para sobreviver nele eu vejo que os profissionais devem se dedicar com paixão, e acima de tudo gostarem muito de jogos”, opina.

Conheça alguns cursos disponíveis:

Graduação

Anhembi-Morumbi – Design de Games

PUC SP – Jogos Digitais

Unicsul (SP) – Jogos Digitais

Infórium (Belo Horizonte, MG) – Jogos Eletrônicos

Unisinos (São Leopoldo, RS)

Jogos Digitais – Arte e Design e Desenvolvimento de Software para Entretenimentos Digitais (RJ)

Pós-graduação

Universidade Veiga Almeida (RJ)

Cursos técnicos e livres

Polibentinho – Design e Projeto de Games (SP)

Technology and Training – Instituto de Tecnologia de Games (RJ)

Azimut (SP)

Senac-SP

Alpha Channel (SP)

Impacta Tecnologia(SP)

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Mercado de games é diversificado e promissor

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