(Por Camilo Rocha) O Brasil e o mundo ficaram em estado de choque na semana que passou com o caso da modelo Mariana Bridi. Assim como acontece com milhões de mulheres a todo momento, a modelo capixaba contraiu uma infecção urinária. Só que, ao contrário da maioria, o desfecho foi horripilante.

Em poucos dias, a infecção se espalhou pelo corpo da modelo, que teve pés e mãos amputados, por estarem totalmente necrosados. Dois dias depois, ela morreu.

Casos extremos de infecção generalizada como esse criam muitas dúvidas na cabeça das pessoas. Como isso pode acontecer? Poderia acontecer comigo? Como se prevenir?

O Virgula conversou com dois infectologistas para clarear o assunto.

O dr. Luis Fernando Waib é formado pela Unicamp, com especialização em Infectologia pela UNICAMP (99) e Mestrado em Clínica Médica pela UNICAMP (2002). Também é pós-graduado em Gestão do Controle de Infecção Hospitalar (2008), trabalhando há 10 anos na área de Controle de Infecção Hospitalar e Infectologia. Ele hoje faz parte da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Limeira/SP.

Já o dr. Ricardo Sobhie é Professor Adjunto da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Tem mestrado e doutorado em Infectologia na UNIFESP e pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, é livre-docente da UNIFESP.

Pelo que o senhor conhece do caso da modelo Mariana Bridi, dá pra dizer que, em algum momento, houve negligência que teria levado à infecção?

Dr. Luis Não é possível afirmar que houve negligência sem analisar os dados clínicos e todo o histórico do caso. As informações noticiadas na imprensa são absolutamente insuficientes.

Dr. Ricardo Não parece ter havido nenhum tipo de negligencia. O que foi noticiado, entretanto, é que a Mariana teve um quadro de infecção urinária que aparentemente foi tratado e não melhorou. Quando ela procurou novamente o serviço médico, a infecção ficou difícil de ser controlada.

O que deve se saber é que infecção urinária é muito freqüente em mulheres. A maior parte destas infecções urinárias é chamada de infecção urinária baixa, ou seja, compromete somente a bexiga, não chegando até os rins.

A infecção urinária que compromete os rins (alta) é uma infecção grave e a maior causa de infecções disseminadas (sepse) que ocorre fora do ambiente hospitalar.

A infecção disseminada é quando as bactérias e seus produtos caem na circulação sanguinea e nestes casos, o risco de morte é alto. Quando existem pedras nos rins, como no caso da Mariana, a infecção urinária é normalmente alta.

O que se sabe sobre essa bactéria que ela pegou?

Dr. Luis A bactéria noticiada pela imprensa é a Pseudomonas aeruginosa. É bastante comum em ambiente hospitalar e tem uma série de mecanismos de resistência a diversas classes de antibióticos. No entanto, é possível encontrar Pseudomonas aeruginosa em praticamente qualquer ambiente com umidade, mas geralmente estas não criam resistência aos antibióticos, pois não têm contato com eles.

Dr. Ricardo As infecções são causadas por bactérias que estão no nosso corpo, colonizando as mucosas e pele. As bactérias que causam infecções graves nos hospitais, normalmente aparecem porque as bactérias do corpo humano desapareceram do local de origem, geralmente porque foram usados antibióticos. Apesar de importantes para o tratamento de infecção, os antibióticos são antiecológicos para o nosso organismo e deveriam ser utilizados estritamente quando necessário e a partir de um julgamento médico.

Dá para se prevenir contra infecção hospitalar? Ou é uma questão de sorte ou azar.

Dr. Luis Existem várias medidas para prevenção de infecções hospitalares. Ao adotarmos todas as medidas preventivas, minimizamos o risco para o paciente internado – mas devemos lembrar sempre que risco zero (ou taxa zero de infecção) não existe.

Dr. Ricardo As infecções hospitalares normalmente não acontecem em pessoas saudáveis que passam esporadicamente pelo hospital. Aparece em pessoas internadas e debilitadas que tem predisposição para terem infecção naquele momento e que estão principalmente usando antibióticos. Para as pessoas normais que passam ocasionalmente e visitam hospitais, é boa prática não tocar desnecessariamente as superfícies do hospital ou levar a mão ao nariz e a boca.

Quais os tipos de infecção (contraídas dentro ou fora de um hospital) mais comuns?

Dr. Luis As infecções hospitalares mais comuns são as infecções urinárias, as pneumonias, as infecções da corrente sanguínea (sepse) e as infecções cirúrgicas.

Dr. Ricardo As infecções por bactérias mais comuns adquiridas fora do hospital são do intestino, causando diarréia ou da urina em mulheres. No hospital, as infecções freqüentes são do pulmão, urina e ferida cirúrgica.

Qual a probabilidade de uma infecção urinária dar em morte, como no caso da modelo Mariana? O que as pessoas devem fazer ao verem q estão com infecção urinária?

Dr. Luis A mortalidade associada a infecções urinárias comunitárias não é alta, porque normalmente as infecções urinárias que trazem risco são também dolorosas e febris. Como é um quadro que chama a atenção e faz o portador procurar ajuda, é incomum que uma infecção urinária passe sem tratamento. Entretanto, pessoas com sensibilidade diminuida à dor, como paraplégicos, diabéticos, pacientes com demência, idosos podem ter quadros graves antes de perceber o problema ou conseguir pedir ajuda. Uma situação em especial pode preocupar pessoas fora destas condições: cada vez mais vemos casos de infecções comunitárias causadas por bactérias resistentes a antibióticos.

Deste modo, toda suspeita de infecção urinária deve resultar em um exame completo de urina com cultura antes do início do tratamento (o tratamento pode iniciar após a coleta, não necessariamente aguarda-se o resultado).

Dr. Ricardo Como mencionei anteriormente, a infecção urinaria alta, também chamada de pielonefrite aguda, que é a infecção que compromete os rins, é a principal causa de sepse (infecção disseminada) adquiridas fora do hospital. A sepse é a infecção que tem os maiores índices de mortalidade. Um sinal de que a pessoa está com infecção urinária e a dor e ardência para urinar, principalmente no final da urina. Se isto vier acompanhado de febre, tremor e calafrios e do lombar, pode se tratar de peilonefrite e o caso necessita de mais atenção, eventualmente com tratamento com antibióticos na veia e internação hospitalar. Atenção especial deve ser dada a pessoas com pedras nos rins ou má formações nas vias urinárias.

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Médicos tiram dúvidas sobre infecção hospitalar