A Acadêmicos do Grande Rio, escola de samba de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, escolheu a cidade de Maricá, que completa 200 anos em 2014, como tema de seu desfile este ano na Sapucaí. E aproveitou para homenagear também a cantora Maysa (1936-1977), que nos anos 70 teve uma casa no município. A letra do samba-enredo “Verdes olhos sobre o mar, no caminho: Maricá”, de autoria dos compositores Deré, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Hugo e Toni Vietnã, exalta as belezas naturais da cidade da Região dos Lagos. São 46 quilômetros de litoral: “o mar quando quebra na areia, desliza na beira da praia / Ao som do piano, poesia no papel, Maysa compondo, estrela no céu”.

“A ideia de buscar uma escola para cantar Maricá surgiu porque queremos mostrar ao mundo as belezas da nossa cidade. O Carnaval é um das festas mais assistidas no planeta”, explica o secretário municipal de Turismo, Amaury Vicente. A Prefeitura entrou com R$ 3 milhões de patrocínio, e a Grande Rio, colorida de vermelho e branco, promete um desfile cheio de surpresas, sob a batuta do carnavalesco Fábio Henrique. Maysa, Oscar Niemeyer, João Saldanha, Darcy Ribeiro, Charles Darwin… todos estarão presentes. Maysa morou na cidade entre 1972 e 1977, quando morreu em um acidente de carro enquanto voltava do Rio para casa, na Praia de Cordeirinho. Embora tenha vivido parte deste tempo mergulhada em uma depressão, na época, Maysa escreveu em seu diário: “Só fui feliz em Maricá”. Hoje tem até uma avenida batizada com seu nome. No desfile, ela será fio condutor do enredo, para orgulho do filho da cantora, o diretor de novelas e cineasta Jayme Monjardim.

Maricá também foi refúgio do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1977), cuja belíssima casa ainda está de pé, embora fechada para visitações. E o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), como Darcy, fazia deste litoral seu lugar de veraneio. “O que Maricá tem de mais bonito e atraente, e que atraiu todos estes personagens para cá, é sua beleza natural. São lagoas, montanhas, cachoeiras…”, exalta o secretário de Turismo. A história mais antiga sobre o surgimento da cidade inclui a crença de que o padre José de Anchieta teria feito um milagre para salvar a vida dos moradores locais, à beira da morte porque as águas das lagoas da região estavam secas. Numa das lagoas, acreditam os fiéis, Anchieta fez uma oração e tudo voltou ao normal. Sobretudo, a rotina dos pescadores, retratados também no samba: “Joga a rede, pescador, quero ver multiplicar / Joga a rede, pescador, o milagre vem de lá”.

Além dessa passagem importante da história, e de falar da religiosidade do povo local, de Maysa e outros personagens, a escola vai levar Charles Darwin para a Avenida. O autor da Teoria da Evolução das Espécies passou por ali em 1832, onde esteve hospedado durante sete dias. E foi justamente em Maricá que o cientista pela primeira vez observou de perto a Mata Atlântica. O fato é desconhecido por muitos e deve surpreender a plateia no Carnaval. Cercada de propriedades rurais desde aquele tempo, Maricá, hoje com cerca de 130 mil habitantes, ainda conserva chácaras e fazendas com farta riqueza histórica.

Sob a regência de Mestre Ciça, a bateria da Grande Rio não deve poupar energia para contar este enredo, a exemplo de seu desempenho nos últimos anos. Os nomes das fantasias, inspiradas em momentos históricos e símbolos, jogam alguma luz sobre como será o desfile: “Doação das Sesmarias”, “Índios Guaranis”, “Fiéis”, “Cartas Náuticas”, “Turistas e Banhistas”. No dia 2 de fevereiro, a população local vai ver a escola desfilar pelas ruas de Maricá, com todos os seus integrantes, e cantar ao vivo o samba-enredo, enquanto espera o grande dia do desfile.


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Maricá completa 200 anos e é enredo da Grande Rio em 2014

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