Desde o colapso do Terceiro Reich em abril de 1945, um espectro sempre assombrou o Ocidente: o medo do ressurgimento do nazismo. Mesmo com o fim do terror naquele momento, especialmente na Europa e América do Norte, persistiram inquietações sobre nazistas fanáticos retornarem ao poder e, ainda hoje, há esse temor, considerando-se os movimentos de direitas autoritárias e a ascensão do nacionalismo e populismo políticos em décadas mais recentes.
Para debater essas dúvidas e a possiblidade de algo que nunca existiu de fato, o professor de história norte-americano de origem judaica e especialista no tema, Gavriel D. Rosenfeld, escreveu O Quarto Reich, lançamento da editora Cultrix. Em sua obra de estreia no mercado brasileiro – Gavriel escreveu diversos livros sobre o Terceiro Reich e ganhou o Sybil Halpern Milton Memorial Book Prize – ele faz uma análise profunda sobre o conceito do Quarto Reich, sob a perspectiva da história contrafactual (aquela que não aconteceu, mas podia ter acontecido), e explica como esses medos, que nunca nos deixaram, relacionam-se com as questões políticas, sociais, culturais e intelectuais do Ocidente.
Na obra, o autor examina a evolução deste temor em uma abordagem cronológica e temática. Por isso, é divido em duas partes: a primeira esmiúça as origens do Quatro Reich, nos anos 1930, passando pela Segunda Guerra e chegando ao fim da década de 1950. Já em sua segunda metade, Gavriel investiga o que aconteceu a partir da década de 1960 até os dias atuais. Sua vasta pesquisa reúne diversas fontes – discursos políticos, recortes de jornal, trechos de filmes e até histórias em quadrinhos da Marvel.
O livro aborda, ainda, a universalização da expressão “Quarto Reich” por parte de radicais de direita, sua transformação em fonte de entretenimento e cultura pop nos anos 1970 e 1980, já que a ideia de um Reich renovado esteve muito presente em romances e filmes como O Dossiê de Odessa e, até histórias da série de TV Mulher Maravilha, passando por quadrinhos como Batman e Capitão América. Além disso, destaca sua adoção posteriormente, nos anos 2000, por populistas autoritários e neonazistas que procuravam atacar a União Europeia, entre outros.
“Os historiadores estão familiarizados com todos esses movimentos e os têm examinado em diferentes graus, no entanto, têm negligenciado seus laços com a ideia do Quarto Reich. O descuido é surpreendente, dada a frequente evocação desta ideia tanto por seus partidários quanto seus oponentes(…) empregar um raciocínio contrafactual e examinar cenários em que a história poderia ter sido diferente, ajuda a encaminhar essa questão importante”, diz o autor.
“O Quarto Reich” foi escrito com rigor de pesquisa acadêmica para quem gosta de história, ciências sociais e humanas, além de política. As mais de quinhentas páginas são um prato cheio para quem deseja entender a real ameaça que o extremismo político e o que os discursos de ódio podem trazer para o planeta.