(Por Lele Siedschlag) A refilmagem de O Menino da Porteira vai surpreender dois públicos: aquele que acha que o filme pode ser um novo Dois Filhos de Francisco e aquele que acha que um filme com o Daniel como protagonista vai ser uma verdadeira bomba de tão ruim. Bom, o filme realmente poderia se encaixar em uma das duas descrições mas não se enquadra em nenhuma.

O Menino da Porteira é um remake (30 anos depois) do mesmo diretor do original, Jeremias Moreira. A primeira versão do filme tinha Sérgio Reis no papel que hoje é de Daniel – o do boiadeiro Diogo. E não, Daniel não decepciona como ator – ele é apenas… Daniel. Como a própria abertura do filme sugere, aliás. Ele é apresentado como "Daniel", assim, só um nome, sem sobrenome. A figura do Daniel cantor/celebridade, desta forma, já se mistura à do Daniel ator mesmo antes de o filme começar.

Mas por que Daniel não decepciona como ator? Talvez porque ele seja um bom ator, mas também talvez porque não se exija muito dele. Daniel está longe de ser o protagonista do filme, como se deveria supor. José de Abreu está lá, como o Major Batista, dando um banho de vilania sobre o elenco todo junto. De arrepiar.

A história é relativamente simples: o boiadeiro Diogo é chamado para trazer uma boiada para o Major Batista, na fazenda Ouro Fino. Uma noite antes de entregar os bois, ele e seus companheiros pousam em um sítio vizinho, o Remanso, onde moram Otacílio Mendes, sua esposa e seu filho pequeno, Rodrigo. Rodrigo desenvolve, durante o filme, uma relação filho-pai com Diogo, e esse é o fio condutor da trama.

Acontece que o Major controla o gado de todos os sítios do entorno. Otacílio, então, tem uma idéia: a de que os sitiantes vendam o gado direto para o frigorífico, livrando-se, assim, da intermediação do Major – e ganhando mais dinheiro. Está tudo pronto para a empreitada, e Diogo é escolhido como o boiadeiro que vai fazer este serviço: juntar o gado de todos os sítios e levar para o frigorífico. Quando o Major descobre os planos, se enche de raiva e tenta de todas as formas acabar com a história, custe o que custar.

Tramas paralelas tornam o filme desconexo e confuso

Apesar de simples, o enredo não funciona, porque por alguma razão o filme é cheio de histórias paralelas mal amarradas: um romance que nem chega a acontecer entre a filha do Major, Juliana (Vanessa Giácomo, linda) e Diogo, o conflito entre Juliana e o Major – ela chega a dizer para ele que ele não é seu pai, e o espectador espera que isto seja esclarecido mais tarde no filme, o que não acontece –, umas cenas soltas e mal exploradas entre Filoca e Zé Coqueiro (os maravilhosos Rosi Campos e Antônio Edson) – em que ela interpreta uma solteirona desesperada por uma noitezinha de amor com ele.

Outro problema do filme é que o diretor faz questão de colocar humor no filme, mas não se decide entre o humor natural/sarcástico e o pastelão. Ele poderia se contentar com a espontaneidade de Zé Coqueiro e Filoca, que fazem a platéia explodir em riso mesmo no meio de uma cena dramática, ou mesmo com Major Batista, que, de tão vilão e rabugento, chega a ser muito engraçado no meio de seus atos cruéis. Mas pesa a mão ao tentar encaixar na trama de um jeito forçado o personagem de Edu Chagas, Chico Fu, que irrompe em meio ao filme de uma forma caricata e exagerada, cujo timing e estilo lembram os filmes atuais de Renato Aragão. Não precisava.

A impressão que dá é que o filme tinha pelo menos mais uma hora de duração, e que, com a edição, várias histórias acabaram com as pontas soltas. Certamente se o diretor tivesse optado por se concentrar no drama (afinal, é o tipo de história a que se propõe), o resultado teria sido um filme simples, conciso, plasticamente bonito e com boas atuações, pontuadas, vez em quando, com umas tiradas engraçadas, aqui e ali. Teria sido perfeito.

O público sai do cinema se perguntando para quem, afinal, o filme é dirigido. Para os fãs de Daniel (por isso a escolha do cantor)? Para crianças (por isso a necessidade histriônica de se encaixar esquetezinhos cômicos em meio a todo o drama)? Para os fãs da cultura sertaneja (para eles, música "de raiz" e muita moda de viola)? Tudo junto e misturado, talvez. E por isso O Menino da Porteira não é Dois Filhos de Francisco: quando se quer atingir todo mundo, corre-se o risco de não se atingir ninguém.

Ficha Técnica

O Menino da Porteira

Lançamento: março/2009

Distribuição: Sony Pictures

Direção: Jeremias Moreira

Elenco: Daniel, José de Abreu, Rosi Campos, Vanessa Giácomo, João Pedro Carvalho, Eucir de Souza, Antonio Edson, Edu Chagas, Valter Santos

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José de Abreu como vilão salva filme confuso e eclético

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