(Por Daniel Carmona) "É uma Índia real, mas é como retratar a sociedade da Barra da Tijuca e de Copacabana como se elas fossem o reflexo do Brasil e ignorar a existência dos morros, por exemplo", disse o jovem indiano Dhaval Chadha, 22 anos, que há um ano e meio mora no Brasil. Como tantos outros indianos que vivem no país, se diz orgulhoso ao ver a cultura da Índia retratada em horário nobre na televisão brasileira. Mas é bastante crítico quando o assunto é a fidelidade da ficção assinada por Glória Perez.
Caminho das Índias não é diferente de outras novelas globais. Apesar de uma certa expectativa de que ela pudesse aprofundar certos temas de uma cultura pouco conhecida no Brasil, a história se passa em cenários idealmente arquitetados para as gravações. Numa mesma cena, os personagens vão de Varanasi a Jaipur, cidades que estão a centenas de quilômetros de distância. Essa fusão é comum em televisão, mas deixa o telespectador desinformado quanto aos fatos do país.
Exageros
"Eles escolheram uma parte da Índia muito bonita, muito colorida, muito cultural e turística. O que é interessante para mostrar o lado bom do país, mas eles exageram por só mostrarem coisas boas", pondera Chadha.
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ele lamenta a inexistência de um tratamento mais aprofundado sobre o conceito do país e o hinduísmo. "A Índia foi unificada há milênios pelos persas. Mas os ingleses foram os responsáveis pela unificação política atual. Mesmo assim, é fragmentada em diversas regiões de culturas muito diferentes", diz.
Chadha explica que é comum as pessoas verem a Índia como um território unificado, mas esta é uma visão equivocada. "A novela também mostra isso. Não mostra as milhares de diferenças culturais entre regiões e povos. Ela também mostra o hinduísmo como algo planificado. Mas não é assim. Em primeiro lugar, o hinduísmo é um rótulo dado por estrangeiros ao conjunto cultural e filosófico do país. Mas, na Índia, hinduísmo mesmo não existe, o que existem são diferentes filosofias que variam de acordo com a religião e com a concepção de vida de cada indivíduo", explica.
"Só vou ver os primeiros capítulos, depois fica tudo igual"
O indiano Aman Rathie, 24 anos, há mais de duas décadas no Brasil, conhece bem as novelas da Globo. Antes de iniciar a trama, ele disse que pretendia acompanhar os primeiros capítulos, porque "depois fica tudo igual.
Rathie acredita que seja importante a exibição da novela para que os brasileiros tenham uma noção básica e geral sobre o país, mas, desde o início, não acha possível esclarecer detalhes da cultura.
"Eles passaram bem as questões de valores familiares, castas, casamento e alguns costumes, mas é claro que em alguns casos deixaram de explicar. Não é o foco da novela mesmo", disse.
Sua maior crítica é direcionada ao tratamento de castas dado pela novela. Segundo ele, há um sensacionalismo na questão. "Pode passar essa impressão de que toda a sociedade é dividida e que essa cultura é seguida à risca, o que não é verdade. Tem famílias que não se importam, e na verdade todo esse sistema de castas está diminuindo, aos poucos é claro", esclarece.
Aman também acha curiosa a utilização de expressões em hindi (a língua oficial da Índia) nos diálogos entre os personagens. "É engraçado ver frases em hindi soltas na novela. Algumas não se encaixam no contexto e acabam ficando um pouco forçadas. Seria como fazer uma novela em Minas Gerais com os personagens falando "uai sô" ao final de qualquer frase".
Opinião à brasileira
Juliana Thapliyal é brasileira e casada com indiano. Viveu dois anos na Índia e voltou recentemente ao Brasil. Antes disso, foi consultada por Glória Perez quando a escritora visitou a Índia. Juliana ressalta que a novela tem retratado bem aspectos como a seriedade nas relações familiares "Eles ouvem muito os mais velhos. Isso está sendo muito bem retratado e é o principal ponto".
Mais ponderada, a brasileira acredita que, apesar das limitações de uma novela, o retrato cultural está sendo bem feito. Mesmo assim, algumas características da cultura popular não foram sequer abordadas na trama. Ela diz que "não dá pra mostrar tudo em poucos meses. Mesmo assim, a parte da família e das castas estão sendo bem retratadas". Mas a sugestão de Juliana à Gloria Perez é que mostre a paixão dos indianos pelos filmes de Bollywood (a indústria cinematográfica do país) e pelo críquete, esporte mais popular do país.
Assim como Dhaval Chadha, a brasileira concorda que Caminhos das Índias é gravada em locais turísticos, mas pondera que é justamente essa a imagem do país para o mundo. "De paisagens maravilhosas, tudo muito zen, tudo muito lindo".
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