No Brasil, desde 2019 o número de adolescentes que se tornaram mãe diminuiu cerca de 18%, de acordo com levantamento do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Governo Federal. Apesar da queda, 380 mil nascimentos de filhos de meninas de até 19 anos, em 2020, correspondem a 14% de todos os partos no Brasil1.
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A Dra Talita Poli Biason, diretora médica associada da área de Saúde Feminina da Organon, lembra que, além dos problemas de saúde pública, as consequências psicológicas que uma gestação na adolescência pode causar também é motivo de preocupação.
“A adolescência é a fase de transição da infância para a vida adulta, um período repleto de transformações físicas e psíquicas, que passa por questões que são de extrema importância para formação da individualidade, como a busca por independência psicológica dos pais e pela própria identidade. Uma gestação nesse momento reduz a possibilidade de uma adolescente passar plenamente por essa etapa da vida. Ter que lidar ao mesmo tempo com adolescência, com as questões que são inerentes a ela, e com maternidade é um desgaste psicológico bastante complexo”, explica a hebiatra, acrescentando que pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência vai de 10 a 19 anos e que as consequências emocionais são mais intensas quando a gravidez ocorre até os 14 anos.
De acordo com a especialista, é imprescindível que a gestante adolescente tenha acompanhamento psicológico durante a sua gravidez para que ela consiga lidar bem com esta fase e não passe por dificuldades de adaptação social, que pode ocasionar um isolamento espontâneo dos amigos por vergonha de ser a única grávida entre eles, ou problemas mais graves como ansiedade e depressão. “Se esta menina não tiver ferramentas que a ajudem a minimizar as consequências desta gravidez não planejada, isso poderá influenciar na relação dela com a criança, na decisão de querer ter outro filho no futuro e até de carregar a depressão para a vida adulta”, afirma Talita Poli.
Além dos danos emocionais, há também os riscos para a saúde. De acordo com a OMS, adolescentes grávidas de 10 a 19 anos enfrentam mais riscos de eclampsia, endometrite puerperal e infecções sistêmicas do que mulheres de 20 a 24 anos. A entidade ainda revela que as complicações na gestação e no parto são a principal causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos em todo o mundo.
Para combater essas estatísticas, Talita acredita que um modo eficiente é o compartilhamento de informação qualificada. “É papel de todos nós orientar as meninas adequadamente, falando profundamente sobre as opções de métodos contraceptivos. Não adianta acharmos que elas estarão informadas por conta de um cartaz na parede. A informação tem que estar disponível em todos os canais que os adolescentes acessam e ser discutida de forma ampla e profunda”, conclui.