(Por Sarah Corrêa) – “A sustentabilidade já deixou de ser um simples meio de marketing verde nas empresas. Hoje, ela é um dos principais requisitos para garantir a continuidade das atividades empresarias, num quadro onde quem não seguir o padrão ‘ecologicamente correto’ estará fora do mundo dos negócios”, reconhece Rafael Mukai, 22, estudante do 4º ano do curso de Gestão Ambiental, da USP Leste.

A afirmação de Mukai sintetiza com clareza o peso da responsabilidade ambiental que as empresas vêm reconhecendo há algum tempo. A relação do homem com o meio ambiente nunca foi tão discutida como nos últimos 20 anos. Desde 1992, quando os principais países do mundo resolveram decidir os rumos da poluição causada pelo desenvolvimento humano, na Rio 92 , palavras como aquecimento global, efeito estufa e sustentabilidade entraram na pauta das corporações e nas atividades diárias de qualquer pessoa.

Com isso, surgiu a necessidade de ter profissionais que atendessem às novas prioridades empresariais. “Como as pessoas estão cada vez mais se dando conta da importância da responsabilidade socioambiental, a procura por profissionais capacitados na área é cada vez maior”, explica Naiana Arruda, Coordenadora Técnica da UNILIVRE (Universidade Livre do Meio Ambiente), em Curitiba.

Pensando nesta tendência, a Unilivre se tornou pioneira em cursos na área ambiental no país. Inaugurada em junho de 1992, na gestão do então prefeito Jaime Lerner, a universidade não se encaixa nos padrões tradicionais de ensino, pois leva o título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

Assim, a instituição trabalha com cursos de duração de curto prazo – palestras, projetos, consultorias –, focando também na educação ambiental da população. A maioria dessas iniciativas é gratuita, no caso de fazerem parte de algum termo de parceria firmado com outras instituições. “Mas quando não estão dentro dos planos de trabalhos de nossas parcerias, existe um valor de investimento para cobrir custos institucionais”, explica Naiana.

O mercado de trabalho pede o “verde”

O estudante Mukai, citado no início deste texto, resume um pouco a cara desse novo mercado de trabalho. Nos últimos anos, quem quisesse seguir a área de especialista em segurança do meio ambiente ou consultor em desenvolvimento sustentável, por exemplo, tinha que ter a graduação em Biologia, Engenharia Florestal ou Administração de Empresas. Depois partia para a especialização. Hoje, as atividades mais específicas que envolvem o meio-ambiente migraram para a área de Gestão Ambiental.

“A necessidade de profissionais desta área já existe há algum tempo, na verdade. Na USP, por exemplo, primeiro foi testada a pós-graduação voltada para a Gestão Ambiental. Como havia muito assunto, então criou-se a graduação”, pontua Mayra Fraggiacomo, consultora de carreiras do Grupo Catho.

E neste novo cenário, as exigências aumentaram. “O profissional de gestão é muito mais do que um administrador. Ele deve ter a habilidade multidisciplinar, que é exigida pelo mercado. Na faculdade, ele absorve conteúdos das três áreas: biológicas, exatas e humanas. É bem mais completo”, analisa Mayra.

O ambiente acadêmico, vivenciado pelo estudante Mukai, vai de encontro a opinião da especialista em mercado. “Desde o começo do curso tive aulas das mais diversas disciplinas, abordando todas as áreas (exatas, biológicas e humanas). A faculdade, e não só o meu curso, prioriza a interdisciplinaridade, fundamental para qualquer gestor”, conta.

Além da graduação

Em São Paulo, somente a USP é voltada para uma graduação em Gestão Ambiental. Outras universidades dispõem de cursos com especialização na área, como no SENAC, onde é possível encontrar as opções de Bacharelado em Administração com Linha de Formação Específica em Gestão Ambiental, Tecnologia em Gestão Ambiental e Engenharia Ambiental.

A consultora Mayra lembra que é importante também “o profissional estar atento para as questões jurídicas da área, pois não basta apenas ter o embasamento teórico, tem que ter embasamento legal”. Nessa linha, a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) oferece a pós-graduação em Direito Ambiental e Gestão Estratégica da Sustentabilidade. Mas cursos deste tipo focam os já graduados.

Pretensão salarial

Tanto um estudante da área quanto uma especialista no mercado reconhecem que as ofertas salariais para um gestor ambiental não são as maiores, logo no início de carreira. Mayra sinaliza que, para um recém formado, o melhor seria optar pelo terceiro setor, as ONGs (organização não-governamental). “Falando em ambição profissional, o recém-formado tem que investir no 3º setor. Assim ele ganha bagagem para ingressar na iniciativa privada ou pública”.

Por outro lado, se esse jovem gestor quiser se arriscar no mercado, os salários variam de R$ 1,5 a R$ 2 mil. No início, as expectativas não são muito altas, mas o futuro é promissor. Segundo a consultora de carreiras da Catho, um Gerente Ambiental pode ganhar entre R$ 6,5 a R$ 7,5 mil. Já um Coordenador ou Supervisor Ambiental tem a média salarial de R$ 4 a R$ 5 mil. Porém, Mayra salienta: “Na hora de falar de média salarial, muitos pontos devem ser levados em consideração: porte da empresa, controle acionário, segmento”.

Na visão do estudante Rafael Mukai, que deve concluir seu curso ainda neste ano, sua profissão lhe trará bons frutos. “Como a oferta por especialistas nesta área é baixa, as grandes empresas estarão dispostas a pagar um bom salário para conquistarem esses profissionais”. E para ter a garantia de um bom salário, é preciso levar à prática as experiências acumuladas nos anos de faculdade.

“A ordem agora é colocar em prática tudo o que foi ensinado sempre com o objetivo de alcançar uma melhor gestão tanto de órgãos públicos e privados, onde a comunicação entre eles deve ser mantida para que o equilíbrio ambiental não seja desestabilizado”, finaliza.

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Gestão Ambiental: a profissão vai além do marketing verde

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