Gaby Amarantos
Créditos: Adriano Alves
Em um momento que retrata a busca incessante de muitas mulheres para se encaixar nos estereótipos de beleza impostos pela mídia, surgem figuras que fogem aos padrões e mostram que o oposto também tem seu lugar, como Gaby Amarantos. Dona de um estilo extravagante e com assumidos quilinhos a mais, a cantora nascida em Belém é a nova representação do brega, voz por trás do hit “Ex My Love” (música de abertura da novela Cheias de Charme) e tem autoestima de sobra. “Não sou o padrão de beleza imposto pelas revistas de moda, mas acho que represento muito mais a mulher brasileira”, disse em entrevista exclusiva ao Virgula Lifestyle.
Gaby acredita que a beleza está em se aceitar do jeito que é e valorizar aquilo que tem de mais bonito. “Isso é uma coisa que eu prego muito. Já passei por esse processo porque eu era mega deprimida, me achava gorda e feia. Hoje, me acho linda, gostosa, automaticamente passo isso para as pessoas e elas me veem dessa forma também”. Louca por moda e maquiagem, a cantora já desistiu de ser freira em nome da vaidade e garante: “moda é tão importante no meu trabalho quanto a música, elas caminham lado a lado”.
No mundinho da moda ela arrasta uma legião de fãs, marcou presença na plateia do último Fashion Rio e já virou ícone fashion, por usar roupas nada convencionais com muita personalidade. A cantora, que sempre foi expectadora dos desfiles e quis estar nesse meio, garante que estar ali, ser respeitada por vários nomes e ter e oportunidade de vestir figurinos de estilistas que respeita, é muito gratificante, mas questiona algumas coisas dessa indústria.
“Ela (a moda) dita coisas e existem pessoas que seguem aquilo à risca. Eu questiono: mas por que negra não pode usar batom vermelho tomate? Por que negra não pode pintar o cabelo de loiro? E por que que uma gordinha não pode usar uma roupa mais colada? Onde está o ‘eu me sinto bem com isso’? Chique é você conseguir ter personalidade para ser quem você é, sem se preocupar com o que as pessoas vão dizer”.
Gaby já usou roupas de André Lima, Walério Araújo, Vitor Dzenk, Ronaldo Fraga e lista outros nomes brasileiros que admira, entre eles, o também paraense Lino Villaventura. No entanto, seu “divo maior da moda” é o francês Thierry Mugler, o estilista queridinho de Beyoncé. “O que ele fez há 50 anos, se você usar hoje, vai ser moderno. Ele é incrível, é maravilhoso”, elogia a cantora.
Mesmo no dia a dia, Gaby também “é um acontecimento”, como brinca a própria cantora. Ela conta que pode até estar com uma roupa básica, mas sempre tem um toque chamativo, divertido ou brilhante, seja uma bota prata, uma boina de oncinha ou um batom laranja. “Isso é muito natural, desde criança… É muito da minha personalidade. É difícil para as pessoas entenderem por que todo mundo é muito básico, muito normal… Vamos pirar o cabeção, vamos ousar mais, gente!”.
No entanto, carregar esse estilo brega na música e na maneira de vestir não é fácil, principalmente quando se fala de uma artista negra, plus size e que vem de fora do eixo Rio/São Paulo, rótulos que ainda agregam muito preconceito no Brasil. A cantora diz que de fato, no início da carreira, essas características atrapalharam, mas precursores como Fernando Mendes, Odair José, Reginaldo Rossi e Waldick Soriano tornaram o caminho bem mais tranquilo. Ela acredita que hoje o país passa por um processo de abertura de mente em relação a isso e o segredo é tornar esses rótulos em grandes aliados ao sucesso. “Todas essas formas de preconceito eu lutei pra sempre reverter em coisa boa pra mim. Não tem muito “coitadismo” não, sabe? Tudo me agregou valor, me deu mais força para poder mostrar que meu trabalho tem qualidade”.
Gaby ainda destaca que para ela, brega mesmo é ter preconceito, pré-julgar uma coisa que nem conhece, e fala da confusão causada pela denominação “brega” e o quanto o adjetivo prejudicou o movimento musical de mesmo nome no país. “Já está na hora dessa palavra ter duplo sentido: o adjetivo que remete a coisas de mau gosto e o conceito musical que ela carrega. A música brega, o comportamento brega, a moda brega, não tem haver com o adjetivo em si. Tenho certeza que o povo brasileiro é totalmente capaz e inteligente para compreender isso”, explica. E para quem insiste em criticar, ela alfineta: “Brasil, você sempre ouviu brega! Vai dizer agora que não gosta? Se assuma!”.