Quando entrou pela primeira vez na Fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, no Vale do Café, a jornalista Liliana Rodriguez levou um susto: havia vacas e bezerros dentro da capela erguida quase 200 anos antes, além de ninhos de pássaros no telhado e até árvores já crescidas no interior da casa. Mas o cenário desolador não a impediu de levar a cabo uma restauração absolutamente meticulosa ao longo de dez anos. Com o apoio do governo federal, por meio de leis de incentivo, Liliana transformou a fazenda centenária que literalmente caía aos pedaços em um lugar de preservação da história do país, aberto a visitação pública. Hoje, renascida das cinzas, a São Luiz da Boa Sorte é um patrimônio de valor inestimável. “Sinto muito orgulho do resultado, mas durante o processo de restauração pensei muitas vezes em desistir. Eram muitas as dificuldades”, conta a jornalista.
Além de comandar a reforma, Liliana também se dedicou a pesquisar o passado da construção e da família a quem ela pertenceu. Tudo está devidamente registrado no livro “A Fazenda São Luiz da Boa Sorte e o Ciclo do Café”, da editora Senac, com fotografias de Cristiano Mascaro. Em meados do século 19, a propriedade de Paulo Gomes Ribeiro de Avellar já era uma das maiores produtoras de café da região; ele foi um dos primeiros a introduzir máquinas a vapor para o beneficiamento do café. Entre as passagens importantes da história da fazenda narradas no livro, está o que Liliana considera “o maior momento de glória”, em 1876, “quando recebeu a visita do Príncipe Luís Filipe de Orleans e Bragança, o Conde D’Eu. Para esta ocasião, a casa foi redecorada, tendo sido montado especialmente um quarto para o Conde”, registra a autora.
A missão auto-imposta por Liliana de restaurar as construções da fazenda não foi nada fácil. Pelo contrário. Além da absoluta degradação do conjunto arquitetônico, grande parte das esquadrias e serralheiras haviam sido retiradas, furtadas para serem vendidas no mercado de usados. A jornalista foi capaz de encontrar boa parte destes elementos, buscando nos ferros-velhos das cidades próximas, pesquisando entre os moradores antigos, até recuperá-los. “Foi um trabalho de formiguinha, mas conseguimos recuperar objetos importantes como uma placa de ferro, original, com a inscrição da Fazenda”, lembra.
Hoje, a principal atividade é a criação de gado leiteiro, e é possível até “brincar” com os animais logo na entrada do terreno. Casamentos na charmosa capela do terreno e visitas de alunos da rede municipal de ensino de Vassouras também são frequentes. Ao longo de 2013, mais de 5 mil crianças puderam passar o dia na fazenda, conhecendo a história do lugar e da região, e Liliana pretende ampliar ainda mais este número. “É emocionante ver como eles adoram o passeio. Outros municípios vizinhos também querem participar do programa e estamos estudando uma forma de trazer estes estudantes para cá”, garante.
Além da entrada e da visita guiada gratuitas, a Boa Sorte tem ainda um restaurante com vista para um belíssimo lago, onde se pode provar a típica culinária de fazenda do interior, com forte sotaque mineiro, no fogão de lenha. “É um programa para nunca mais se esquecer”, conclui Liliana.