A infância é a base para o desenvolvimento integral do ser humano, impactando desde a saúde física até a emocional. As vivências durante esse período, especialmente aquelas ligadas ao estresse, deixam marcas profundas que se estendem para a vida adulta. Pesquisas mostram que o ambiente e as interações na infância moldam tanto as nossas escolhas de vida quanto a forma como nosso corpo responde a elas, influenciando a saúde física e mental de forma significativa.
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Telma Abrahão, biomédica, especialista em neurociências e desenvolvimento infantil, e criadora da Educação Neuroconsciente, explica: “O cérebro infantil, ainda em formação, é extremamente sensível ao ambiente ao qual está exposto. O estresse crônico durante essa fase pode modificar a arquitetura cerebral, prejudicando áreas responsáveis pelo controle emocional, pela tomada de decisões e até pelo sistema imunológico”.
Esse fenômeno, conhecido como programação metabólica, refere-se à forma como o sistema nervoso é moldado pelas experiências vividas nos primeiros anos. O estresse precoce pode se manifestar ao longo da vida adulta como transtornos de ansiedade, depressão, doenças cardíacas, e até comportamentos nocivos, como sedentarismo e má alimentação.
Recentemente, Telma participou de um programa intensivo na Suécia focado na saúde metabólica e na influência das primeiras vivências sobre o corpo e a mente. A experiência incluiu práticas de jejum intermitente, exercícios físicos e convivência social, permitindo a observação de mudanças nos indicadores de saúde, como níveis de glicose e colesterol. “Foi incrível usar meu corpo como um laboratório vivo e comprovar como essas mudanças impactam diretamente a saúde, fortalecendo ainda mais o conhecimento que trago sobre os efeitos das experiências da infância”, diz Telma.
A constante exposição ao estresse durante a infância, como em situações de conflitos familiares ou negligência, afeta o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, responsável pela regulação do estresse no corpo. Esse desequilíbrio pode desencadear inflamações crônicas, elevando o risco de várias condições de saúde na vida adulta.
“Precisamos entender que as primeiras experiências não afetam apenas o desenvolvimento neurológico, mas também o sistema imunológico, influenciando diretamente a saúde geral do adulto”, afirma Telma. Crianças expostas ao estresse prolongado têm maior chance de desenvolver transtornos emocionais e doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
Os reflexos de um ambiente adverso vão além da saúde física e emocional, afetando também a capacidade de formar relações saudáveis. “As experiências traumáticas na infância podem comprometer a produção de ocitocina, o hormônio do bem-estar e da conexão social, tornando mais difícil estabelecer vínculos interpessoais saudáveis na vida adulta”, explica.
Ainda assim, mesmo em casos de infâncias marcadas por estresse, há esperança. Mudanças no estilo de vida, como adotar hábitos saudáveis, praticar exercícios físicos e cultivar relações de qualidade, podem reverter os impactos negativos dessas experiências.
A conscientização sobre os efeitos do estresse infantil é essencial para que pais, educadores e profissionais de saúde atuem preventivamente, garantindo um ambiente seguro e acolhedor para as crianças. “Quanto mais entendermos a relação entre o desenvolvimento infantil e a saúde do adulto, mais poderemos promover intervenções eficazes para uma vida equilibrada e saudável”, conclui Telma.
Telma Abrahão, biomédica, neurocientista e autora best-seller, é a criadora da Educação Neuroconsciente, dedicada a ajudar famílias a entender o impacto da infância na saúde e comportamento do adulto, promovendo a educação emocional e a prevenção de traumas.
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