***Por Fábio Steren
O que determina nossa produtividade? A quantidade de horas que desempenhamos em uma determinada tarefa ou a qualidade daquilo que está sendo feito? Não há um consenso sobre essa resposta, e muito vem sendo debatido sobre esse tema no mercado, especialmente com a proposta da semana de trabalho de quatro dias.
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Já é passada a hora de se equilibrar a balança do esforço versus resultados esperados – principalmente em meio a tantas mudanças que deixam mais do que claro que, não necessariamente, um profissional que fique horas excessivas em serviço trará resultados melhores do que aqueles que não seguem o mesmo padrão.
Apesar deste modelo já estar sendo amplamente discutido em outros países, no Brasil, ainda vemos que o assunto necessita ser melhor abordado em vista dos questionamentos sobre seus benefícios ou riscos de incorporação. Afinal, por aqui, muitas empresas parecem valorizar mais aqueles que se debruçam sob muitas horas de trabalho, associando esse empenho à conquista de ótimos resultados para a empresa.
É claro que em determinados negócios, como indústrias de ampla escala, essas jornadas mais definidas são realmente necessárias para que as demandas sejam atendidas. Mas, em muitas outras companhias, a flexibilidade de trabalho se mostra completamente benéfica para a maior produtividade e desempenho dos times – tendo sido, inclusive, um critério para profissionais que buscam uma vaga depois da pandemia.
Em um levantamento conduzido pelo LinkedIn, 78% dos profissionais brasileiros defendem que o período de isolamento social fez com que percebessem o desejo em trabalhar em companhias que permitissem essa maior flexibilidade. Dentre os motivos justificados para essa escolha, 49% buscam um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, junto com 40% que alegam este ser um fator essencial para manutenção de sua saúde mental.
Não há mais como prezar por um modelo de trabalho rígido em meio a essas claras necessidades. Em seu lugar, é preciso encontrar soluções vantajosas para ambas as partes, incorporando mudanças ao longo da jornada que nos deem maior espaço para encontrarmos nossas próprias formas de sermos produtivos nas tarefas e, ainda, nos tornarmos realmente satisfeitos em nossos empregos. Embora esse seja um novo modelo essencial, pode encontrar grandes pedras no caminho.
Legalmente, as próprias regras celetistas são empecilhos da flexibilidade no trabalho, determinando relações mais rígidas que devem ser revistas a fim de encontrar soluções que deem a liberdade de firmar contratos mais adaptáveis conforme o que for benéfico para a empresa e para seus times. Por parte do negócio, será preciso uma mudança cultural desde os maiores cargos, do CEO ou presidente, compreendendo a importância em estabelecer esse novo mindset organizacional e administrando essa transição gradualmente, sem que esse período traga qualquer prejuízo para nenhum dos envolvidos.
Ter esse olhar analítico internamente trará grandes conquistas para o destaque das empresas, principalmente em meio a um movimento crescente de profissionais brasileiros procurando por oportunidades remotas no exterior. Até porque, além de oferecerem essa flexibilidade, a obtenção de remuneração em uma moeda mais valorizada do que o real é um fator difícil de ser combatido pelas empresas nacionais.
O mercado se regula sempre conforme as necessidades e anseios dos clientes, trabalhadores e também das companhias. Por isso, após tantas mudanças ocasionadas pela pandemia elevando a preocupação com a qualidade de vida e saúde mental, entendemos que as empresas que se adaptarem a essa preocupação e estiverem abertas a adotar jornadas maleáveis e que permitam essa conciliação, certamente irão se sobressair em meio aos concorrentes e reter com mais facilidade os seus talentos. No final, pessoas felizes sempre entregarão melhores resultados.
Fábio Steren é sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.