Todo mundo conhece pelo menos um amigo que tem pais divorciados. As separações são cada vez mais comuns e com certeza não são o fim do mundo. Mas para cada pessoa, esta experiência acontece com uma intensidade e de uma forma diferente, principalmente para as crianças.
Foi por isso que a escritora egípcia Rania Naim, que vive nos Estados Unidos, usou sua história para contar em primeira pessoa as 10 maneiras que o divórcio dos pais a fez ser uma criança diferente. Dá uma olhada no que ela escreveu. Você concorda?
1) Somos almas velhas
Nós somos crianças com cabeça de adulto. É comum falarmos de problemas profundos que deveriam ser tratados num momento muito a frente da vida e também temos contato com sentimentos mais intensos do que outras crianças da mesma idade, por isso no playground às vezes parecemos mais estranhos do que divertidos. Percebemos cedo que não temos o espírito tranquilo, a vida descuidada e fácil que a idade deveria nos dar.
2) Temos criatividade
Somos criativos para encontrar maneiras de reconstruir o amor dos nossos pais na esperança de que eles voltem ou percebam o quanto precisam um do outro. Fingir uma gripe, fazer birra, dar trabalho na escola são táticas para envolver os dois no mesmo assunto. Somos especialistas em criar cenários para vê-los juntos e em inventar respostas para entender o motivo de terem se separado.
3) Não temos medo de falar
Querendo ou não, somos forçados a falar. Depois que foi envolvidos no dilema dos pais, você não tem mais o luxo de ser poupado e vai precisar falar quando eles lhe perguntarem de que lado esta no momento em que um deles arrumar um novo namorado, por exemplo. Aprendemos a achar nossa voz e a falar claro e honestamente.
4) Sempre queremos consertar o que está quebrado
Isso vem naturalmente. Não conseguimos deixar nada para trás a menos que tentemos muito consertar. Geralmente é nosso o papel do amigo que tenta contornar as brigas, o de ombro amigo dos colegas de trabalho e do apoio dos nossos pais. Não gostamos de ver as pessoas sozinhas ou tristes porque sabemos o que é ser negligenciado.
5) Tendemos a sabotar nossos relacionamentos
A verdade aqui é que nós simplesmente não sabemos como um bom relacionamento funciona. Nós estamos apenas tentando evitar repetir o mau exemplo, mas não temos uma boa referência para seguir. No fim, acabamos esperando demais do parceiro, exigimos isso quase o tempo todo e os testamos mais do que deveríamos. Sem falar que vivemos sempre com aquele medo de que da noite para o dia sejamos deixados de lado, por isso forçamos o nosso par ao limite para ter certeza de que ele aguenta ficar por perto.
6) Somos melancólicos
A melancolia provavelmente nunca mais irá embora. Você até aprende a deixá-la de lado, escondê-la, combatê-la por um tempo, mas ela vai voltar com mais frequência do que gostaria.
7) Não gostamos de dividir nossa dor
Nossa dor é tão natural que não entendemos como existem pessoas que conseguem dividir tão abertamente sua tristeza com os outros. Nós as invejamos porque deve ser muito bom ser capaz de tirar um pouco do peso dos ombros, mas não conseguimos fazer o mesmo porque simplesmente queremos dividir só alegria. Queremos ser felizes e ver as pessoas felizes. Quando compartilhamos as preocupações é apenas com os amigos mais próximos ou terapeutas e, mesmo assim, não sabemos como colocar tudo para fora e como falar sobre o assunto. No fundo, queremos que vocês entendam nossa tristeza sem tem que provar e explicar toda uma questão para isso.
8) Somos fortes
Desde cedo, aprendemos a lidar com certas dificuldades e a saber o que fazer em situações de total confusão. Somos acostumados com o constrangimento de situações estranhas, perguntas difíceis e olhares de piedade. Por isso podemos nos preocupar menos com o que os outros pensam e, às vezes, até ficar imunes a alguns tipos de decepções porque, afinal, já conhecemos a sensação.
9) Temos medo de ter filhos
Amamos crianças, queremos ter filhos, mas ficamos apavorados de talvez colocá-los nesta mesma situação. Não queremos que a história se repita, que eles tenham que dividir o tempo entre os pais e que tenham um tipo de casa e família que nunca tivemos. A pressão e o medo que estes sentimentos trazem nos faz pensar mil vezes antes de colocar uma criança no mundo.
10) Nunca paramos de esperar um milagre
Não importa quantos anos se passaram, nós mantemos a esperança de um dia acordar e nossos pais estarem juntos. Continuamos esperando mesmo sabendo que nunca vai acontecer. Não sabemos o motivo, mas sempre esperamos pelo jantar de família, pela viagem juntos e pelo porta-retrato completo.