O Brasil, terra de imensas fronteiras e com capacidade para assimilar outras culturas, é naturalmente receptivo para o Projeto Nocilla, acredita o escritor espanhol Agustín Fernández Mallo, o principal expoente da chamada Geração Nocilla.
“A recepção do Projeto Nocilla no Brasil ultrapassou todas minhas expectativas”, disse em entrevista exclusiva a Agência Efe o escritor, músico e físico de profissão, que desembarcou esta semana no Rio de Janeiro para participar da Festa Literária das Periferias (Flupp).
O romancista e poeta galego, nascido em La Coruña em 1967, considera um “luxo” e se diz “muito esperançoso” com a possibilidade de poder apresentar sua visão de mundo e sua obra na Flupp, que reúne escritores de vários países em favelas do Rio, com uma programação dirigida especialmente para os moradores das comunidades.
Fernández Mallo foi o impulsor em 2009 do Projeto Nocilla, um exercício de renovação literária que desaguou na trilogia Nocilla Dream, Nocilla Experience e Nocilla Lab, que foi premiada e muito bem avaliada pela crítica.
O escritor participará de um bate papo com o romancista brasileiro Reinaldo Moraes na sede da ONG AfroReggae, em Vigário Geral. Segundo ele, suas ideias se encaixam bem em um país como o Brasil.
“Em uma segunda leitura, o Brasil é uma terra de fronteiras e de miscigenação, com grande tradição de assimilação de outras culturas, e meus livros tratam em parte disso: o DNA criador que aparece nos lugares de fronteira”, explicou.
Fernández Mallo acrescentou que, na trilogia do Projeto Nocilla, “centenas de personagens de todo o planeta estão sutilmente conectados por fios poéticos, metáforas, e formam assim um mosaico contemporâneo”.
O escritor afirmou que o projeto “está estruturado como uma rede, e tem duas coisas que eu destaco: a forte carga poética, e a especial atenção à sociedade de consumo”.
Apesar esses vínculos, o escritor disse não ter certeza “que haja laços suficientes entre Espanha e Brasil”.
“Acho que além dos tópicos, na Espanha não conhecemos o Brasil, e vice-versa. Esta viagem será para mim um bom momento para ver como se rompe essa barreira”, afirmou o autor, cuja participação na Flupp contou com o apoio do Instituto Cervantes no Rio de Janeiro.
O autor galego adiantou que em seu encontro com Moraes, além de ler alguns de seus poemas, se propõe abordar novas formas de criação literária.
“Quero mostrar a maneira como experimento as coisas e como isso ocasionalmente me leva a encontrar novas maneiras de expressão. Venho do mundo das ciências. Minha formação acadêmica -e minha profissão – é a física. Como sabe, nas ciências estamos sempre experimentando, e muitas vezes pelo puro prazer de achar um caminho, embora não tenha uma aplicação prática direta”, afirmou.
O escritor espanhol elogiou a Flupp ser uma feira literária organizada em uma favela, e voltada para um público diferente do habitual, algo para ele “insólito, e uma ideia verdadeiramente potente”. “Fazem falta coisas assim”, acrescentou.
Quanto aos novos projetos, Mallo revelou que em janeiro será lançado na Espanha seu novo romance, “Limbo” e que está trabalha em outros dois, em um livro de poemas e em um ensaio. “Desse modo não me dá tempo de me aborrecer”, brincou.