(por Andréia Martins) – Escoltada por seguranças, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu chegou ao Senado na manhã desta quarta-feira disposta a falar de tudo e todos para esclarecer a denúncia que fez de irregularidades na venda da Varig e da VarigLog na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
Denise chegou com uma mala cheia de papéis e disse estar tranqüila quanto às denúncias. Ela acusa a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de ter pressionado para que houvesse uma decisão favorável à venda da Varig ao fundo americano Matlin Patterson.
Dilma teria tentado impedir que Denise exigisse documentos dos sócios da empresa que compraram a Varig. A decisão contraria a legislação brasileira que proíbe estrangeiros de ter mais de 20% do capital das companhias aéreas.
Denise não assinou documento algum garantindo que ela diria apenas a verdade e nem fez juramento antes do depoimento. Mas, fez questão de deixar claro que apesar disso, estava na Comissão para dizer a verdade.
Fui transformada em bode expiatório
Em abril de 2006, Denise disse ter sido orientada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para preparar um plano de contingência destinado a salvaguardar o interesse dos passageiros que ficariam desassistidos com a iminente falência da Varig. Por conta disso, a agência decidiu ratear as linhas nacionais com a TAM e a GOL, na proporção da participação que cada uma delas tinha no mercado. Em seguida, disse que foi surpreendida com denúncias na imprensa de que estaria fazendo lobby para as duas companhias, tendo inclusive sendo chamada por Dilma para prestar esclarecimentos sobre a denúncia.
A ex-diretora, que se diz vítima de uma armação, afirmou ainda que a filha e o genro do advogado Roberto Teixeira (caracterizado por um dos senadores como uma figura muito simpática e rosada), compadre do presidente Lula e defensor do fundo americano Matlin Patterson, usaram sua influência para pressioná-la.
"Fui considerada bode expiatório para blindar os problemas gravíssimos que havia no sistema aéreo". Desde que as acusações começaram a circular na mídia, a ministra Dilma Rousseff negou as acusações.
Entenda o caso
A VarigLog é a ex-subsidiária da Varig de transporte de cargas. A companhia é alvo de um imbróglio empresarial envolvendo o fundo Matlin Patterson e os três sócios brasileiros, que travam disputas judiciais no Brasil e no exterior desde o ano passado.
O fundo se associou, por meio da Volo do Brasil, com três brasileiros para controlar a empresa, mas houve um desentendimento na gestão dos recursos recebidos pela venda da Varig para a Gol por US$ 320 milhões.
Por conta das disputas judiciais, há meses a VarigLog enfrenta sérios problemas, como suspensão de serviços e arresto de aeronaves por falta de pagamento a fornecedores e prestadores de serviços. Os funcionários também estão com salários atrasados.
Em abril, o juiz José Paulo Magano determinou a volta do fundo americano para a gestão da VarigLog e excluiu os brasileiros da sociedade. Logo em seguida, o juiz mandou bloquear uma transferência de recursos da conta na Suíça da VarigLog para o Brasil e afastar Lap Chan, então gestor do fundo, do comando da empresa.
Qual é o seu ritmo? Seja qual for, venha curti-lo de uma forma diferente!