Entrevista com os candidatos à presidência: Luciana Genro
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Assim como Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB) e Eduardo Jorge (PV), a candidata Luciana Genro (PSOL) respondeu às perguntas elaboradas pelo portal Virgula, todas focadas no universo do jovem brasileiro.
A assessoria do candidato Pastor Everaldo (PSC) não respondeu à solicitação de entrevista, e a assessoria da presidenta Dilma Rousseff (PT) pediu desculpas por não ter conseguido responder a tempo, mas se comprometeu a falar com o Virgula no segundo turno das eleições.
Leia abaixo as respostas da candidata Luciana Genro.
Virgula – Como pretende aumentar o número de vagas nas universidades públicas federais durante a sua gestão?
Nossa meta é universalização do Ensino Superior e extinção do vestibular. Isso não se faz do dia para noite, mas deve ser a meta a ser atingida. A Argentina, com uma economia muito menor que a do Brasil, já conquistou isso. Há uma demanda represada de milhões de pessoas que querem acessar à universidade e não conseguem pela incapacidade do poder público que não abre mais vagas. Os números do ENEM mostram isso. No ano passado, foram 1,1 milhão de vagas em instituições de ensino superior para mais de 7 milhões de inscritos, o que significa que apenas 15% dos estudantes que fizeram o Enem em 2013 conseguiram uma vaga. Para onde vão esses 85% que não são selecionados? Batem na porta das universidades privadas, que em sua maioria são fábricas de diploma e não de conhecimento científico. O endividamento e a evasão de estudantes na rede privada é também um problema. Vamos investir massivamente na educação. Somos a única candidatura que mostra de quais setores irão sair os recursos para investir na Educação. Iremos sacrificar os lucros exorbitantes dos bancos, abastecidos pelos juros da dívida pública. São destinados 40% do Orçamento da União para pagamento da dívida e cerca de 4% para Educação, quando deveriam ser investidos 10% do PIB. Aí está a chave que deve ser invertida para suprir a carência de vagas no Ensino Superior e na Educação Básica.
Virgula – A senhora é a favor de cobrar mensalidade de quem pode pagar nas universidades públicas?
Não. Não podemos mais tolerar que a economia do Brasil siga amarrada aos interesses das 5 mil famílias mais ricas a um custo social imenso. Medidas concretas, como a taxação de grandes fortunas e a auditoria na dívida pública, vão garantir que os recursos públicos sejam utilizados para melhorar áreas de interesse imediato da população, como é o caso da educação.
Virgula – O que sugere para melhorar a educação de base no país?
Diálogo. Compartilhamento. Democracia. Mudar o paradigma pedagógico é fundamental no processo de encantamento das crianças, adolescentes e adultos pela educação. Investimento. Respeito. Valorização. Essas são palavras fundamentais que o governo deve ter no tratamento aos profissionais da Educação. Defendo a bandeira da destinação dos 10% do PIB para a Educação Pública, o pagamento do piso salarial nacional para o magistério e a integração do conhecimento analógico e digital, da integração dos livros com a internet. Queremos combater a evasão escolar com a implementação do Passe Livre nacional, que será concedido inicialmente aos estudantes. Depois, o interesse por permanecer na escola tem que se dar pela diversificação da rotina escolar, que não pode se restringir a 4 horas de sala de aula e 15 minutos de banho de sol. Esporte, por exemplo, é um fator fundamental. Nosso programa de esportes é o elaborado pelo jornalista Juca Kfouri, especialistas e atletas. Foi entregue ao Lula em dezembro de 2002 e, depois, abandonado pelos governos petistas. Ele trata de democratizar o acesso ao esporte e como medida preventiva de saúde pública. O currículo escolar deve prever a integração com o esporte e também com o teatro, com a dança, com a música, com as artes plásticas, com o ensino de idiomas. E isso só se faz com muito investimento direto na escola e na formação de novos profissionais. Assim, vemos a educação como um ciclo que se retroalimenta. O papel das universidades é crucial para melhorar a educação básica, que permitirá uma demanda ainda maior e mais qualificada para o ensino superior.
Virgula – A senhora é a favor das cotas para negros nas universidades?
Com certeza. O exemplo das universidades federais que adotam sistema de cotas raciais deve ser expandido para todas as instituições de ensino público. Defendo ações afirmativas como a consolidação e ampliação da reserva de vagas para negros e estudantes oriundos de escola pública e a expansão de vagas em cursos noturnos, com garantia de financiamento e aumento de políticas de permanência estudantil.
Virgula – O que pretende fazer em relação ao projeto de descriminalização da maconha?
Precisamos implantar um novo modelo para acabar com o problema das drogas no país. O modelo de guerra às drogas fracassou no mundo inteiro. Acabar com esse paradigma é fundamental para acabar com a criminalização da pobreza e tirar os usuários das mãos dos traficantes. Temos que tirar as pessoas que usam maconha, droga semelhante ao álcool e ao cigarro, do contato com o tráfico. É o traficante que oferece outras drogas, como o crack, por exemplo. Existe uma resistência da população sobre a descriminalização da maconha porque não se fala sobre o tema. Acredito que quanto mais diálogo tiver sobre o assunto, as pessoas entenderiam a importância dessa bandeira que defendemos.
Virgula – O que acha da distribuição de kit anti-homofobia nas escolas?
A distribuição de material educativo sobre a discriminação de gênero e identidade sexual é extremamente importante para acabarmos com o preconceito. Todos os dias um membro da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais) morre no Brasil graças ao preconceito. Não podemos mais fechar os olhos para isso. No meu governo, os direitos humanos das LGBTs serão eixo estruturador das políticas públicas, e não moeda de troca com conservadores. Nosso compromisso com a defesa dos direitos da população LGBT é inegociável. Vamos implementar o programa Escola sem Homofobia barrado por Dilma, numa troca com os fundamentalistas do Congresso para não apoiarem a investigação do então ministro Palocci.
Virgula – A senhora é a favor da criminalização da homofobia?
Certamente. Temos de fazer uma guerra frontal contra a homofobia, equiparando-a ao crime de racismo.
Luciana Genro e Laerte
Virgula – Qual é a sua proposta para capacitação de jovens para o primeiro emprego?
Devemos ampliar e fortalecer o ensino técnico. Para isso, propomos algumas medidas: melhorar a infraestrutura com laboratórios e maquinários de ponta, e frequente manutenção; valorizar os professores com plano de carreira em dia, o que deve acontecer em todos os níveis do ensino; ampliar a assistência estudantil para permanência dos estudantes nas escolas; oferecer restaurantes universitários estruturados para todas as escolas em tempo integral; oferecer Ensino Técnico sensível às especificidades de cada região. É importante fazer isso tudo, mas que isso não signifique diminuir a carga de matérias essenciais para a formação acadêmica como História, Geografia e Português, substituindo-as por matérias do técnico, o que resolve parcialmente um dos problemas, o da profissionalização, mas agrava outros, o acesso ao ensino Superior e debilita a formação humana e crítica.
Virgula – Como é possível incentivar o uso de meios de transporte alternativos, como a bicicleta, nas grandes cidades?
A bicicleta, absolutamente viável para pequenas e médias distâncias, quando integrada a outros modais de transporte permite atingir vários destinos, além de ser um vetor de melhoria ambiental e de saúde. O trajeto por bicicleta multiplica por 15 a zona de influência de uma parada de transporte público. Em estudo da Comissão Europeia, constatou-se que o ciclista pode ganhar um quarto de hora em relação ao ônibus, no seu deslocamento para alcançar uma estação de integração. Para nós, aliada à expansão e prioridade ao transporte público coletivo, o compromisso com a mobilidade ciclística será central. Para tanto, defendemos: a criação de um sistema de pesquisa, monitoramento e avaliação das políticas públicas, da infraestrutura cicloviária e da participação da bicicleta nos deslocamentos; a inclusão da bicicleta no censo e nas pesquisas domiciliares do IBGE, de modo a subsidiar a elaboração de planejamento para o setor; a criação de uma rubrica específica no Orçamento Geral da União para custeio e investimentos em mobilidade ciclística; a instalação de bicicletários adequados em todos os prédios públicos federais, de todas as cidades brasileiras, quando houver espaço disponível, suprimindo, se necessário, vagas de estacionamento de automóveis.
Virgula – A senhora é a favor da descriminalização do aborto?
Sim. O direito das mulheres a não morrerem em abortos clandestinos é um direito democrático. O aborto é uma realidade no Brasil e no mundo e milhares de abortos são praticados a cada ano de forma clandestina, porém, enquanto as mulheres que têm dinheiro podem praticá-lo em clínicas privadas com menos riscos à vida, as mulheres pobres recorrem a métodos precários que colocam em risco sua saúde e sua vida. Nos países em que o aborto foi legalizado, a quantidade de abortos diminuiu e o número de mulheres que morrem por complicações na prática do aborto foi reduzido à zero. Não se trata de conceber o aborto como método contraceptivo, mas de entender que as mulheres devem ter o direito de escolha com relação à continuidade ou interrupção da gravidez, seja quando ela é produto da violência sexual, quando pode colocar em perigo sua saúde ou sua vida, ou quando se trata de uma gravidez indesejada por qualquer outro motivo. Por isso, junto com a descriminalização do aborto, o estado deve garantir, através de políticas públicas, a educação sexual integral (sobretudo das meninas e adolescentes, que muitas vezes engravidam ou contraem Doenças Sexualmente Transmissíveis por falta de conhecimento sobre o sexo seguro) e garantir a todas o acesso gratuito aos métodos contraceptivos. Defendemos a educação sexual para prevenir, contraceptivo para não engravidar e aborto legal e seguro, garantido pelo SUS, para evitar a morte de mulheres em decorrência de abortos clandestinos.