DIA DAS MÃES

Dizem que para ser verdadeiramente uma mãe basta ter amor no coração e estar disposta a transformar aquele pequeno ser na pessoa mais importante do universo. O Virgula Lifestyle conversou com três mulheres incríveis que, com suas histórias de vida peculiares, readaptaram o conceito de família e encaram de frente preconceitos e dificuldades para serem mães.

Amor de várias cores

Fabiane Post Ploposki, 40 anos, é casada com Roberto Jorge Ploposki de 50 anos. Os dois são pais de Sofia, 6 anos, Maitê, 7 anos, e Roberto Filho, de 1 ano e 2 meses.

Eu nunca quis ter filhos biológicos, e quando comecei a namorar o meu marido ele já tinha um filho do primeiro casamento. Sempre que pensava em começar uma família, imaginava que seria através da adoção. Namoramos durante pouco mais de 1 ano e nos casamos. Logo depois disso o convenci a fazer vasectomia, pois realmente não tinha pretensão de engravidar. 

Aos 30 anos, cerca de oito anos depois do meu marido realizar a vasectomia, fui fazer meus exames de rotina e descobri que tinha câncer de colo de útero. O médico me deu como única opção a retirada de útero para que a doença não se espalhasse, mas me perguntou, apesar do risco, se eu gostaria de engravidar através de inseminação artificial antes da cirurgia. A doença foi o sinal de que estava na hora de colocar em prática o meu sonho da adoção. 

Resolvi fazer a retirada do útero e não engravidar. Minha família toda ficou muito arrasada, pois eu era a única de uma família de seis irmãos que ainda não havia tido filhos. Por mais que eu dissesse que não queria filhos biológicos, eles mantinham a esperança de que eu mudasse de ideia. 

Entrei na fila da adoção e, como eu era inexperiente no assunto, coloquei como pré-requisito uma criança de até dois anos. Quando percebi que a demora estava sendo grande, aumentei a faixa etária para até cinco anos. Jamais restringi a cor da pele. Depois de dois anos e meio na fila da adoção, marcamos uma audiência para entender o motivo da demora. Foi quando descobrimos que o juiz da vara da infância e juventude da Comarca de Curitiba não permitia que crianças negras fossem adotadas por casais brancos, como eu e meu marido. Ficamos estarrecidos. Ele nos explicou que essa decisão era para evitar constrangimentos na educação das crianças.

Depois de dois anos e oito meses conseguimos adotar no município de Almirante Tamandaré, próximo à Curitiba. A assistente social nos informou que éramos a vigésima família com a qual entravam em contato, pois ninguém aceitou o fato de se tratar de uma criança negra. Perguntaram: ‘Serve pra você essa criança negra?’ Eu disse na hora que não era necessário ter falado a cor da criança e então fomos pegar a Sophia que tinha 1 ano e três meses.

Achamos que ficaríamos apenas com ela, mas depois de quase um ano nos ligaram novamente. Fomos informados que a mãe biológica da minha filha tinha sido denunciada por maus tratos aos outros filhos e que mais três irmãos estavam disponíveis para adoção. Disseram que havia um casal interessado em adotar apenas duas crianças e me perguntaram se eu aceitava adotar um deles para que todos saíssem do orfanato. Aceitei e adotei a Maitê, que tinha três anos e meio. Os outros dois ficaram com outro casal de Curitiba com quem mantemos uma relação próxima para que todos os irmãos possam ter contato sempre que quiserem.

Passados alguns anos da adoção da Maitê recebi outra ligação. Desta vez me falaram sobre um menino de nove meses, também irmão biológico das minhas meninas, que acabara de chegar à vara da infância e juventude. Como eu e meu marido estávamos achando pequena uma família com duas filhas apenas, decidimos adotar mais um. Foi então que o Roberto Filho veio para nós.

Como vivemos em uma cidade que possui muita gente branca e loira, às vezes percebemos um certo preconceito por conta da cor da pele das crianças. Já fui abordada por pessoas perguntando se eles eram filhos da minha empregada e há certa surpresa quando digo que são meus. 

Somos uma família abençoada e feliz. As pessoas me acham louca e dizem que eu sou ‘corajosa’ por ter adotado meus três filhos, mas não é nada disso. Eles me dão alegria de viver e deram sentido à minha vida.

Mamãe e mamica

Mariana Elisabetsky (à direita na foto), 34 anos, é casada com Paula Izzo de 36 anos. As duas são mães dos gêmeos Gael e Mia de dois anos e quatro meses

Eu estava com muita vontade de ser mãe e minha pressa se dava ao fato de que as mulheres de minha família têm propensão a câncer de ovário e de mama. As chances de que eu tenha uma dessas doenças ao longo da vida é de 80%, por isso, todos os médicos sempre me recomendaram ter filhos logo para poder retirar os ovários e esvaziar as mamas o quanto antes. 

Quando conheci a Paulinha, eu só pensava em engravidar, e ela, que vinha do final de seu segundo casamento (heterossexual), estava completamente desiludida com o amor. Mesmo assim resolvemos tentar. Depois de sete meses de namoro fomos morar juntas e logo depois começamos o tratamento. 

Optamos por fazer fertilização in vitro usando meus óvulos e o sêmen de um doador anônimo. Na primeira tentativa, com apenas um embrião implantado, não deu certo. Na segunda, com dois embriões, engravidei de gêmeos. Além dessa felicidade, ficamos animadíssimas quando nosso médico contou que a Paula, assim como eu, teria condições de amamentar. Ela tomou remédios para estimular a produção de leite e foi muito especial poder compartilhar essa experiência com ela. Os bebês mamaram nas duas e fizemos até uma planilha no excel para organizar esse processo. Eles foram amamentados de leite materno até terem 1 ano e dois meses. 

O Gael e a Mia estão registrados apenas como meus filhos, como seu eu fosse mãe solteira. Eles têm o sobrenome da Paula, mas só porque o cartório entendeu como se fosse um segundo nome das crianças. Pela lei, a Paula não tem qualquer relação com eles, infelizmente.

Não passamos por nenhum tipo de preconceito, pois vivemos em um meio muito privilegiado e de mente aberta, que é o mundo artístico (sou atriz e Paula é cenógrafa). Nós duas tivemos muita sorte, nossos pais têm a cabeça aberta, nossos amigos também, nunca nos deparamos com isso de não sermos aceitas. As pessoas que não nos conhecem acabam achando que somos amigas e que cada uma tem um filho, mas quando explicamos todos tendem a achar legal a situação.

Nossos filhos estão começando a entender a situação aos poucos. Esses dias eu e a Paula estávamos no carro conversando, e o Gael, que estava sentado atrás, chamou: ‘Mamãe’. Continuamos conversando sem olhar pra ele quando ele gritou: ‘Ô, duas mães!’. Olhamos imediatamente (risos). Mas no dia a dia, os dois se referem a mim como mãe e à Paula como ‘mamica’. Somos uma família verdadeiramente feliz.

Filhetas

Rosa Nunes, 45 anos, é avó das pequenas Lara, de 6 anos, e Manuela, de 3.

Comecei a criar a Lara e a Manuela após muitas idas e vindas que elas tiveram com a mãe delas, que é a minha filha do meio, e tem 24 anos. Ela teve as duas muito jovem, a primeira gravidez foi quando ainda tinha 18 anos.

Já estava criando a Lara quando a minha filha engravidou pela segunda vez, dessa vez da Manuela. Minhas amigas lembram que eu cheguei até a falar: ‘Essa eu não quero ver, porque eu não quero nem gostar’. Na época, determinei que quando a Manuela nascesse as duas iriam morar com a mãe. Falei isso com muita dor, mas achei que o mais certo seria elas morarem com os pais em Minas Gerais.

A experiência não deu certo, eles passaram por alguns problemas sérios e então as busquei e disse que elas não ficariam mais com eles. Entrei com pedido de guarda provisória e ganhei. 

Todos os meus três filhos já são criados e mais velhos, por isso, com elas eu tive que mudar um pouco o meu estilo de vida, tenho outras responsabilidades. A diferença de quando eu tive os meus é que eu era mais jovem e tudo era novidade para mim. Hoje, com 45 anos, me cobro muito mais para criá-las. Eu tenho uma relação com elas de avó, mãe e pai ao mesmo tempo.

Acho que se aconteceu dessa forma na minha vida – e isso acontece na vida de muitas outras mulheres que são mães-avós – tenho que abraçar com muito amor essa situação. Afinal, como você vai ver um pedacinho seu não sendo bem cuidado ou passando por uma situação difícil? Não tem como!

Espero que nesse Dia das Mães minha filha venha e fique de vez com a gente. A nossa vida vai seguir da mesma maneira como está, vou continuar cuidando das meninas, mas com a mãe delas por perto.


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