(Da Redação) Nossos políticos… [são] os principais responsáveis pela repetição cotidiana de tragédias como a ocorrida no evento do ônibus 174 e do sequestro em Santo André. As palavras são de José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite, Ônibus 174 e Garapa (que participa da Mostra de SP de Cinema) e de Rodrigo Pimentel, sociólogo, ex-capitão do Bope, roteirista de Tropa e co-produtor de Ônibus 174.
Em um artigo chamado O fracasso da polícia é dos políticos, publicado na página de opinião da Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (20/10), os dois se solidarizam com a equipe do Gate no caso do sequestro e morte da menina Eloá. Descorimos que eles estão desolados com o desfecho da ocorrência, que custou a vida de uma pessoa e feriu outra, e revoltados com os políticos, devido ao descaso que têm com a unidade, exposta ao ridículo com o fracasso da operação.
Padilha e Pimentel acusam a falta de equipamento da unidade como o grande fator responsável pelo saldo negativo da operação. Para eles, uma microcâmera de fibra ótica [mostraria] que o sequestrador tinha encostado um armário de TV e uma estante na porta… que sequestrador e reféns não estavam na sala, mas no quarto. E completam: Mas o Gate não sabia de nada disso e perdeu preciosos segundos abrindo a porta.
Ônibus 174
O artigo também enumera outras faltas como a escada inadequada e o despreparo que permitiu que a menina Nayara voltasse para o apartamento. Quando trabalhamos no documentário Ônibus 174, sentimos a mesma revolta por parte dos policiais do Bope, que, em sua maioria, odeiam os políticos a quem servem.
Mais à frente, os autores denunciam o fracasso de uma reforma das polícias proposta em 2003 pelo então secretário nacional de Segurança Pública, o sociólogo Luiz Eduardo Soares. Segundo eles, era a reforma que nossos policiais sérios tanto pedem. O plano previa piso salarial nacional decente para policiais, integração dos sistemas de informação das polícias e autonomia para que os Estados reformassem as polícias de acordo com as realidades locais.
Segundo eles, o governo [Lula] desistiu do plano e nem sequer o apresentou ao Congresso. O motivo alegado foi o medo de eventuais tragédias que pudessem acontecer durante sua implementação, o que levaria a opinião pública a culpar o governo. Mesmo assim, Padilha e Pimentel dizem que não culpam os governos atuais pela tragédia de Santo André. Eles lembram que o governo FHC também prometeu um plano nacional depois do ônibus 174.