Há cinco anos, por sugestão de um amigo, o petropolitano Matheus Taboada, formado em Turismo e Hotelaria, resolveu tentar fazer cerveja em casa. Não imaginava que o hobby viraria profissão. Acabou abandonando o antigo trabalho para se tornar um especialista na bebida de que quase todo brasileiro gosta. Hoje, vive de ministrar palestras, cursos e organizar eventos sobre cervejas artesanais – a próxima turma começa no dia 22 de novembro – na sua terra natal, Petrópolis. A cidade, aliás, já se tornou sinônimo de cerveja. Influenciada pela colonização alemã, berço da Bohemia, cervejaria mais antiga do país, e casa da maior festa alemã do Rio, a Bauernfest, a cidade na Região Serrana fluminense possui um núcleo da ACerva (Associação dos Cervejeiros Artesanais do Brasil). A associação foi criada no Rio de Janeiro e reúne produtores, caseiros ou profissionais, da bebida. Matheus é um dos diretores da ACerva de Petrópolis, e produz em casa pelo menos 100 litros de cerveja por semana. Ainda não entrou profissionalmente neste mercado, “que cresce a cada dia”, diz ele, mas pretende fazê-lo em breve. Assim como trabalha para fazer da Região Serrana um pólo de turismo temático com foco na cerveja. “O governo do Estado tem interesse, e potencial não falta”, garante.

Como você começou a se interessar pela produção de cerveja artesanal?
Em 2008, quando um amigo fez um curso e me convenceu a aprender também. Eu me apaixonei pela coisa e não parei mais. Hoje produzo cerca de 200 litros por mês, mas tenho capacidade para fazer 900 litros. Pretendo ainda fazer para vender. Por enquanto, faço apenas para os amigos, para a confraria da ACerva, para consumo próprio e da família.

Como funciona ACerva?
Funciona como uma confraria de amigos, que reúne cerca de 20 pessoas, e todos produzem cervejas artesanais. Somos um núcleo da ACerva carioca, que nasceu para reunir os produtores de todo o país e foi a primeira associação do gênero. O Rio é pioneiro nisso. Aqui, programamos eventos entre nós e para o público em geral, cursos, palestras, compramos insumos e equipamentos coletivamente, ajudamos uns aos outros, nos juntamos para trocar as cervejas que produzimos, trocar receitas, mantemos um grupo virtual etc. E procuramos participar de tudo o que diz respeito ao mercado da cerveja artesanal.

Qual é o papel do Estado do Rio de Janeiro neste mercado?
O Rio ainda precisa se desenvolver mais nesta questão. Há outros estados mais desenvolvidos, como Minas Gerais e São Paulo, principalmente no interior. Minas já tem até uma legislação própria que permite a comercialização de cerveja artesanal com mais facilidade. Santa Catarina também tem mais tradição de cerveja, a região de Blumenau, principalmente. Mas no Rio, por outro lado, surgiu a primeira associação do país que reúne os cervejeiros, e acho que o nosso papel é um pouco esse, o de liderar o movimento para valorizar a cerveja artesanal. E este movimento está se espalhando com força pelo Brasil. Acho que a força do Rio vem daí, desta organização em prol da cerveja artesanal. O governo do Estado aqui tem um projeto de fazer uma rota turística baseada na produção de cerveja em cinco cidades da Região Serrana – Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo, Guapimirim e Cachoeira de Macacu. Todas possuem fábricas de cerveja, não necessariamente artesanais, claro. É o circuito Serra Verde Imperial, que agora espera liberação de verba para acontecer. Em Petrópolis já é possível visitar a fábrica da Bohemia, por exemplo, que tem um museu onde se pode conhecer toda a história e a fabricação.

Por que Petrópolis tem tradição de produzir cerveja?
Acredito que por dois motivos: aqui nasceu a primeira fábrica de cerveja do Brasil (a Bohemia, em 1853) e porque a influência da colonização alemã é muito forte. Temos a maior festa alemã do Estado, a Bauernfest. Inclusive, a Acerva participou este ano, servimos dois mil copos de cerveja. Bom, e a água de Petrópolis também é especial, tem qualidade para produzir uma excelente cerveja.

Qual é o segredo de uma boa cerveja?
Uma boa cerveja, em primeiro lugar, deve ser puro malte, coisa muito rara de se encontrar nas cervejas de fabrico industrial. Estas possuem milho, arroz, na fórmula, tudo para baratear o custo da cerveja. As cervejas artesanais também não precisam ser totalmente geladas, basta estar entre 3 e 8 graus Celsius, mais ou menos. Vai depender do estilo, cada um pede uma gradação de refrigeração. Esse negócio do “estupidamente gelado” existe por causa das cervejas comerciais, porque tomar quente é horrível, a gente quase devolve a cerveja, né? É muito ruim. Ninguém é capaz de beber uma lata de cerveja quente. Mas se ela é servida hiper gelada, as papilas gustativas congelam e você não consegue sentir o sabor, então fica mais “saborosa”.

É fácil fazer cerveja em casa?
É simples, mas é trabalhoso. É como cozinhar: você precisa de uma receita, de equipamentos e dos ingredientes. Mas tem uma série de dicas de preparo que é importante a pessoa conhecer. O equipamento completo custa cerca de R$ 1300,00. São panelas, termômetros etc. Para começar, a produção inicial deve ser de cerca de 20 litros. Eu faço 100 litros por semana e cada leva precisa de 25 a 30 dias para ficar pronta – sete de fermentação e mais  cerca de 20 dias de maturação, que pode ser feita em garrafas ou barris. Cada estilo de cerveja tem um tempo adequado de maturação, mas, na média, são 30 dias. Eu gosto de produzir cerveja de trigo, de alta fermentação, porque as de baixa fermentação, conhecidas com larger, são mais difíceis, necessitam de temperaturas mais baixas, precisam de geladeiras com termostato para controlar.


int(1)

Diretor da ACerva Petrópolis, associação de cervejeiros artesanais, sonha com roteiro turístico temático na Serra