Jonas Rafael Rossatto é designer, empresário e ativista da maconha. Ele é responsável pelo portal de notícias sobre cannabis SmokeBud e também está à frente do app BudMaps, um guia com médicos e advogados para ajudar os usuários. O guia também dá suporte a pacientes que precisam de maconha medicinal.
Morando em Montevidéu, ele acabou de se mudar para lá, Jonas, de 29 anos, passou por Pato Branco, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Curitiba. Atualmente, ele está à frente do Canabista, um clube canábico por assinatura.
Leia entrevista em que ele fala sobre preconceito, legislação e os motivos que fizeram com que fosse morar no Uruguai:
Como quebrar o estigma que o usuário de maconha é um inútil?
Jonas Rafael Rossatto – O estigma primeiro tem que ser desconstruído, nos dias de hoje vemos que há usuários de cerveja, por exemplo, que bebem todos os dias e se você pergunta estes te respondem que “socialmente”. Então o estigma caminha por aí, mostrar que há pessoas que fumam “socialmente”, todos os dias e pessoas que fumam “socialmente” às vezes.
Em que pé estão os processos na Justiça em relação à descriminalização e legalização?
Jonas – O tema sobre maconha avançou bastante desde 2006, quando mudou a lei de drogas mas não foi discriminada a quantidade. Mas há três esferas que caminham juntas e cada uma exerce uma força diferente, é o caso da maconha medicinal que desde 2014 avançou, bastante e hoje permite até mesmo que famílias cultivem no quintal para produzir o óleo medicinal, falando isso rapidamente parece bom. Mas isso só acontece depois que as famílias pedem um salvo-conduto (quando o estado não cumpre em pagar e conseguir a importação via SUS) e ainda vemos a justiça enxugando o gelo, discutindo prisão de cultivadores, por exemplo. O grande debate sobre isso sem dúvidas é o #DiscriminalizaSTF, que parou desde que o ministro Teori morreu e agora está na mão do Alexandre de Moraes, que é contrário a regulamentação responsável e sentou-se sobre o tema.
Acredita que a maconha para uso médico será legalizada primeiro?
Jonas – Acredito e é assim que está sendo feito. Nós, usuários, ativistas, cultivadores… ajudamos a levar o primeiro debate sobre maconha no Senado em 2014, a Sugestão 8/2014. Na proposta, feita por um gestor de saúde da FioCruz, abordava o uso medicinal, recreativo e industrial da planta. No entanto devido ao lobby, só o medicinal, com muito choro das mães conseguiu avançar. E ainda assim, vimos muitas mães sofrendo durante um ano até a ANVISA aceitar tal determinação.
Qual é o impacto na economia, do chamado “dinheiro verde”, que a legalização teria no Brasil?
Jonas – Muitos bilhões, nos Estados Unidos a maconha já movimenta mais de US$ 3,5 bilhões com maconha, acessórios e cultura canábica. Agora imagina isso em um país com 204 milhões de habitantes, onde tem gente querendo trabalhar com cultivo, com acessórios, com roupa, com indústria, com combustível, com tratamento, com tratamento e com pesquisas… Se você parar pra pensar, isso tudo gera muito mais emprego que a proibição
Você mudou para o Uruguai, quais foram os aspectos fundamentais para esta decisão?
Jonas – Primeiro a questão social, conhecer os uruguaios, entender como eles pensam, viver com esse povo e saber como eles foram razoáveis a ponto de serem os pioneiros a implementarem essa lei.
Segundo a questão é o mercado, quero conhecer o mercado daqui, saber quanto movimenta e como, se está gerando emprego, se diminuiu o tráfico, se quem precisa está sendo realmente alcançado e se as pessoas estão sendo educadas nesse processo. O terceiro é poder trabalhar com o que eu trabalho e cultivar sem nenhum medo de ser preso decorrente de uma pesssoa que não concorda com minha filosofia, de um possível concorrente, querer me denunciar.