Muitos fãs “enterraram” a escritora J.K. Rowling, mãe da saga “Harry Potter”, nesta segunda-feira (14) após a sinopse de seu novo livro ser revelada. Na obra policial, assinada sob o pseudônimo de Robert Galbraith, a autora retrata um serial killer que se veste de mulher para assassinar outras mulheres.
O lançamento de “Troubled Blood” ocorre justamente em meio a declarações polêmicas que Rowling publicou em seu Twitter sobre a comunidade trans nos últimos meses. Os comentários a fizeram ser acusada de transfobia e a autora chegou a devolver o prêmio “Ripple of Hope”, voltado para personalidades comprometidas com mudanças sociais, após suas falas serem repudiadas pela presidente da fundação Robert F Kennedy Human Rights, Kerry Kennedy.
Diante destas polêmicas, a história de “Troubled Blood” gerou ainda mais revolta nas redes sociais. Decepcionados, muitos fãs chegaram a brincar no Twitter que Emma Watson, a eterna Hermione Granger e apoiadora da causa trans, é que deveria ser considerada a verdadeira autora de “Harry Potter”. A brincadeira fez o nome da atriz ser um dos mais comentados da plataforma.
Sou a favor de todo mundo só falar que a autora de HP é a Emma Watson até se tornar verdade na mente das pessoas e a JK Rowling virar só um delírio coletivo. pic.twitter.com/JgiwIUncA1
— Jordana Sampaio (@jordanakarla) September 14, 2020
Na nova obra, durante uma visita familiar, o detetive Cormoran Strike, introduzido em “O Chamado do Cuco”, é abordado por uma mulher que pede sua ajuda para encontrar sua mãe, desaparecida em circunstâncias misteriosas em 1974. O vilão é descrito como um “serial killer psicótico” que se veste de mulher para realizar os crimes. Para os críticos, esta é mais uma demonstração de transfobia.
A ativista trans Paris Lees ressaltou no Twitter que: “o novo livro da J.K. Rowling é sobre um ‘serial killer’ que se transveste. Enquanto isso, no mundo real, o número de [pessoas] trans assassinadas no Brasil aumentou em 70% no último ano. Jovens mulheres trans são deixadas para serem queimadas em carros e homens que nos matam (por sermos trans) são perdoados e enviados para casa”.
JK Rowling’s new book’s about a “transvestite serial killer”
Meanwhile over in the real world the number of trans people killed in Brazil has risen by 70% this past year, young trans women are left to burn in cars and men who kill us (for being trans) are pardoned and sent home pic.twitter.com/vaAVB0f9Na
— Paris Lees (@parislees) September 14, 2020
As críticas a Rowling começaram em Dezembro do ano passado, quando Rowling defendeu em seu Twitter uma britânica que perdeu o emprego após defender que o sexo biológico é que deveria determinar o gênero de uma pessoa no Reino Unido, e que uma mulher trans não deveria ser considerada mulher.
Nos meses seguintes ela continuaria com as polêmicas. Ironizou, por exemplo, um artigo sobre menstruação que usava uma linguagem inclusiva e mencionava “pessoas que menstruam” ao invés de “mulheres”, a fim de não excluir mulheres trans e também incluir homens trans que também menstruam. Suas posições inclusive foram criticadas por Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, que enviaram mensagens de apoio à comunidade trans.
Veja como a web reagiu ao lançamento:
JK Rowling, mais conhecida como “autora de Harry Potter”, é uma transfóbica assumida. Acabou de revelar que, em seu novo livro, terá um “homem que se veste de mulher para matar”. Corroborando e reiterando um imaginário social de mulheres trans e travestis como criminosas.
— Ana Flor (@Tdetravesti) September 14, 2020
é inegável a influência social de JK Rowling, ela não é apenas uma autora conhecida por jovens, mas por crianças também.
vcs tem noção o que é uma mulher com a influência dela, criar um livro sobre um homem que se veste de mulher para matar mulheres cis?
— diário de umA travesti (@alinadurso) September 14, 2020
“Eu amo demais Harry Potter. Eu sei que a JK Rowling é transfóbica, mas não consigo abrir mão de algo tão importante para mim!”
Vou deixar você pensando com essa frase do Dumbledore:
“Daqui a um tempo nós teremos que escolher entre o que é certo e o que é fácil.”#RIPJKRowling pic.twitter.com/cXk3x7yTqn— Renan Wilbert (@RenanWilbert) September 14, 2020
Eu amo o universo de Harry Potter, pra mim a JK Rowling morreu, sinceramente, fã de Harry Potter não tem um dia de paz #RIPJKRowling pic.twitter.com/NzhwsW53sf
— viiн |
= Hp² (@ViniciusBrien) September 14, 2020
I almost appreciate the effort JK Rowling is making to remove any vestige of nuance from our understanding of who she is and how she plans on using her time, energy and fortune. It’s all very “as per my last transphobic email.” https://t.co/e0pTOw7Q8N
— Saeed Jones (@theferocity) September 14, 2020
Eu até aprecio o esforço da J.K. Rowling para remover qualquer vestígio de nuance da nossa compreensão de quem ela é e como está planejando usar seu tempo, energia e fortuna. É tudo tipo: ‘como no meu último e-mail transfóbico’, escreveu o poeta Saeed Jones.
Em uma thread sobre o assunto, Paris Lees acrescentou: “eu não espero que pessoas que não são trans entendam totalmente, mas tudo que posso dizer é que é mais do que deprimente viver todos os dias sendo ameaçada e com memórias de violência, enquanto simultaneamente dizem que você é a ameaça. É doentio (…) E é importante ressaltar que uma mulher branca no Reino Unido vive melhor do que muitas. A expectativa de vida média de uma mulher trans não branca nos Estados Unidos é de apenas 35 anos. O insulto e a injustiça de ser colocada como uma ameaça enquanto isso acontece é insuportavelmente cruel”.
And it’s worth pointing out that as a white woman in the UK I have it better than many others. The average life expectancy for a trans woman of colour in the US is just 35
The insult and injustice of being painted as the threat while this is happening to us is an unbearable evil
— Paris Lees (@parislees) September 14, 2020
Sarah Cunningham , a 'mãe substituta' de casamentos LGBT
Créditos: Reprodução/Facebook