Quando Alexandra Moraes
fala sobre O Pintinho – protagonista
da tirinha criada por ela e popularizada no Tumblr -, é difícil saber onde
termina o personagem e começa Benjamin, seu filho de 5 anos. A mesma lógica serve para a
Galinha, cética mãe do Pintinho, e a própria autora.
“Tento não reproduzir direto o que eu vivo com meu filho; o
que aparece ali é culpa minha, não dele, coitado”, brinca. “Se por um lado os
diálogos com ele hoje ‘brotam’ mais facilmente, por outro eu não me sinto nada
à vontade para transformá-los em tirinha pura e simplesmente. Gostaria de ser
uma mãe um pouco melhor que aquela galinha, afinal de contas, mas a vida mostra
que não basta querer (risos).”
Alexandra começou a publicar as tiras no Tumblr em 2010. Atualmente, elas são publicadas no caderno Ilustríssima, do jornal A Folha de S.
Paulo, e deram origem ao livro O Pintinho
– Mais um Filho de Mãe Brasileira (Lote 42). Tem ainda mais de 30 mil
seguidores no Tumblr e um novo livro a caminho. “A ideia é publicar os
quadrinhos ‘proibidões’ do pintinho, os de potencial mais polêmico, que envolvem
personagens como o Abortinho e o Zé Sexo. Mas é claro que a polêmica é só uma
ideia vaga, na prática ficam os dois lá nas bolhas deles. Vamos ter tiras
inéditas também.”
Protestos pelo Brasil, direito à cidade, desigualdades sociais: política
é um dos temas favoritos do Pintinho, que, segundo a autora, não é nem de
esquerda nem de direita. “Ele não é nada, quero acreditar! Acho que ele
tem só as dúvidas que todo mundo tem: quer um mundo melhor, mas também quer
dormir até mais tarde”. É justamente nas tiras mais políticas que a
assumida tosquice do traço (tudo é desenhado no Paint, programa básico do
Windows) injeta uma dose extra de humor ao texto.
Outro aspecto que chama a atenção é a visão nada romântica
da maternidade – muitas vezes beirando o cinismo. Para Alexandra, ser mãe não é
o céu de brigadeiro prometido pela publicidade. “Ser a principal responsável
pela criação de uma criança tem muitas camadas de dificuldades, sobretudo
temporais e financeiras: basicamente o malabarismo para conseguir deixá-la numa
escola enquanto trabalha e voltar no fim do dia pra resgatá-la”, explica.
Por cima disso, afirma ela, há pouca compreensão da
sociedade a respeito das questões da maternidade. “Os problemas ‘de mãe’ ainda
são um pouco tratados como safadeza feminina, uma coisa na linha: se não tem
condição para, por que foi fazer filho?”. Alexandra é jornalista, trabalha na redação de um jornal e não ganha dinheiro com O Pintinho, “só
alegria”. O mais próximo que chegou de lucrar foi com um publipost para uma
marca de remédios de animais, mas achou que o valor oferecido não era
suficiente: “Foi melhor assim”.
Inspirada por tiras como Níquel Náusea, de Fernando
Gonzáles, e Mr. Wiggles, de Neil Swaab, ela se diz grata a tudo que já a fez
rir, incluindo o programa Zorra Total.
Sobre as agruras da maternidade, responde com o ceticismo de uma verdadeira mãe
brasileira. “Nosso destino é trágico: damos esse duro todo para, no fim,
virarmos sogras.”
Alexandra Moraes autografa o livro O Pintinho no próximo
sábado (27), às 17h, na Monkix, em São Paulo. Também participam da tarde de
autógrafos Bruno Maron (Manual de Sobrevivência dos Tímidos), e Thobias Daneluz (Ezequiel Viu a Roda).
Monkix
Rua Augusta, 1492 – Galeria Le Village – Loja 21 – São Paulo