O cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, mais conhecido como Quino ou “pai da Mafalda” – sua personagem mais emblemática -, foi anunciado nesta quarta-feira como o vencedor do Prêmio Príncipe de Astúrias de Comunicação e Humanidades 2014.
Embora tenha criado muitos outros personagens e histórias desde que publicou sua primeira tira para a revista Isto É em 1954, Quino será sempre reconhecido por ter dado vida a esta inteligente menina de cabelo preto e franja reta, um ícone universal que foi criado em 1963.
Mafalda, amiga de Susanita, Manolito, Miguelito e Felipe, nasceu a partir de uma encomenda de uma companhia de eletrodomésticos, que, por sua vez, queria um personagem que começasse com a letra “M”, a inicial de Mansfield, embora o projeto tenha fracassado junto com a empresa.
Desta forma, em vez de ser uma garota propaganda, Mafalda passou a questionar o mundo dos adultos com incômodas perguntas e, em 1964, saiu pela primeira vez na revista Primera Plana. Depois de quase uma década, em 1973, Quino deixou de criar a “mafaldita”, mas nunca a aposentou, tendo em vista as celebrações de seu 50º aniversário.
“Ao completar o 50º aniversário do nascimento de Mafalda, as lúcidas mensagens de Quino seguem vigentes por terem combinado com sabedoria a simplicidade no traço do desenho com a profundidade de seu pensamento”, afirmou o diretor do Instituto Cervantes e presidente do júri, Víctor García de la Concha.
Além disso, as histórias de Mafalda nunca deixaram de ser reeditadas e, por isso, se multiplicaram, sendo traduzidas para mais de 30 idiomas – item que pesou na escolha do prêmio a favor de Quino, cotado como favorito ao lado do jornalista mexicano Jacobo Zabludovsky e do filósofo Emilio Lledó.
Neste aspecto, Mafalda seria a versão latina (e hispânica) de Charlie Brown e Snoopy, criados pelo hippie Charles M Schulz nos Estados Unidos: crianças que retratam muito bem a idiossincrasia de seus países, suas luzes e sombras, com um discurso adulto e crítico.
Essas tirinhas expressam o pensamento de Quino e ganham força a partir da preocupação do cartunista com o futuro da humanidade, já que ele sempre levantou a bandeira dos direitos humanos, da justiça, da igualdade e, acima de tudo, da ironia.
Segundo ele mesmo costuma dizer, essa postura está relacionada ao caráter trágico e ao humor negro da Andaluzia, de onde vieram os pais deste desenhista universal nascido em Mendoza, na Argentina, em 1932.
“Desenho para que o mundo vá para o lado dos bons, o dos Beatles, o de John Lennon…”, disse o cartunista que, além de Mafalda, não teve nenhum outro personagem fixo.
Desentranhar o lado trágico da vida com o humor é o principal legado do pai de Mafalda, que, assim como a menina de laço vermelho, tem claro que os males do mundo são “a ambição e o dinheiro”.
Em 2013, o prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades foi concedido para a fotógrafa americana Annie Leibovitz.