Uma quadra poliesportiva repleta de mulheres usando meias finas, roupas coloridas e equipamentos de segurança, que patinam rapidamente em círculo e esbarram umas nas outras de forma brusca. Olhando a cena de fora, quem chega ali pela primeira vez pensa que um bando de malucas resolveu se reunir apenas para levar uns belos tombos. Mas, olhando com atenção, é possível perceber que aquilo tudo faz um certo sentido e é considerado um esporte, o roller derby.
Veja abaixo o vídeo que fizemos com a liga Ladies of Hell Town
Criado nos anos 30 pelo americano Leo A. Seltzer, o esporte de alto contato é jogado por mulheres sobre patins de velocidade tradicionais, aquele de rodinhas paralelas. Embora aparente ser agressivo por conta do contato físico e de várias quedas ocorridas durante as partidas, as praticantes garantem se tratar de um jogo de pura estratégia.
Funciona assim: dois times se enfrentam durante 60 minutos, divididos em jogadas de dois minutos. Entre cada jogada, há um intervalo de 30 segundos. Cada time tem 14 jogadoras, cinco vão para a pista, mas apenas uma marca pontos (chamada de jammer), cada vez que consegue passar as jogadoras do time adversário. As outras quatro (chamadas de blockers) não marcam pontos, mas fazem uma barreira para dificultar a passagem da jammer do outro time e abrem brechas para facilitar a passagem da jammer do seu time. Não, o jogo não tem bola!
E no meio daquela aparente confusão, o que é considerado falta? Denis Araki, que é árbitro do confuso esporte, explica: “Não pode usar o braço, empurrar por trás e nem dar rasteira. A ideia desse jogo é usar seu corpo para conseguir ultrapassar as pessoas conquistando território, sem ganhar vantagem atrapalhando o adversário com braços e pernas”, diz.
Apesar de pouco conhecido, o esporte possui ligas (times) espalhadas pelo mundo todo e também em várias cidades brasileiras, como São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Alagoas, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, entre outras.
Até Copa do Mundo de roller derby existe. A seleção brasileira é formada por meninas de várias ligas do país, e no campeonato mundial do Canadá, em 2011, que foi disputado por 13 times de todo o mundo, ficou na 12ª posição. A próxima Copa acontece em Dallas, no Estados Unidos, em 2014.
Meninas superpoderosas
Se, em outros esportes as mulheres reforçam sua feminilidade usando maquiagem e penteados como rabos de cavalo e tranças no cabelo, no roller derby, as jogadoras superam todas as expectativas! Usam meias-calças coloridas, polainas listradas, saias rodadas, shorts brilhantes e estampados e cabelos mega estilosos, com mechas coloridas e a maioria com franjas retas bem acima das sobrancelhas para compor o visual.
A maquiagem também não tem intenção de ser discreta: de preferência batom vermelho e olhos delineados ao estilo “gatinho”.
Além da “montagem” e da pose, as jogadoras também capricham na escolha de seus “derby names”, ou seja, os apelidos que usam em quadra. Nada de nomes convencionais ou de batismo: Julia vira “Carnage Miranda”, Nathalie se transforma em “Nat Liquidator”, Emília tem como alterego “Guilhotina Fey”, Juliana incorpora “Beki Band Aid”, Daphne dá vida à “Daph Bludger”, e por aí vai.
No mundo colorido de mulheres que se locomovem de patins tão rapidamente quanto super-heroínas, poucos homens se aventuram a entrar nesse clube da Luluzinha. Eles acabam tendo vez principalmente como árbitros, treinadores ou staff.
Como começar
Acredite: para começar no roller derby não é preciso nem saber parar em pé nos patins. “Temos treinamento para ensinar as meninas a patinar e damos todo o preparo para a prática do esporte. Para que uma novata entre em quadra para jogar uma partida é preciso passar por algumas etapas. De tempos em tempos efetuamos os ‘minimal skills’, que são testes para avaliar as iniciantes e mudá-las de nível”, explica Julia Beirão, a “Carnage Miranda” da liga Ladies of Hell Town.
Preparo físico também é um fator importante, no entanto, para começar, não é preciso ter o pulmão de um maratonista. Ninguém precisa estar em forma, ter uma alimentação regrada ou condicionamento físico de atleta pra participar.
“Aos poucos a pessoa conquista resistência física”, diz a jogadora. Outra dica importante: não pode ter medo de cair, pois isso faz parte do jogo.
O roller derby é uma atividade que faz com que suas praticantes usem todos os principais grupos musculares. São cerca de 500 calorias queimadas em uma partida. “Eu emagreci 5 quilos! Depois que você entra no ritmo, qualquer outro esporte fica mais simples de ser praticado, pois o derby é bastante intenso”, explica Daphne Evangelista, a “Daph Bludger”. No entanto, nem só as magrinhas têm vez por aqui, todos os biotipos físicos são aceitos.
Não pense que praticar o esporte é algo suave para o bolso. Além de investir cerca de R$ 800 em equipamentos e pagar a mensalidade do aluguel da quadra (entre R$ 50 e R$ 70), também é importante contar com um bom plano de saúde, já que contusões são comuns.
Veja onde você pode praticar roller derby na sua cidade clicando aqui.