(EFE) O Festival de Cinema de Berlim se rendeu ao canto quíchua do filme hispânico-peruano "La teta asustada", de Claudia Llosa, que conquistou o Urso de Ouro, o prêmio máximo da mostra cinematográfica.

O festival acabou se tornando uma plataforma do novo cinema latino-americano, ao dar outros três prêmios ao uruguaio-argentino "Gigante", de Adrián Biniez.

O júri presidido pela atriz Tilda Swinton acabou optando pelas produções inovadoras e concedeu o prêmio máximo a "La teta asustada", primeiro filme do Peru em competição na história do festival, e que possui como outra particularidade o fato de ser falado em 40% no idioma quíchua.

"Gigante", rodado em Montevidéu, dividiu o Grande Prêmio do Júri com o alemão "Alle anderen", de Maren Ade, mas conquistou também a estatueta de melhor estreia e o Alfred Bauer, em memória do fundador do festival, esta última premiação compartilhada com "Tatarak", do veterano Andrzej Wajda.

Biniez cativou o público com a história do segurança de supermercado apaixonado por uma empregada, e subiu três vezes no palco do Berlinale Palast, primeiro emocionado, depois atônito e finalmente gritando.

Llosa, chorando, dedicou o prêmio ao seu país de origem, o Peru, e destacou o papel determinante da produção como plataforma de uma cinematografia que dificilmente sai de suas fronteiras.

A atriz principal do longa, Magaly Solier, enfeitiçou o auditório ao cantar uma música em quíchua, da mesma forma emocionante e mágica que no filme.

A diretora, nascida em Lima e que mora em Barcelona, representava uma cinematografia novata no festival, a peruana, a partir da magia da língua indígena. Biniez, nascido em Buenos Aires e que reside em Montevidéu, levava a Berlim seu primeiro filme.

"La teta asustada" é uma produção enigmática, que se passa entre paisagens agrestes dos bairros mais pobres de Lima e que remete ao drama de milhares de mulheres peruanas violentadas ou torturadas nos anos de conflitos e terrorismo.

O longa conta a história através do olhar de Fausta, o papel de Solier, uma moça que tenta dar um enterro digno à mãe, violentada como milhares de mulheres nas duas décadas de conflito e terrorismo.

O filme traz o nome da misteriosa doença que, segundo a crença popular, as mulheres que foram estupradas ou torturadas na gravidez transmitem aos filhos através do leite materno.

O júri escolheu a produção, simples, carregada de simbolismo e um tanto hermética, em um festival marcado por personagens femininas e pela presença de divas como Michelle Pfeiffer, Demi Moore e Renée Zellweger.

Nenhuma estrela conhecida recebeu prêmio, mas as estatuetas, de acordo com a marca pessoal de Swinton e dos demais membros do júri, foram entregues aos independentes.

O Urso de Prata de melhor ator foi para o africano Sotigui Kouyaté, por "London River", o filme de Rachid Bouchareb que era considerado o favorito na competição, principalmente pela grande atuação de Brenda Blethyn, que saiu de Berlim de mãos vazias.

Já a estatueta de melhor atriz ficou com Birgit Minichmayr, por "Alle Anderen", o segundo prêmio para o cinema alemão.

O Urso de melhor diretor foi entregue a Ashgar Farhadi, por "Darbareye Elly", outro dos favoritos que saiu do festival sem o prêmio principal.

Outra produção que liderava as apostas, "The Messenger", do americano Oren Moverman, teve que se conformar com a estatueta de melhor roteiro.

Llosa e Biniez não foram os únicos cineastas latino-americanos que deixaram o festival com um prêmio. O Teddy, concedido ao cinema de conteúdo homossexual, foi para "Rabioso sol, rabioso cielo", do mexicano Julián Hernández.

Já o espanhol "Ander", de Roberto Castón, levou o prêmio da Confederação Internacional de Cinema de Arte e Ensaio.

A mostra oficial do festival terminou com a cerimônia da entrega dos prêmios e a exibição, fora de concurso, de "Eden is West", do diretor grego Constantin Costa-Gavras.

Nos dez dias do evento, foram exibidos 282 filmes, distribuídos em 1.238 sessões, e foram vendidos 270 mil ingressos, o que, segundo dados oficiais, significa um novo recorde de visitantes.


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Cinema latino-americano sai consagrado do Festival de Berlim

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