David Bowie
Créditos: Reprodução/David Bowie/Cosac Naify/MIS
Qual é seu personagem preferido de David Bowie? Ziggy Stardust, Alladin Sane, Thin White Duke, o da trilogia de Berlim, o novo romântico, o da eletrônica experimental, o neoclássico? Todos eles estão na exposição dedicada a ele no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, que abre nesta sexta-feira (31), e também no catálogo da mostra.
O livro, batizado apenas como David Bowie, está sendo lançado em coedição da editora Cosac Naify e do MIS. É o documento definitivo da memorabilia do ídolo com imagens de roupas, letras, desenhos e textos críticos, item obrigatório para os fãs do cara que ao se transformar levou o mundo consigo.
Em Teatro de Gênero, David Bowie no Apogeu da Revolução Sexual, um dos textos do livro, a crítica feminista Camille Paglia, faz uma análise emotiva das transgressões estéticas e comportamentais do astro. “Quando o vimos pela primeira vez na capa de um disco, o álbum Alladin Sane (1973), Ziggy Stardust já entrava em eclipse. A foto da capa, de Brian Duffy, com seu raio vermelho e azul atressando o rosto de Bowie, torno-se uma das imagens mais emblemáticas e influentes da metade do século passado, reproduzida ou parodiada na publicidade, nos meios de comunicação e nos showbiz em todo mundo”, afirma.
Paglia, que compara Bowie com ao poeta ultrarromântico Lord Byron no clipe de Blue Jean (1984) e a outros ícones literários como Oscar Wilde e Charles Baudelaire, vai além na análise da imagem de Alladin Sane: “Ela contém em si todo o romantismo, focado no artista como vítima mutilada de sua própria imaginação febril. Tal como o capítão Ahab, de Herman Melville, cujo corpo ficou marcado pelo relâmpago em sua busca pela baleia branca, Bowie como Ziggy é um viajante que desafiou os limites humanos ordinários e pagou o preço. Um Aladdin Sane (Aladdin são) no reino das artes é, em qualquer outro lugar, um lad insane (rapaz insano)”, divaga.
Em outro texto, o músico e apresentador de TV Howard Goodwall ressalta que compositores norte-americanos como John Cage, Terry Riley, Steve Reich e Philip Glass foram fundamentais para o estilo minimalista dos ábuns de Berlim, mas que Bowie tornou-se influente até para suas influências.
David Bowie – Sound And Vision
“Na esteira de Low, Heroes e Lodger (discos da trilogia de Berlim), o fluxo de influência reverteu-se e Glass compôs duas sinfonias baseadas em material de dois álbuns da trilogia – a sinfonia Low, em 1992, seguida em 1996 pela Heroes também foi adaptada para um balé contemporâneo coreografado por Twyla Tharp. A interação desses dois mundos, a música de concerto contemporânea e o pop, nas idas e vindas de Bowie, Eno e Glass, constitui um marco na convergência de gêneros musicais que é a história musical recente”, aponta.
David Bowie – Ashes To Ashes
Goodwall lembra ainda outro episódio que ilustra o impacto de Bowie: “Todo um movimento pop, o chamado new romantic, seria gerado em 1980 pela canção e pelo vídeo Ashes to Ashes“. Já Geoffrey Marsh, curador do Victoria and Albert Museum, de Londres, onde a exposição foi montada originalmente, mostra o contexto que permitiu a emergência do ídolo, da Londres do pós-guerra nos anos 50, da experiência com publicidade, teatro e as artes performáticas, ao estrelato alcançado com a penetração de uma nova “paisagem psíquica, criando Space Oddity“.
“Ao compor essa canção, quando completava 22 anos, Bowie pôs de lado a cronologia do século e começou outra, a dele mesmo. Em poucas palavras, Bowie rejeita o triunfo da tecnologia, americana ou soviética, e prefere falar de um novo desafio para a humanidade. Se o indivíduo exige a opção de determinar seu próprio futuro, qual é, então, a relação entre esse indivíduo e a sociedade?”, argumenta o curador.
Space Oddity, com o astronauta Chris Hadfield
Na conclusão de seu texto, Paglia lembra Fascination parceria de Bowie com Luther Vandross, de Young Americans (1975): “É uma canção tão passional, poderosa e explêndida que pode ser entendida como o manifesto artístico de Bowie, dirigida a ninguém senão a ele próprio”, defende.
“A letra descreve sua violenta captura, acompanhada de sua fascinação apaixonada, por sua própria mente, anelante e dividida quanto ao gênero. Ele é sua própria musa. ‘Can a heartbeat/Live in tbhe fever/Raging inside of me? (Pode uma emoção/Viver na febre/Que arde dentro de mim?)”, prossegue.
Em seguida, a crítica e acadêmica, chega a um desfecho apoteótico: “Há espaço para o amor pessoal ou mesmo para a própria vida para o artista impelido por incontroláveis surtos de inspiração? O mesmorizante teatro de figurinos, música e dança de Bowie é animado por uma emoção mercurial, no entanto, profunda – a linguagem universal que transcende o gênero”.
David Bowie – Where Are We Now?
Quando há um ano o ídolo recluso ressurgiu, sua música perguntava “Where Are We Now?” (onde estamos agora?). A resposta é evidente, nós sempre estaremos onde Bowie estiver.
SERVIÇO
David Bowie
Autor: Vários
Coedição: MIS – Museu da Imagem e do Som
Quanto: R$ 119,90
Capa dura
Formato: 310 x 240 mm
Páginas: 320
Peso: 2,1 kg
Isbn: 978-85-405-0579-7