Após a morte da empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, na última terça-feira (28) por suspeita de overdose, a polícia prendeu dois funcionários. Eles foram acusados de administrar a droga cetamina durante rituais de uma seita da qual Djidja e sua família faziam parte.
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O caso Djidja
Djidja Cardoso, sua mãe, Cleusimar, e seu irmão, Ademar, faziam parte de uma seita chamada “Pai, Mãe, Vida”, onde se viam como representações de figuras bíblicas: Jesus Cristo (Ademar), Maria de Nazaré (Cleusimar), e Maria Madalena (Djidja).
O grupo realizava rituais onde era administrada a droga cetamina, um anestésico e analgésico usado em humanos e até mesmo como tranquilizante de cavalos, para alcançar estados de superioridade espiritual induzida pela substância, que pode causar dependência e alucinações.
Desde abril, a família começou a ser investigada por tráfico da droga e a gerente de um salão de beleza de Djidja, Verônica da Costa, foi acusada de comprar cetamina em clínicas veterinárias sem receita médica para o uso nos rituais, dos quais uma ex-namorada de Ademar também alega ter sido aliciada para participar e usar a droga.
A cetamina é usada como anestésico para cirurgias humanas e como tranquilizante para animais, também sendo usada em tratamentos para quadros de depressão.
A formação de seitas segundo a neurociência
De acordo com o Pós PhD em neurociências e membro da Society For Neuroscience nos Estados Unidos, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a formação de seitas é realizada, principalmente, por manipulação mental através de técnicas de sugestão cognitiva.
“A famosa ‘lavagem cerebral’ não é como vemos nos filmes, na realidade ela é feita de uma forma muito mais lenta, através de sugestões e persuasão, sem necessariamente torturas físicas, por exemplo. Mas, principalmente, cercando uma pessoa de fatores que contribuem para a linha de pensamento e cortando laços dela com outras pessoas e alternativas”.
“No caso da formação de seitas, há um grande fator mental para a atração de novos membros, como no caso de Djidja Cardoso”.
“A sensação de pertencimento a algo maior é muito usada nessas situações, nesse caso específico com a associação a figuras de alto escalão religioso, reduzindo o círculo social a poucas pessoas e uso de alucinógenos, um combo que estimula o sistema límbico do cérebro, responsável pelas nossa emoções, o que torna a tomada de decisão altamente enviesada emocionalmente”.
“Isso interfere na conexão frontotemporal, afetando diretamente o córtex pré-frontal, fazendo com que haja uma predominância do sistema límbico para aquilo que satisfaz. Algo similar ao que acontece com pessoas narcisistas, por exemplo, em que existe um lado da consciência e coerência que não funciona corretamente porque a região da recompensa prevalece”, afirma Dr. Fabiano.
Sistema límbico e genética ajudam a facilitar a manipulação
“O sistema límbico, incluindo a amígdala e o hipocampo, é intensamente estimulado, enfraquecendo a conexão entre o lobo frontal e o lobo temporal, especialmente no córtex pré-frontal dorsolateral, responsável pelo pensamento crítico. Neurotransmissores como dopamina e serotonina são modulados, aumentando sentimentos de euforia e dependência emocional”.
“Genomicamente, variantes nos genes DRD4 e 5-HTTLPR, além de genes ligados à oxitocina, podem aumentar a susceptibilidade à manipulação e reforçar a ligação ao grupo. Esses fatores, combinados com técnicas de sugestão cognitiva e isolamento social, resultam em um controle profundo e sustentado sobre o indivíduo”, explica Dr. Fabiano de Abreu Agrela.