(Juan Palop, da EFE) Desde o começo da semana, 50 professores brasileiros trabalham no Timor-Leste ensinando 3 mil colegas locais a darem aulas de matemática e geografia em português, a língua que este jovem país escolheu como oficial, apesar de quase ninguém saber falá-la.

"É um desafio", disse à Agência Efe o diretor do programa de formação brasileira no Timor-Leste, o italiano Fernando Spagnolo. "A maioria dos professores de Timor não está preparada para dar aulas em português", disse o responsável pelo programa, que destaca a gravidade do problema, pois considera a educação a base do desenvolvimento de um país.

"Damos aulas de idioma para alguns para que possam lecionar suas disciplinas, sobretudo as de ciências. A outros temos que ensinar o português, porque não têm um nível mínimo", comentou Spagnolo.

Entre agosto e setembro, mais de 700 professores timorenses terão aulas de português especializado em matérias científicas, e cerca de 2,3 mil irão aprimorar seu português dentro deste programa de cooperação brasileiro. Depois, os professores locais retornarão aos seus postos, a maioria nas áreas rurais do país, para o início do ano letivo.

O Timor-Leste, país mais jovem e pobre da Ásia, está tentando se firmar como nação em todos os sentidos desde que alcançou sua independência em 2002. A educação do país, como muitos outros setores, ainda se encontra em fase de consolidação. "Na maior parte das escolas do Timor ainda não temos livros de texto em português, apesar de ser o idioma oficial. A maioria continua utilizando os livros em indonésio que tinha há 10 anos, quando o país estava ocupado pela Indonésia", aponta o diretor do programa brasileiro.

O Governo timorense optou pelo português devido aos quatro séculos de dominação lusa nesta região. Também queria evitar ser engolido cultural e politicamente por seus vizinhos, Indonésia e Austrália, caso optasse pelo indonésio ou pelo inglês como língua oficial. No entanto, estima-se que menos de 5% da população, basicamente os idosos e as elites, conhecem esta língua latina.

Cerca de 60% dos timorenses fala indonésio, como conseqüência da intensa campanha de escolarização realizada por Jacarta durante os 24 anos de ocupação (1975-1999).

Além disso, a maior parte dos timorenses, em torno de 80% segundo os números oficiais, se expressa em tetun, a segunda língua oficial do país. No entanto, segundo Spagnolo, este idioma conta com diversas dificuldades que impedem sua implantação como língua instrumental nas escolas.

"O tetun é um idioma falado, quase não se escreve e tem um vocabulário limitado. Além disso, sua gramática não está muito desenvolvida", assegura.

Apesar destes desafios, o diretor do programa brasileiro de formação de professores considera que estão sendo alcançados avanços. "Em 2005, quando chegamos, não sabíamos por onde começar. Agora as coisas estão melhorando", afirma, embora considere que ainda resta muito trabalho pela frente.

"A educação primária está em melhor situação que a secundária", acrescenta, e explica que nestes últimos três anos foram preparados e editados livros em português para os sete primeiros anos do ensino fundamental.

Agora, o programa olha em direção ao futuro, graças ao prolongamento por outro triênio do acordo bilateral de cooperação quanto à educação entre Brasil e Timor-Leste, assinado no mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe de Estado timorense, o prêmio Nobel da Paz José Ramos Horta.

"Resta muito a fazer. Estamos pensando em implantar uma espécie de bacharelado de emergência para os professores do ensino médio que exercem, mas não têm um título", aponta Spagnolo. "O Governo do Timor está muito contente com nosso trabalho e nos apóia em tudo o que fazemos", ressaltou.


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Brasileiros ensinam timorenses a lecionar português