(Por Camilo Rocha) Como todo mundo sabe, o que não falta é brasileiro vivendo nos EUA. Alguns nasceram aqui e foram viver lá. Outros nasceram lá e foram criados aqui e depois voltaram para lá. Alguns podem votar lá, outros não. O Vírgula foi atrás de alguns desses personagens para saber das impressões e opiniões deles sobre as eleições dos EUA. E descobrir que, se depender dos cidadãos brasileiro-americanos, é Barack Obama na Casa Branca em 2009.

Começamos com o DJ Ray Briones, que nasceu em Nova York. Seus pais são brasileiros de Minas Gerais e ele morou seis anos em Governador Valadares nos anos 80. Em 89, voltou e desde então ele mora na região do Queens, colado em Manhattan. Ele conta que vive numa área de predominância branca e tem “escutado comentários insatisfeitos com a liderança do Obama nas pesquisas. Cheguei até a escutar comentários racistas, o que me surpreendeu estando em Nova York, um dos estados mais liberais. Parece que esses italianos velhos não estão muito felizes com o Obama.”

Do outro lado do país, em Redondo Beach, subúrbio de Los Angeles, o cenário é bem diferente. O paulista Juan Rother, que mora ali faz um ano e trabalha numa loja de frozen yogurt italiano e na construção diz que sua área é Obama na cabeça. “Aqui onde moro é um lugar bem bonito, com casas de pessoas bem ricas e população entre branca e mexicana. As casas estão todas com cartazes com o rosto do Obama, não vejo nada do McCain.” O sentimento anti-Bush na região é forte: “Eu vejo vários carros com adesivos mostrando o último dia do mandato do Bush”, conta Juan.

Um cenário parecido de volta na costa leste, em Nova York, conta Gabriel Tate, pai do Alabama, mãe carioca e que foi criado no Rio e se mudou para Nova York há seis anos. Ele trabalha como gerente-assistente na boutique Balenciaga. “Fui votar as 9 da manha e tinha uma fila enorme, com cerca de 250 pessoas esperando para votar, muitos com broches do Obama. Não cheguei a ver ninguem com nada do McCain.”

Excitação geral

“O Clima aqui em San Francisco está bem tenso,” conta David Charles, que nasceu em Massachussets, morou 15 anos em Belo Horizonte, Rio e São Paulo e há dois anos vive na cidade do norte da Califórnia, trabalhando em arte, publicidade e jornalismo. “Porque todo mundo sabe que se o McCain ganhar, essa crise só vai se tornar ainda mais real e próxima de nós. O pessoal aqui é bem politizado.”

Ao contrário do Brasil, dia de eleição nos EUA nunca foi algo muito excitante. “Como a eleição não é obrigatória não tinha aquela movimentação toda no dia de votar”, conta o cirurgião vascular Marcelo Cury, 31 anos, que mora em Cleveland, EUA. Mas a eleição deste ano nos EUA está sendo um tanto diferente do normal. “Existe um grande movimento para estimular as pessoas a votar,” continua Marcelo.

E os americanos estão respondendo à convocação. “Nunca viram tanta fila pra votar como está se vendo hoje. Tá loucura de verdade”, conta Juan.

“Acredito que essa eleição balançou muito os EUA,” explica Marcelo. “Eles estão cansados do Bush, querem mudança. O que não significa Obama. Para os republicanos, o McCain é o anti-Bush. Não acredito que o republicano vote no Obama.”

Obama na cabeça
Juan não pode votar nos EUA, nem Marcelo. Já David, Gabriel e Ray podem ir à urna por terem cidadania americana. Apesar dessa diferença, os cinco tem um candidato comum: o democrata Barack Obama.

David: “Sou Obama atéo fim. Ele tem a visão do lado de fora que os EUA precisam pra se recuperar e voltar a terem boas relações internacionais. Acho que vai ser positivo para os estrangeiros que moram aqui e também para os que querem vir trabalhar, visitar ou estudar.”

Juan vai na mesma pegada: “Sou imigrante e quero estar aqui por mais tempo, continuar estudando e poder trabalho. Talvez um cara que seja muito conservador pode deixar as coisas mais difícies pro meu lado. Acho que Obama tem uma intenção melhor. E chega de guerra!”

“Obama traz algo que há muito não via num candidato”, explica Ray, “paciência combinada com inteligência. Ele não tem uma mente militarizada como o McCain, que era piloto de caça.”
Gabriel acha que as pessoas do governo atual “afundaram o país, deixando uma bagunça que está tendo efeitos mundo afora. Apenas uma pessoa com a determinação de Obama tem a chance de fazer as mudanças necessárias.”

Marcelo é o único que não é 100% Barack Obama. “Sinceramente, acho os dois partidos farinha do mesmo saco. Mas Obama é novo e empolgado. Se eu fosse americano, me daria mais segurança votar no McCain, mas sei que na hora H iria apertar o botão no Obama, afinal, “chegou a hora de mudar”.


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Brasileiros contam sobre dia de eleição nos EUA