Os personagens de ficção que passam de geração a geração evoluem e muito: Batman, o homem-morcego criado por Bob Kane e Bill Finger, e que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos na DC Comics em 1939, completa 75 anos muito confortável em sua faceta mais obscura desenvolvida na última trilogia nos cinemas e já afastado de seu psicodélico passado pop.

A encomenda feita pela DC a Kane, que durante décadas minimizou as contribuições estilísticas de Finger, era encontrar um personagem capaz de concorrer em popularidade com o Superman, o super-herói do planeta Krypton nascido alguns meses antes nas páginas da Action Comics, e transformado no alvo a bater pelas demais editoras.

Se o Homem de Aço tinha dons sobre-humanos, a dupla Kane-Finger criou um jovem milionário sem superpoderes, mas com uma obsessiva ânsia de justiça surgida depois de testemunhar o assassinato dos próprios pais. Bruce Wayne, nome civil do atormentado ser de vida dupla, foi o protagonista da edição número 27 da revista Detective Comics, que foi para as bancas em maio de 1939.

Batman estava claramente inspirado em personagens como Zorro, simples mortais à primeira vista, mas dotados de agilidade, força e inteligência muito convenientes para lutar contra o crime, explicou à Agência Efe o crítico Antoni Guiral, curador da exposição que o Salão da História em Quadrinhos de Barcelona dedicará ao homem-morcego.

O sucesso do protetor de Gotham City foi imediato. Em 1940, já havia uma revista com seu nome e em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, uma tirinha diária na imprensa junto com seu jovem aprendiz Robin – uma relação mestre-pupilo onde os mais desconfiados viram uma carga homoerótica que seria prejudicial para adolescentes e crianças, como apontou o psiquiatra Fredric Wertham no estudo Sedução dos Inocentes, lembrou Guiral.

Mas o Batman sombrio, maduro e cheio de arestas, que os atuais fãs associam à graphic novel O Cavaleiro das Trevas, do genial Frank Miller (1986) e, principalmente, à recente trilogia cinematográfica de Cristopher Nolan – que deu ao herói o rosto de Christian Bale -, tinha tido um passado colorido que alguns de seus mais fãs mais fundamentalistas renegam.

A interpretação kitsch na televisão nos anos 60, protagonizada por um Adam West fora de forma, com passado de peso, com cartazes de cartolina, gadgets de todo tipo, onomatopeias escritas na tela e a inesquecível e grudenta trilha sonora devolveu o interesse do público pelo personagem, que estava em baixa.

Despropósito estético para uns ou adoravelmente despretensiosa para outros, o seriado durou de 1966 a 1968 e foi considerado uma sátira consentida ao herói atormentado.

Recuperando pouco a pouco o prestígio cool nas duas últimas décadas, o personagem de Batman está agora indiscutivelmente no pódio da cultura pop junto do irrepreensível Superman, inclusive um degrau acima para alguns, graças à roupagem e estilo executada por Miller.

“É um personagem complexo, psicologicamente rico, que tem fragilidades”, destacou Guiral, que, no entanto, pessoalmente prefere o Batman saído dos roteiros de Dennis O’Neil, com argumentos próximos da série noir, e da “dinâmica artística” que o desenhista Neal Addams dava aos seus traços na mesma série.

Para celebrar os 75 anos de Batman, além de edições e materiais especiais a cargo do próprio Frank Miller e de Neal Adams, entre outros autores, foi criado um novo logotipo para o homem-morcego. E o “Batman Day” está marcado para o dia 23 de julho nos Estados Unidos, com atividades em lojas e livrarias de todo o país.


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Batman completa 75 anos confortável com sua versão mais obscura

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