Maio, mês da Consciência Negra, é agitado em Barra do Piraí, na região Sul do Rio de Janeiro. A cidade se firma cada vez mais como um importante lugar de preservação do jongo, dança rural brasileira de origem africana e tradição centenária, considerado uma espécie de avô do samba carioca. Passada de geração em geração por três famílias dos bairros de Caixa Alta Velha, Boca do Mato e Boa Sorte, a prática do jongo no município deu origem à fundação, em 2007, da Associação Cultural Sementes D’África. A tradição sempre se manteve viva graças a vários grupos, que se juntavam vez ou outra, sem periodicidade definida. Há sete anos estão organizados como um coletivo. E no dia 13 de maio, dia da Consciência Negra, anualmente, organizam diversas atividades.
A Associação integra a rede de Pontos de Cultura do Governo Federal com o projeto “Jongo – História, Sabedoria e Identidade Negra”, e promove atividades voltadas à transmissão dos saberes e práticas desta cultura fluminense. Tudo começou com os grupos Filhos de Angola, Tio Juquinha e o Tia Marina, no bairro de Boa Sorte, pioneiros na formação da Associação, presidida por Cosme Medeiros, um dos líderes dos Filhos de Angola – a vice é Eva Lúcia de Moraes, sobrinha e afilhada do Tio Juquinha, antigo mestre do jongo do bairro Boca do Mato (e ex-presidente).
A história do jongo na região começou nas antigas senzalas das fazendas de café. Com a abolição, muitos escravos se tornaram empregados e, em dias de festa e descanso, faziam rodas de jongo nos terreiros ou fundos de quintais. Para tocar o ritmo da dança, bastam dois tambores pequenos, chamados de candongueiros, e um tambor grande, o caxambu, instrumentos feitos de troncos de madeira e couro animal – e para afiná-los, é necessário acender uma fogueira e virar o couro para o fogo, depois de pincelado por cachaça.
O jongo de Tia Marina deixou de fazer parte da Associação Sementes D’África, mas realiza uma grande roda todo dia 13 maio, integrando também as comemorações do Dia da Consciência Negra. Nesta data, os membros da Associação percorrem as escolas da região, além das fazendas históricas, para cantar a memória dos seus ancestrais, dançar e ainda ensinar como se afinam os instrumentos. A Associação pertence também ao Conselho de Igualdade Racial de Barra do Piraí, empossado em fevereiro deste ano, fruto de uma luta histórica do movimento negro na cidade.