Você já sentiu vergonha de ir até o banheiro segurando um absorvente fechado? Já trocou a palavra “menstruação” por “aquele período do mês” na hora de explicar que estava menstruada? Desistiu de algum compromisso por medo do que as pessoas fossem dizer ou reparar em você? Esses sinais são sutis e, aparentemente, inofensivos. O grande problema é o que está por trás dessa dificuldade que ainda sentimos na hora de falar sobre menstruação. O tabu prevalece em pleno século 21.
A conclusão é de uma pesquisa realizada pelo aplicativo de saúde feminina Clue em parceria com a Coalizão Internacional pela Saúde Feminina, que entrevistou 90 mil mulheres em 190 países diferentes. O objetivo era compreender como cada uma delas, dentro da própria cultura, lida com a menstruação e seus efeitos no organismo feminino. Apesar de ser uma pesquisa tão abrangente, os resultados mostraram que o estranhamento em relação ao próprio período menstrual é algo que supera fronteiras e ideologias.
APELIDANDO O SANGUE
Tudo começa na hora de falar abertamente sobre o tema: 86% das entrevistadas afirmaram que se sentem totalmente à vontade para conversar sobre menstruação com outras mulheres. Compreensível, mas a situação muda no relacionamento com o sexo oposto. Apenas 34% delas conseguem tocar no assunto com parceiros ou colegas do sexo masculino, como se fosse um tópico proibido ou vergonhoso. Na Rússia, os resultados são um pouco mais alarmantes, já que esse número cai para 14%. No Japão, também conservador, a porcentagem é de 12%.
Os números mostram também como nós, mulheres, lidamos com esse período do mês. Por que “menstruação” é uma palavra que causa tantos arrepios? Os pesquisadores descobriram que existem mais de 5 mil eufemismos para tornar o tema um pouco menos constrangedor. “Menstruei”, por exemplo, dá lugar a “desceu para mim”, trocadilho misterioso e muito difundido entre as mulheres. Mas não é só em português que rola esse troca-troca, viu?
“HOJE NÃO DÁ”
As cólicas menstruais são reais e podem atrapalhar os planos de uma mulher. Dá vontade de ficar em casa, debaixo das cobertas, até as dores agudas cessarem. Mesmo assim, o simples fato de estar menstruada, ainda que sem dor, transforma-se em um obstáculo para aproveitar o dia a dia tranquilamente, sem medo de ser feliz. Ao todo, 17% das entrevistadas confessaram que já desistiram de algum tipo de compromisso por estarem menstruadas, com medo de que alguém descobrisse algo ou visse a marca do sangue na roupa, por exemplo. Claro, porque estar menstruada nunca é um bom sinal, certo?
Por isso mesmo, só uma educação adequada sobre o período menstrual é capaz de combater preconceitos, tabus, senso comum e desinformação. Também é o caminho para olharmos com mais naturalidade para esse processo tão natural do organismo. O grande problema é que isso varia de acordo com a cultura de cada país. De maneira geral, 82% das entrevistadas afirmaram que tiveram uma boa educação sobre o tema, mas não dá para comemorar o mesmo sucesso em outros países, bem mais conservadores. Na Rússia, essa porcentagem cai para 75%. Tá na hora de falarmos sobre o sangue, sem medo ou vergonha.
Uma artista resolveu quebrar esse silêncio tão sagrado em torno da menstruação e criou uma série fotográfica que choca e fascina ao mesmo tempo, por tratar o sangue como aquilo que ele realmente é: pureza. Se liga na galeria aqui embaixo:
Quando a menstruação vira arte
Créditos: Reprodução/Bored Panda
