Na maioria das igrejas convencionais (exceto algumas inclusivas, como a Comunidade Cidade do Refúgio ), gays não são bem recebidos. Apesar de a bíblia dizer que todos somos iguais perante a Deus, na
prática, as palavras sagradas são usadas também para justificar a ideia
preconcebida do pecado. 

E, se pecador não vai para o céu, talvez seja a
tentativa de ser aceito no paraíso que motive algumas pessoas a “resgatarem” a heterossexualidade perdida.

O Virgula Lifestyle entrevistou dois ex-gays que atestam que é possível passar para o lado de lá.

Removido há pouco de tramitação, o processo de cura gay que quase virou lei não foi tirado da imaginação do deputado João Campos, seu proponente. Ele existe e é bastante praticado em alguns templos evangélicos. Com a diferença de ser conduzido por pastores e não por psicólogos, como pretendia o projeto.

Leia abaixo os relatos de dois ex-gays que trocaram as perucas pelos cultos evangélicos.

Como um gato que
pensa ser cachorro


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À esquerda, Eduardo Rocha no passado como a drag queen Grevâniah Rhiuchélley, à direita, atualmente ao lado da mulher Genoveva

“Não existe nenhuma comprovação ou evidência científica que
afirme que as pessoas nasçam gays. Isso é o que dizem os ativistas
pós-modernos. Eu também pensava dessa forma, acreditava que eu tinha nascido
daquele jeito, que minha alma era feminina”, conta Eduardo Rocha, 30 anos,
presbítero da igreja Sal da Terra.

Abusado sexualmente na infância, Rocha começou a ter
relações homossexuais aos 12 anos e, aos 16, atendia pelo nome de Grevâniah
Rhiuchélley, uma drag queen que apresentava um programa de televisão (transmitido por uma canal de TV de Uberlândia) que abordava,
entre outros assuntos, o universo gay. Ele se considerava um militante das
causas homossexuais.

Um dia, em 2004, durante uma rave na cidade de Alto Paraíso,
no interior de Goiás, Rocha diz ter ouvido a voz do senhor. “Ela (a voz) me disse que era o
Senhor e que mudaria minha vida.” A partir de então começou a ler a bíblia, frequentar a igreja e deu início à “restauração da identidade sexual segundo o
padrão bíblico”, como ele chama. Três anos
depois da conversão, em 2007, começou a namorar a musicista Genoveva Geni, com
quem se casou em 2011.

“Hoje ainda estou me descobrindo como homem. É como um gato
que a vida toda achou que era um cachorro. É um aprendizado”, disse.

Rocha se tornou uma referência para jovens gays
que desejam se tornar heterossexuais. “Muita pessoas que vivem a
homossexualidade e não estão felizes com essa condição nos procuram querendo
entender o que eu vivi. Elas olham para a minha vida e acreditam que a mudança é
possível”, diz.

Semanalmente, ele se encontra com um grupo de cerca de 20 gays em
reuniões onde lêem a bíblia e contam suas histórias de vida. “Não quero obrigar
aqueles gays que se dizem felizes com sua sexualidade a se tornarem
heterossexuais, mas quero que eles saibam que existe um caminho de mudança se
quiserem”, disse. “Recebo cerca de 30 e-mails por dia de pessoas infelizes com
sua condição sexual. A psicologia não pode ajudá-las, mas a religião pode. É
possível mudar a orientação sexual através dos princípios da fé cristã”,
explica.

Deus não é uma fada
madrinha

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À esquerda, Joide Miranda na época em que se travestia, à direita, ao lado da esposa, com quem tem um filho

Joide Miranda, 49 anos, passou mais da metade de sua vida
como um homossexual. Aos 12 anos começou
a tomar hormônios e a se travestir e até os 26 anos percorreu cidades
importantes do mundo todo se prostituindo. “Ganhei muito dinheiro, mas me
sentia sozinho e sem paz”, diz.

Em 1991 começou a frequentar a igreja e se converteu. Foram quatro longos anos em processo espiritual para deixar de ser gay com a ajuda de pastores
e de uma psicóloga (o Conselho Federal de Psicologia proíbe profissionais da
área de colaborar com serviços que ofereçam tratamento e cura para
homossexualidade
). Miranda se casou em 1998 e, dois anos depois, se tornou pai. 

“Deus não é uma fada madrinha que vem com uma varinha de
condão para te libertar da homossexualidade instantaneamente, é um processo demorado.
Eu sofri muito para deixar de ser gay, lutei contra meus próprios pensamentos e
desejos, renunciei a tudo, mas foi possível reencontrar minha identidade
sexual”, conta.

Atualmente Joide é pastor da Igreja Evangelho Integral e por
meio da Associação Brasileira de ex-Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (ABexLGBTTs), ajuda quem deseja voltar a ser heterossexual. “A
homossexualidade é um vício, é uma conduta que pode ser desaprendida. Estamos
prontos para ajudar quem quer deixar essa vida para trás”, explica.

Em suas pregações, Joide diz que frequentemente é
questionado sobre como reagiria se um dia seu filho se revelasse homossexual:
“Eu respondo que isso jamais vai acontecer, pois sou um pai presente. As
crianças copiam os adultos. Sou o reflexo para meu filho. Se dissermos que Deus
criou a homossexualidade o estamos chamando de incompetente e ele não é
incompetente”, diz.


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Acolhidos pela igreja, ex-gays garantem que se tornar heterossexual é possível