(Por Camila da Rocha Mendes) Enquanto todo mundo estava de olho nas autoridades norte-americanas e nas medidas de socorro ao sistema financeiro anunciadas nos Estados Unidos, um personagem inusitado surgiu das entranhas da crise e é apontado como o responsável por acalmar os mercados, que engatam uma recuperação desde ontem.
Esta figura é o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que anunciou um pacote de medidas apontado como ideal por muitos economistas – entre ele o recém-anunciado prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.
Governo sócio dos bancos
O plano britânico de ajuda aos bancos prevê a liberação de cerca de US$ 64 bilhões do dinheiro de impostos recolhidos para ajudar os três principais bancos em um movimento que pode tornar o governo o seu principal acionista. Entre os bancos ajudados estão o RBS (Royal Bank of Scotland), o HBOS (Halifax Bank of Scotland) e o Lloyds TSB. As medidas prevêem o lançamento de novas ações das instituições no mercado, a compra.
Deste montante, até US$ 31,5 bilhões podem ser usados para comprar ações destas instituições, o que, na prática, torna o governo sócio destes bancos.
Esta ajuda estatal aos bancos não tem precedentes e é essencial para todos, afirmou Brown, em entrevista à imprensa em Londres. O premiê criticou os riscos "excessivos" assumidos por estabelecimentos financeiros, buscando lucros máximos. O governo britânico também disse que pretende punir os executivos de bancos que agiram de forma imprudente, causando a insolvência das instituições.
Na seqüência do Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha e outros governos europeus divulgaram pacotes de resgates semelhantes, que totalizam centenas de bilhões de dólares.
EUA também seguem exemplo
Os EUA também decidiram seguir o exemplo britânico e, nesta terça-feira (14), o presidente George W. Bush anunciou que o governo pretende usar US$ 250 bilhões para comprar ações de inúmeras instituições bancárias, com recursos que já haviam sido previstos no pacote anti crise de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso.
Comparando a atuação das autoridades britânicas com as norte-americanas, Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia, disse que “(…) o governo britânico foi direto ao cerne do problema – e mobilizou-se para enfrentá-lo com uma velocidade estonteante”, em sua coluna do jornal “New York Times”.
“O governo Brown mostrou-se disposto a pensar com clareza a respeito da crise financeira, e a agir com rapidez para resolvê-la. E esta combinação de clareza e decisão não foi aplicada por nenhum outro governo ocidental, e muito menos pelo dos Estados Unidos”, argumenta o colunista.