(Por Camila da Rocha Mendes) O primeiro-ministro do Japão, Taro Aso, acredita que a força da cultura mangá pode ajudar a levantar a economia do país. Recém empossado no cargo, em 24 de setembro deste ano, Aso é um conhecido fã das tradicionais histórias em quadrinho e diz ler cerca de dez delas por semana.
O premiê, aos 68 anos, acredita que os aficionados por mangás e animes, conhecidos por otakus no Japão, podem ajudar a disseminar a cultura pop japonesa no mundo ocidental, sobretudo influenciando os jovens com suas referências para o mercado da moda e do design. “Graças aos otakus, nós podemos mandar mensagens sobre a cultura japonesa para o mundo todo, devemos ter orgulho disso”, afirmou o ministro em evento sobre tecnologia recentemente.
Esse tipo de estratégia de relações internacionais é chamada de “soft power” (poder suave, em inglês) e consiste na habilidade de um corpo político, como um Estado, de influenciar indiretamente o comportamento ou interesses de outros corpos políticos por meios culturais ou ideológicos.
O sucesso da estratégia está diretamente ligado ao seu autor e no que depender da capacidade de Aso em atrair atenção, e no potencial do Japão em exportar estilo, talvez a economia do país possa ser de fato beneficiada. Segundo o jornal inglês “The Guardian” ações de empresas japonesas relacionadas à produção de mangás subiram nas vésperas de Aso assumir o governo.
Velhinho descolado
Taro Aso foi o terceiro chefe de Estado japonês eleito no último ano, assumindo o comando após seu antecessor renunciar repentinamente, em meio a uma crise política, e diante da baixa popularidade do governo. Desde 2006, os primeiros-ministros são escolhidos indiretamente pelo parlamento.
Além disso, ele é católico num país dominado pelo budismo. Como se não bastasse, o premiê também é famoso por cometer gafes verbais. Contudo, pesquisas revelam que a sua imagem de velhinho descolado (nacionalista, populista e fã de mangás) está funcionando e seu governo tem 53% de aprovação, segundo pesquisa do diário de negócios Nikkei.
Crise econômica
A parte dos desafios políticos, por ser uma figura polêmica, Aso também enfrenta um clima de extrema incerteza no panorama econômico mundial. Afetado pelas turbulências financeiras, cujo epicentro está nos Estados Unidos, o Japão viu sua economia encolher 3%, na comparação anual, no segundo trimestre deste ano.
Como resposta aos efeitos da crise econômica norte-americana, Aso promete cortar impostos e aumentar os gastos públicos. "Os Estados Unidos podem enfrentar uma crise financeira equivalente à da grande depressão", disse Aso, em pronunciamento oficial, no sábado. "O Japão tem de tomar medidas para melhorar sua economia e para reativar a demanda doméstica."
Amigo do Brasil
Aso tem intimidade com o Brasil. Isto porque, ele viveu em São Paulo nos anos 60, como diretor da empresa de sua família, fala português, integra o Grupo Parlamentar Brasil-Japão e visitou nosso país em 2007, como ministro das Relações Exteriores, para o lançamento das comemorações do centenário da imigração japonesa.
Desde os anos 1970, as relações comerciais entre Brasil e Japão estão bastante mornas, mas com Aso no comando no Japão, elas podem ser renovadas. A primeira aproximação foi a escolha do sistema japonês para a TV digital no Brasil. Outro negócio em andamento entre os dois países é a licitação para construir um trem-bala por aqui. O Japão deve apresentar projetos do trem de alta velocidade para os trechos entre São Paulo e Rio de Janeiro e também entre o centro da capital paulista e o aeroporto de Guarulhos.