Vira e mexe algum texto se torna viral nas redes sociais falando sobre a geração Y. Na maioria deles, o conteúdo é sempre uma enxurrada de críticas. Como a geração melhor capacitada e mais criativa que já houve pode supostamente estar dando tão errado? O que está acontecendo com estes jovens? “São muitíssimo competentes, mas falta atitude”, resume Sidnei Oliveira, escritor e formador de mentores.
Pela primeira vez na história, cinco gerações dividem – e disputam – o mesmo ambiente de trabalho. Neste cenário, estes jovens ocupam o lugar dos profissionais mais novos, e também, os mais inovadores e bem treinados. Os veteranos se sentem ameaçados por esta alta concorrência tornando-se grandes críticos, mas nunca aliados e companheiros de trabalho.
“A geração Y que hoje está no mercado foi a primeira de crianças incríveis, que eram acima da média. Mas quando elas se tornaram competidoras no ambiente de trabalho, de repente viraram um bando de mimados, imaturos, cabeças ocas? Não é possível que isso tenha acontecido, certo? Todas estas crianças não podem ter virado bestas quadradas”, argumenta Beia Carvalho, presidente da Five Years From Now.
Por outro lado, a imaturidade, ansiedade e individualidade desta turma tem dificultado a vida profissional e reduzido os impulsos que alguns talentos precisam para despontar. Para muitos é difícil se livrar da dinâmica da casa dos pais e não se comportar como uma criança mimada no escritório.
“É óbvio que uma geração em que grande parte tem 30 anos e ainda mora na casa dos pais vai ser menos evoluída emocionalmente. Isso acontece em todas as classes sociais. E não é certo nem errado, é uma realidade diferente”, completa Beia.
Competência x ansiedade
E então como lidar com este duelo inédito no universo profissional? Para começar, a geração Y é também chamada de Millenials e formada por pessoas nascidas entre o início da década de 1980 e o fim dos anos 1990. Não é uma classificação científica, é apenas um critério didático e sociológico validado por especialistas para explicar como a época de chegada ao mundo e a criação influenciam no comportamento e nos tipos sociais de um grupo. Mas claro que nem todo mundo tem este mesmo padrão. Vale lembrar que tudo que tenta entender tanta gente ao mesmo tempo acaba inevitavelmente criando estereótipos.
Esta geração foi a primeira a nascer em um mundo tecnológico, de mudanças econômicas rápidas e relativa prosperidade, cenário muito diferente das anteriores. Por tudo isso, eles têm alguns comportamentos mais abrangentes.
Como por exemplo, preocupam-se mais com a diversão que com a responsabilidade. São mais distraídos, sofrem de falta de foco e excesso de superficialidade porque a tecnologia possibilita fazer muitas coisas simultaneamente, mas tudo sem tanta atenção. As gerações anteriores mal conheciam a individualidade, por isso os pais desta valorizaram demais o conceito criando jovens autocentrados – o resultado primeiro é sempre para si e depois para a comunidade. Os avós trocavam cartas, nós mandamos whatsapp. Esta lógica aumentou a impaciência e prioriza tudo que é instantâneo.
“Eles são jovens, mas o que chama a atenção nas gerações Y e Z é que algumas características juvenis são muito salientadas, como a ansiedade. Ela é extremamente inflada”, explica Sidnei Oliveira.
Considerando que os mais velhos da geração Y têm hoje 36 anos, eles são os jovens do escritório. E, por natureza, é deles a função de ir contra as regras, de gerar “conflitos”. É também é deles o papel de alterar o que está sendo feito e brigar pelo que se acredita.
Como ser chefe logo?
Mas é aí que entra uma das maiores críticas que este grupo recebe: questionar demais e fazer de menos. Reclamar de tudo e não mudar nada. O ambiente de trabalho é construído de acordo com as ideias de quem o ocupa, obviamente por isso ele é diferente hoje do que era há 20 anos. Estes jovens sabem como gostariam que um escritório fosse, mas não querem colocar a mão na massa para construí-lo. Sabe aquele famoso “mimimi” que tantos críticos usam para se referir aos millenials? Justamente isso.
“Essa geração está demorando demais para entrar no jogo. Eles primeiro esperam o cenário mudar para depois começar. Assim é muito fácil. Isso mostra imaturidade. Se não tem horário flexível, home office, pebolim, plano de carreira eles nem vão trabalhar. Espera aí. Primeiro você mostra seu talento e a partir daí vai mudando as regras. Falta muita atitude”, opina Sidnei.
Os especialistas concordam que são profissionais que esperam demais da empresa, mas ignoram um pouco a relação de troca. A dificuldade em aceitar a pressão e cobranças, entregar resultados, lidar com hierarquia e a ansiedade de “como faz para ser chefe logo?” são alguns destes “sintomas”.
“Eles precisam entender que a empresa não é tutora, não vai cuidar deles. Par ter sucesso tem que trabalhar e esperar ele acontecer. Reconhecimento leva tempo e para estes jovens falta resiliência para aguentar este período. Esta geração não tem paciência para ser bem sucedida”, diz Sidnei Oliveira.
E talvez esta falta de paciência seja porque a divisão entre vida pessoal e profissional é cada dia menor e parâmetros para felicidade ou frustração hoje invariavelmente incluem estes dois universos. Uma pesquisa feita no fim do ano passado pela CompTIA, associação que representa mundialmente a indústria da tecnologia da informação, mostra esta tendência. Ela apontou que a redução da distância pessoal e profissional, aceitar ganhar menos para desempenhar uma função que satisfaz e poder trabalhar em casa alguns dias da semana são as principais tendências que devem moldar o ambiente de trabalho nos próximos anos quando grande parte desta geração começar a assumir cargos de chefia.
Novos rumos
Ao lado destas mudanças está um ponto a favor deste grupo que é a certeza de escolher uma profissão e poder se dedicar e fazer o que se gosta. Isso é um avanço e tanto considerando as décadas passadas, já que o trabalho não é mais só o ganha pão de antes.
Mas, apesar de poder, esta escolha nem sempre é fácil e esbarra também nas alterações do mercado. Cenários considerados sólidos há dez anos podem não fazer sentido ou não ter valor em cinco anos. Ser engenheiro ou advogado, por exemplo, não é mais certeza de bolso cheio e valorização. Uma pesquisa de 2013 feita por dois estudiosos da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostrou que ocupações como operadores de telemarketing, bibliotecário, analista de crédito, empacotador de supermercado, operador de rádio e auxiliar odontológico devem deixar de existir em uma ou duas décadas. Além destes, vários outros trabalhos também ganham novas roupagens ou não serão tão importantes. Por isso, a da geração Y a tarefa de modernizar algumas profissões e dar fôlego a novas. Quem nunca se pegou tentando fazer um tio ou a mãe entender o que você faz o dia todo sendo um assessor de imprensa, social media, coach, videomaker?
O que fica claro é que se mais para o lado tradicional ou inovador, esteja sempre preparado porque a concorrência e as exigências de um mercado em crise que, claro, busca produtividade é gigante.
“A empresa sempre tem que contratar o melhor. Porque contratar alguém que fala duas línguas se tem quem fale três? Conhece 10 países e não só três? O que vai importar daqui pra frente é quem tem cérebro, quem pensa, quem estuda. O que é repetitivo e automatizado não terá mais valor”, completa Beia Carvalho.
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