Você manda seu currículo e recebe um email ou telefonema com o tão temido convite: participar de uma dinâmica de grupo. Mas porque a simples menção ao termo já faz com que muita gente se preocupe e alguns cheguem até a desistir de concorrer a uma vaga?

“As pessoas, em geral, tem medo de se expor”, opina Marlene Ortega, diretora da Universo Qualidade, entidade especializada em treinamentos e eventos corporativos, e presidente do Business Professional Women – SP. “Quando existe um vínculo de confiança fica mais fácil, mas não é o caso da dinâmica, onde você não conhece a empresa e nem as pessoas que estão ao seu redor”, complementa.

Paulo Henrique Rocha, consultor da Corrhect – Gestão em Recursos Humanos, vai além: “Este tipo de técnica retrata pânico principalmente pelo fato de exigir ações em público que podem gerar constrangimento, exposição e até mesmo um cenário de ameaça em relação aos outros integrantes do grupo, que são considerados concorrentes”, afirma.

E porque, mesmo sabendo disso, muitas empresas adotam o processo? Os dois consultores concordam que a dinâmica de grupo é uma forma eficiente de avaliar os relacionamentos e a interação que um possível funcionário teria em equipe.

“Uma entrevista individual é muito teórica, intelectualizada, o candidato apresenta um retrato. Na dinâmica, a empresa pode avaliar seu comportamento, tanto em relação ao ambiente quanto em relação a um grupo”, diz Marlene.

“Independentemente do segmento ou área de atuação, o momento atual precisa de profissionais com características de um eficiente “vendedor”. Assim, apresentação pessoal, iniciativa, acreditar em si mesmo, demonstrar uma visão sistêmica de todo o processo, ser ético e expor opiniões baseadas em fundamentos, tornam-se diferenciais em dinâmicas de grupo de qualquer natureza”, acrescenta Paulo Henrique.

Despreparo das empresas

Mas se o processo parece ideal na teoria, a prática nem sempre corresponde. O estudante de jornalismo Alexandre Perger, de Joinville (SC), encaixa-se muito bem nesse exemplo. Quando procurava seu primeiro emprego, em uma multinacional, ele foi submetido a uma dinâmica de grupo.

“Não me senti a vontade para falar, já que o ambiente parecia muito forçado, não tinha sinceridade naquilo. A impressão que dava era de que eles pegaram vários e colocaram numa sala e fizeram a dinâmica só para “cumprir tabela”. Tanto que não foram feitas perguntas que pudessem revelar alguma coisa sobre o meu caráter profissional”, lembra.

A experiência de Alexandre pode ser enquadrada em uma banalização do método, como alerta Marlene Ortega. “O resultado de uma dinâmica depende muito da capacidade de avaliação de quem a conduz. Hoje criou-se o mito de que ‘toda empresa séria faz’ e por isso é necessário fazer também. Mas nem todos estão preparados para realizar uma dinâmica”, avalia.

Além disso, a economia de custos (incluindo tempo) também contribui para que muitas empresas optem por essa forma de seleção. “Mas o barato pode sair caro, porque o funcionário mal avaliado pode dar problemas no futuro”, diz.

Dicas

Mas, considerando que se trate de uma empresa séria, com um processo bem conduzido e eficiente, qual a melhor forma de se preparar para uma dinâmica? Os consultores dão algumas dicas essenciais.

“Toda esta atmosfera traz alguns itens merecedores de atenção diferenciada, como a pontualidade, evidência do equilíbrio emocional, plena realização de tarefas sob pressão, iniciativa, liderança, comunicação e criatividade, sem esquecer que o processo de avaliação tem seu início já na chegada à recepção da empresa”, avisa Paulo Henrique Rocha.

Além disso, ele aponta um detalhe fundamental: “Não existem candidatos com talento ou sem talento, e sim aqueles profissionais mais adequados aos perfis construídos pela empresa que está à frente das contratações, ou que estejam no momento mais apropriado de sua carreira para assumir aquele cargo”.

Outro ponto importante, segundo Marlene, é não tentar parecer o que não é. “Não adianta forçar um perfil que você acha que é o que a empresa quer. Até porque você não sabe o que eles procuram. Às vezes a busca é por alguém que saiba atuar em grupo e não dominar, por exemplo”.

“Exagerar ou fingir em uma dinâmica, ou em um currículo, é inclusive perigoso, porque se “colar” a pessoa terá que sustentar essa encenação durante todo o tempo em que estiver no emprego. E desse jeito ela não vai se encaixar na empresa, além de correr o risco de se queimar no mercado”, alerta.


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Entenda – e enfrente – melhor a temida dinâmica de grupo