(Por Camila da Rocha Mendes) O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa de juro básica em 13,75% ao ano, interrompendo uma série de aumentos iniciados em abril. A decisão demonstra que o comitê, que faz parte do Banco Central, está mais temeroso em relação à crise financeira internacional, e a inflação pode deixar de ser a preocupação principal.
"Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés", trouxe a nota do Copom, divulgada nesta quarta-feira (29) â noite, após a decisão.
Entenda a taxa básica de juro
No Brasil, a taxa básica de juro é chamada de Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). O Selic é um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias.
Hoje, Selic identifica também a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos. A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, serve de parâmetro para a formação dos juros de toda a economia.
Efeitos
Porém, o BC (Banco Central) usa a taxa de juro como instrumento para manter a inflação sob controle. Se os juros estão baixos, o crédito fica mais barato e mais acessível, estimulando a população a consumir mais. Este aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender o consumo maior. Então por outro lado, se o BC aumenta o juro, o consumo e o investimento – que ficam mais caros – são inibidos, assim, a economia desacelera e evita-se que os preços subam – ou seja, que ocorra inflação.
Com a redução da Selic, o BC também diminui o retorno de títulos da dívida pública, que tem rentabilidade atrelada à taxa. Assim, começa a "sobrar" um pouco mais de dinheiro no sistema para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa sobe, ocorre o inverso.
É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos. Ao mesmo tempo, investidores que têm dinheiro aplicado em títulos públicos procuram alternativas que possam dar um retorno maior, como a Bolsa. É também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair.
Repercussão da decisão
Entidades representativas do comércio do Rio e de São Paulo divulgaram notas em que afirmam entender a posição cautelosa do Copom em manter a taxa inalterada. Porém, todos concordam que uma redução na Selic seria bem-vinda.
Para o presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), Abram Szajman, o Copom "considerou como correta a decisão do Copom em manter a Selic inalterada", mas ressaltou que espera que o comitê inicie um processo de redução da taxa básica. Já seu colega carioca, o presidente da Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Rio de Janeiro), Orlando Diniz, afirmou:"O Banco Central deveria priorizar a atividade econômica".
"O Copom mostrou-se atento à gravidade da crise financeira internacional, mas perdeu a oportunidade de amenizar seus efeitos, o que significaria optar pelo corte nos juros", completou Diniz em comunicado.
"Os empresários esperavam a redução da taxa, tendo em vista a forte retração do crédito, aumento dos juros e redução dos prazos de financiamento, que vêm afetando as vendas do varejo, provocando redução da produção e das horas trabalhadas em muitos segmentos, com riscos de levar à demissão de trabalhadores", argumentou, por sua vez, Alencar Burti, em nota da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), da qual é presidente.
Enquanto isso nos EUA…
O Federal Reserve (Fed) atuou justamente cortando sua taxa básica de juro nesta quarta-feira, de 1,5% para 1%, valor que está até abaixo da inflação. Porém, a situação por lá parece tão grave, que nem a decisão foi suficiente para animar o mercado e a Bolsa de Nova York fechou em baixa.
A constatação, pelo comunicado do Fed, de que "os riscos negativos para o crescimento persistem" foi interpretada pelos participantes do mercado como um reconhecimento de que os EUA já entraram em recessão e de que o fato de a taxa de juros já ter sido reduzida seis vezes neste ano não será suficiente para reverter essa situação. Porém, as Bolsas européias hoje iniciaram o dia apontando valorização, animadas com o juro mais baixo nos EUA.