(Por Camila da Rocha Mendes) O mercado de ações brasileiro passou por cinco anos ininterruptos de altas, mas 2008 veio para acabar com a festa. A crise de crédito que começou nos Estados Unidos, em meio à exploração abusiva de títulos de hipotecas podres, se tornou sistêmica espalhando-se por todo o mundo.

 

Assim, no Brasil, a área que mais sentiu os impactos da desaceleração economia mundial foi a financeira. A bolsa de valores despencou enquanto o dólar disparou. Até 22 de dezembro, a bolsa havia perdido 42% desde janeiro e estava aos 37 mil pontos, já o dólar havia subido 34,4% batendo em R$ 2,3, no mesmo período.

 

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Previsões

 

Segundo análise do banco Credit Suisse, uma das mais renomadas instituições financeiras do mundo, o clima geral é de incertezas. “A incerteza sobre a construção dos cenários é a maior em muitos anos, tanto na economia global quanto na economia doméstica”, afirma relatório do banco.

 

“O crescimento nas economias emergentes recuará fortemente, pois os mercados domésticos não serão suficientes para compensar integralmente o menor crescimento da demanda global”, avalia o Credit Suisse. Isso quer dizer que o mundo consumirá menos commodities (matérias-primas como combustível, grãos e minério), que são responsáveis pela maior parcela das exportações brasileiras.

 

Isso afeta diretamente as empresas que negociam suas ações em bolsa, pois as de maior importância – que movimentam o maior volume de dinheiro – são justamente exportadoras de matérias-primas, como a Petrobras, a Vale e a CSN. “Projetamos redução de 17% das importações em 2009, ante crescimento de 47% em 2008”, afirma a equipe de analistas do banco.

 

Inflação

 

Outra má notícia é o provável aumento da inflação ao consumidor. Segundo avalia o banco, a forte valorização do dólar frente ao real deve provocar aumentos bruscos em diversas classes de produtos. Porém, a partir de junho as coisas podem começar a melhorar, pois com as pessoas consumindo menos, em decorrência da crise, as empresas serão obrigadas a cobrar menos por seus produtos.

 

Lula e Dilma

 

O Credit também dá seu palpite sobre o Governo Lula. No relatório de perspectivas, o banco afirma: “Aprovação popular ao governo do presidente Lula recuará como resultado da desaceleração da atividade, do aumento do desemprego e da diminuição do rendimento real. Apesar da redução, a popularidade do presidente permanecerá elevada e o atual governo manterá as chances de eleição do sucessor em 2010”. Até o momento, as apostas recaem sobre Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil do governo Lula, como a sucessora do ex-metalurgico.

 

PIB brasileiro

 

O ritmo de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) diminuirá de 5,7% em 2008 para 1,3% em 2009, com retomada em 2010, segundo prevê o banco. Além disso, a equipe de economistas acredita num cenário de leve recessão em 2009, com queda do PIB em dois trimestres consecutivos, a começar já no início do ano. Entretanto, a partir do terceiro trimestre do ano que vem, o país deve começar a se recuperar. Ou seja, o Brasil vai ter dificuldades, porém menores que as enfrentadas pelo primeiro mundo.

 

Cenário global

 

As turbulências na economia global devem prosseguir. “O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial recuará de 3,6% em 2008 para 1,5% em 2009, com elevada probabilidade de desaceleração mais expressiva”, adverte o relatório que completa, “Esperamos recessão nas maiores economias desenvolvidas (EUA, Europa e Japão) e forte desaceleração nas economias emergentes”. O banco também observa que pela primeira vez em quase 30 anos a Europa irá acompanhar o quadro de recessão nos EUA. Das últimas vezes em que os norte-americanos enfrentaram tal problema, a Europa continuou crescendo.

 

A China continuará em seu papel de potência emergente, mas os dias de expansão do PIB acima de 10% (que era fora do comum!) estão contados. A equipe de economistas do Credit Siusse aposta em crescimento de 8% para 2009 e de 8,9% para 2010.

 

Dólar

 

O movimento de valorização do dólar frente às principais moedas no 3T08 e 4T08 deveu-se, principalmente, ao agravamento da crise financeira. Os analistas do Credit Suisse esperam o fim da apreciação generalizada do dólar em relação às principais moedas em 2009, com destaque para o euro e a libra esterlina. Já em relação ao real, o Credit Suisse projeta dólar a R$ 2,20 no fim de 2008, 2009 e 2010.


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