(Por Camila da Rocha Mendes) – Desde o começo de outubro, o dólar deu um salto de 22% e voltou ao patamar de dois anos trás. Na casa dos R$ 2, a moeda norte-americana pressiona os preços de importados e também de serviços.

Contudo, o efeito dessa alta vai demorar um pouco para ser sentido no bolso de consumidores.  André Braz, economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que a disparada do dólar nos últimos dias foi um efeito causado, principalmente, pelo clima de desconfiança e tensão que ronda os mercados. A atual crise global refletiu-se de forma muita intensa no mercado de câmbio. Para o economista, a atual patamar do dólar é especulativo e não deve ser mantido por muito tempo.

Mesmo que a cotação da moeda norte-americana continue a subir, pondera Braz, o repasse para o preço de importados deve ser feito gradualmente. Além disso, acrescenta o economista, como a taxa básica de juro foi elevada nos últimos meses no Brasil, os juros cobrados em compras a prazo e no cheque especial devem subir, diminuindo o consumo. “Diante de uma demanda menor, os comerciantes devem segurar um pouco o reajuste de preços para garantir as vendas”, explica. Ao mesmo tempo, muitos produtos importados que estão nas prateleiras agora foram negociados com o dólar mais baixo, completa Braz.

De fato, os comerciantes parecem estar em compasso de espera para ver qual será o rumo do câmbio.

Shows

O dólar alto não afeta somente o consumo, mas também o lazer. Todos os artistas gringos que vêm se apresentar no Brasil têm seus cachês negociados em moeda estrangeira. Além disso, o câmbio tem impacto sobre os custos periféricos de um evento, como o preço de passagens de vôos internacionais. “É um custo maior para a operação toda”, revela Marcos Boffa, produtor cultural, que já trouxe para cá nomes como Cat Power e Peaches. Boffa diz que a cotação da divisa, que já ultrapassou R$ 2,30, pegou de surpresa o mercado de shows.

“Ainda é cedo para dizer se a taxa de câmbio irá afetar a agenda de shows no Brasil, mas, com certeza, se continuar como está, poderemos ver uma diminuição dos artistas estrangeiros que se apresentam aqui”. Quanto a um possível aumento nos valores de ingressos, Boffa avalia que tudo depende de quanto o público estará disposto a pagar. “Não podemos elevar excessivamente o preço de ingressos”, afirma. Por fim, o produtor faz um alerta tranqüilizador: “Os eventos que já foram anunciados não serão afetados, pois tudo já foi negociado e fechado”, não havendo possibilidade de cancelamentos ou ajuste no preço de entradas.

Comércio

Segundo a Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), as próximas semanas serão decisivas para ser ter a noção dos reflexos que as atuais turbulências s nos mercados financeiros e de câmbio terão sobre os preços internos. A volatilidade da taxa de câmbio e as magnitudes das valorizações diárias do dólar deverão repercutir sobre os bens de consumo importados, em especial aqueles ligados ao setor de eletroeletrônicos e aparelhos de telefonia móvel. Entretanto, até o momento, o efeito do dólar ainda não foi sentido neste segmento.

Segundo dados da Fecomercio, na capital paulista, em setembro, os preços de eletroeletrônicos recuaram 0,64%, completando 20 meses consecutivos de variações negativas. A forte entrada de produtos importados no comércio aumenta a competitividade e favorece a manutenção dos preços baixos, explica a entidade. Destaque para os preços de Telefonia (-2,39%), Informática (-1,62%) e Produtos de Imagem e Som (0,17%).

Já no setor de alimentos, de acordo com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), se o dólar permanecer entre R$ 1,80 e R$ 2, os preços de alimentos e bebidas importados podem subir até 15%.

O diretor comercial da Casa Santa Luzia, Jorge da Conceição Lopes, disse que dentro de algumas semanas decidirá se vai reajustar preços em seu empório. Famosa por oferecer produtos alimentícios de todo o mundo, o negócio da Casa Santa Luzia está embasado na importação.

“Precisamos sentir em que patamar o dólar e o euro vão se estabilizar. Nós ainda não compramos nada com preço novo, vamos aguardar um pouco mais", afirma Lopes. Segundo ele, 40% dos produtos que devem ser vendidos na época do Natal já estão comprados e em estoque e os outros 60% chegam em 30 dias.
 


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Alta do dólar traz incerteza quanto aos preços de importados