O Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe, a partir do dia 2 de março, uma obra da artista Ana Teixeira na nova edição do Projeto Parede. Ocupando a parede do corredor que liga a recepção à Sala Milú Villela, Cala a boca já morreu (2019-2023) é fruto de uma ação de escuta a mulheres que a artista propõe no espaço público como exercício político. A obra, um trabalho processual e que já teve ativações anteriores, investiga demandas e desejos dessas mulheres.
> Siga o novo Instagram do Virgula! Clique e fique por dentro do melhor do Entretê!
A ação foi realizada pela primeira vez em 2019, durante a exposição individual da artista no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo e, segundo Ana, foi a primeira vez que em suas ações urbanas ela conversou com grupos e não com pessoas individualmente, experiência que a fez vivenciar o que a feminista estadunidense Carol Hanisch descreve em seu ensaio de1969, intitulado O pessoal é político. No texto, a autora propõe que a tomada de consciência é a condição primordial no processo de empoderamento das mulheres, sobretudo quando acontece a partir da troca de vivências e reflexões coletivas.
Cala a boca já morreu, título que remonta a uma expressão popular e usual na infância da artista, é uma ação que tem mais de uma etapa. Na primeira, a artista distribui panfletos para mulheres em espaços públicos, convidando-as para participar de uma conversa, que surge a partir de uma provocação feita por Ana Teixeira: “O que você não quer mais calar?”, pergunta ela. As respostas são sintetizadas e escritas por Ana em cartazes, e as participantes são fotografadas segurando essas frases para que depois possam ser desenhadas, à caneta ou em adesivo em vinil, pela artista, em paredes de espaços expositivos.
Ao todo, participaram da ação 101 mulheres, que estiveram em encontros com Ana Teixeira em lugares como a Casa das Rosas, o Centro Universitário Maria Antonia e a Ocupação 9 de Julho, em São Paulo; e na cidade de Colônia, na Alemanha, onde a artista realizou este trabalho a convite da universidade local. Para surpresa de Ana, as questões levantadas pelas mulheres alemãs foram iguais às levantadas pelas brasileiras nas ativações anteriores. “Tanto na minha experiência na Alemanha quanto no Brasil, o que dá para perceber é que a pressão da sociedade patriarcal sobre as mulheres é muito relevante. Das 101 frases que coletei, apenas cinco não falam sobre o machismo e as imposições do patriarcado sobre os corpos e as vidas das mulheres”, conta a artista.
A versão da obra apresentada no Projeto Parede do MAM São Paulo contará com a representação em desenho de 18 mulheres, além da gravação das 101 frases feitas por mulheres cis, mulheres trans e travestis convidadas por Ana Teixeira em 2021.
A montagem da obra no MAM contará, também, com as páginas da publicação homônima que Ana Teixeira realizou a partir de uma pesquisa na Biblioteca Mário de Andrade, selecionando livros adquiridos entre 2010 e 2020, escritos por autoras mulheres e com temática feminista, dos quais foram retirados trechos que abordam o silenciamento feminino, reunindo-os na publicação. “Esta é uma compilação de denúncias sobre variados tipos de opressão a que nós mulheres fomos submetidas durante os últimos séculos, discriminações cotidianas que passam despercebidas e outras de gravidade inquestionável, as quais, se notadas, podem ser estopim para uma reflexão tardia, porém sempre necessária, sobre os possíveis caminhos para uma ruptura com as estruturas patriarcais que, ainda atualmente, se empenham na manutenção do silenciamento e do apagamento das mulheres nos mais diversos âmbitos da vida”, explica Ana Teixeira.
A biblioteca do MAM terá todos os 26 livros da pesquisa disponíveis para consulta. As publicações foram emprestadas ao museu pela Biblioteca Mário de Andrade por todo o período da exposição.
“A obra de Ana Teixeira revela que no lamentável silenciamento das mulheres há uma potência de significados que não cabe numa parede. Em vez de vazios ou ausências, os silêncios, em especial esses que estão se rompendo, são promessas de um futuro com igualdade de direitos, inclusive o direito de fala”, escreve o curador-chefe do MAM, Cauê Alves, no texto que acompanha a ativação no MAM.
Serviço
Projeto Parede – Cala a boca já morreu, de Ana Teixeira
Abertura: 2 de março, quinta-feira, às 19h
Período expositivo: 2 de março a 28 de maio de 2023
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Projeto Parede
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.