“Em muitas culturas do mundo, as pedras e os cristais representam uma conexão com uma forma mais antiga e profunda de conhecimento. Acredita-se que sejam possuidoras de energias específicas, sabedoria e poder de cura. Na obra de Denise Milan, muitas vezes vemos cenas dramáticas nas quais as forças geológicas – envolvidas em conflitos, suspensões e resoluções – servem como metáforas, ou, antes, metonímias, das forças que moldam a nossa consciência”, analisa Gabriel Pérez-Barreiro, curador da exposição Petrafagia, individual de Denise que tem participação especial do fotógrafo Sérgio Coimbra, em cartaz na DAN Contemporânea até o dia 30 de junho.
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Além disso, Marcello Dantas, curador da 13ª Bienal de Artes do Mercosul, selecionou a artista para participar da próxima edição do evento, que acontece em setembro deste ano, em Porto Alegre (RS).
“Vamos sobreviver ou desaparecer? Têm guerras, mudanças climáticas, Covid, crises… Vamos sobreviver? As pedras trazem esperança. Conseguem superar os obstáculos e encontrar maneiras de permanecer no planeta”, explica Denise, que traça um paralelo entre essa força da natureza e questões humanas e convida o público para “degustá-las visualmente e digeri-las metafisicamente”.
Em tom otimista e de celebração, a artista desloca pedras e cristais da posição de objetos e os valoriza em um protagonismo conceitual. Na mostra Petrafagia, Milan apresenta o terceiro capítulo dessa série, denominado Banquete Magmático. Criada durante a pandemia, a obra única e provocante consiste em uma mesa sobre a qual são dispostos múltiplos objetos.
Assim como na gastronomia, trata-se de um banquete repleto de diferentes texturas, cores, brilhos e transparências, porém de pedras. A mesa, que convida o visitante a “degustar” o que é exposto, tem geodos de ametista (chamadas por ela de entidades vulcânicas e testemunhas de criação da Terra), que conferem escala humana e dramaticidade à cena.
As fotografias de Sergio Coimbra preenchem o segundo espaço da galeria. Inspirado pelo banquete, o fotógrafo gastronômico fez uma série de imagens que percorrem os universos individuais da artista. Adaptando sua técnica para o tema de Petrafagia, Coimbra captou o diálogo único entre o mundo dos cristais e a sua imaginação humana.
“Assim como na gastronomia, observei um mundo rico e infindável de formas e texturas, percebi uma relação única de beleza em cada ‘prato escultura’, onde poderia explorar toda aquela magia proporcionada pela natureza”, declara o fotógrafo.
A terceira parte da exposição é composta por 12 obras em menor escala, objetos e intervenções denominados Tesouros pela artista. Esses trabalhos mais intimistas, criados por Denise também durante a pandemia, despertam o olhar para a riqueza mineral de uma forma que o espectador possa vivenciar o diálogo entre o mundo natural dos cristais e as questões humanas, proposto pela escultora e artista multidisciplinar contemporânea brasileira. Denise Milan, pesquisadora em cristalografia e geologia há mais de 40 anos, mergulhou nesse assunto que revela a poética da sua criação.
”Identifico na obra da Denise um potencial de transformação enorme, que quebra um paradigma da arte contemporânea. Com 50 anos de história, faztodo sentido a DAN Contemporânea trabalhar com Denise, porque a obra dela faz uma ponte entre concretismo e o neoconcretismo, e a arte contemporânea, revelando uma geometria oculta na estrutura mineral” reflete Flávio Cohn, diretor da DAN Contemporânea.
No campo visual, é imprescindível destacar a geometria das obras de Milan, que se apropria de linhas naturais e revela uma verdade das formas geométricas por meio das suas criações. “Quando trabalhamos juntos no livro Cadumbra, Haroldo de Campos fez uma relação entre o meu trabalho e o concretismo e disse: ‘nós, poetas concretos, trabalhamos com a geometria das estruturas minerais, e você também’. Ou seja, há uma questão estrutural na minha produção”, declara a artista.
Sobre Denise Milan
Denise Milan nasceu em São Paulo, em 1954. Escultora e artista contemporânea, interage com especialistas em ciência e tecnologia, antropologia, filosofia, literatura e música. Suas obras estão expostas em várias instituições e espaços nacionais e internacionais. Utiliza a pedra como eixo criativo em esculturas, performances urbanas, poesias, projetos multimídia, óperas e assemblages.
Pioneira e ativista do movimento da Arte Pública no Brasil e exterior, algumas de suas obras públicas incluem performances: U Ura Muta Uê em Belém (PA), Redenção do Pelourinho em Salvador (BA), Sectiones Mundi no Museu de Arte Moderna (SP), Entes SESC (SP), no Améfrica, em Brasília, no CCBB – Centro Cultural do Banco do Brasil. Esculturas públicas em São Paulo: Drusa no Anhangabaú; Ventre da Vida no metrô Clínicas; Um Furo no Espaço no Museu de Arte Contemporânea; Palas Atenas no Campus da USP; Tempos de Cura no Hospital Albert Einstein, Planitude no Instituto Fleury, e Pedra Brasilis na Natura.
No exterior, Americas’ Courtyard no Adler Planetarium, em Chicago, Genetic Blue Stone no Kennedy Center, em Washington, D.C.; In the Realm of Love and Forgiveness em Assis, Itália; COP22, DO-FEST no Emerson Collective, tríptico: Oceanic, Cosmic and Earth Womb em Marrakech, no Marrocos; na Glasstress, durante a 58ª Bienal de Artes de Veneza, e recentemente Unbreakable Women in Glass, ambas na Fundação Berengo, Itália.
Em São Paulo, participou da 20ª, 21ª e 33ª, Bienal Internacional de Arte de São Paulo; exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP; Museu de Arte Contemporânea; Galeria São Paulo; Galeria Nara Roesler; Galeria Virgílio; Galeria Lume; SESC; CCBB – Centro Cultural do Banco do Brasil, Rio de Janeiro; SP ARTE e ArtRio.
No exterior, suas exposições principais foram: Barbican Centre, em Londres; MoMA PS1 em Nova York; EXPO 2000 em Hannover; Hakone e Museu Open-Air em Osaka; Museu de Arte Contemporânea, Art Institute e Sectiones Mundi no Museu de Arte Moderna; Chicago Cultural Center em Chicago; Palazzo del Monte Frumentario em Assis: Wilson Center em Washington D.C.; Galeria D’Architecture em Paris; Georgetown University, Washington D.C.; University of Utah em Salt Lake City e Brighan Young University em Provo; COP22 – DO-FEST, Emerson Collective em Marrakech e na Glasstress, Fundação Berengo, Veneza.
Sobre a galeria
A Dan Contemporânea surgiu como um departamento de Arte Contemporânea da Dan Galeria. Em 1985, Flávio Cohn, filho do casal fundador, juntou-se à Dan criando o Departamento de Arte Contemporânea, que ele dirige desde então. Assim, foi aberto espaço para muitos artistas contemporâneos tanto brasileiros, como internacionais, fortemente representativos de suas respectivas escolas. Posteriormente, Ulisses Cohn também se associa à galeria completando o quadro de direção da mesma.
Nos últimos vinte anos, a galeria exibiu: Macaparana, Sérgio Fingermann, Amélia Toledo, Ascânio MMM, Laura Miranda e artistas internacionais: Sol Lewitt, Antoni Tapies, Jesus Soto, César Paternosto, José Manuel Ballester, Adolfo Estrada, Juan Asensio, Knopp Ferro e Ian Davenport. Mestres de concreto internacionais também fizeram parte da história da Dan, tais como: Max Bill, Joseph Albers e os britânicos Norman Dilworth, Anthony Hill, Kenneth Martin e Mary Martin.
Dan Galeria incluiu mais recentemente em sua seleção, importantes artistas concretos: Francisco Sobrino, François Morellet e Getúlio Alviani, bem como os artistas geométricos abstratos históricos: Sandu Darié, Salvador Corratgé, Wilfredo Arcay e Dolores Soldevilla, só para mencionar alguns dos cubanos do grupo Los Once (The Eleven). Nestes últimos dois anos, os fotógrafos brasileiros Christian Cravo e Cristiano Mascaro; os artistas José Spaniol e Teodoro Dias (Brasil); os internacionais, Tony Cragg (G. Bretanha), Lab [AU] (Bélgica) e Jong Oh (Coréia), se juntaram ao departamento de Arte Contemporânea da galeria. A Dan Galeria sempre teve por propósito destacar artistas e movimentos brasileiros desde o início da década de 1920 até hoje. Ao mesmo tempo, mantém uma relação próxima com artistas internacionais, uma vez que os movimentos artísticos historicamente se entrelaçam e dialogam entre si sem fronteiras.
Serviço
Petrafagia, de Denise Milan
Quando: até dia 30 de junho
Horário de visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; e sábado, das 10h às 13h Local: DAN Contemporânea
Endereço: Rua Amauri, 73 – São Paulo, SP
Entrada gratuita
Classificação indicativa: livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida
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