SamBra, o musical que marca a estreia de Diogo Nogueira como ator, tem outros pesos pesados no elenco como Lílian Velaska, uma das protagonistas do seriado Sexo e as Negas e Patricia Costa, neta do fundador da Portela, Claudio Bernardo da Costa. Outro nome que chama atenção é o de Beatriz Rabello, filha de Paulinho da Viola.
Além de chamar o grande timoneiro do samba de pai, ela é bisneta do maestro e violonista paraibano José Baptista Queiroz, sobrinha de Raphael Rabello e neta Cesar Faria. Um DNA musical respeitável
Também jornalista, Beatriz deu uma verdadeira aula em entrevista ao Virgula para falar de SamBra. Escrito e dirigido por Gustavo Gasparani, com produção da Musickeria CORP e Aventura Entretenimento e patrocínio do Bradesco, SamBra estreia no Rio de Janeiro e fica em cartaz entre 19 a 22 de março, no Vivo Rio. Em seguida, ele ocupa o palco do Espaço das Américas, de 26 a 29 de março. Veja a nossa conversa com a estrela de musicais que fará mais um papel marcante em SamBra após papéis marcantes em Divina Elizeth, Sassaricando e É com Esse que Eu Vou.
O fato de o samba ter o seu próprio musical é uma prova de que o gênero já é reconhecido como alta cultura, como o jazz?
Eu acho que há muito tempo o samba tem espaço de destaque em palcos teatrais brasileiros. Em 1964, tivemos a estreia do show Opinião, no antigo teatro de Arena do Rio de Janeiro, dirigido por Augusto Boal, com texto de Oduvaldo Vianna Filho, Armado Costa e Paulo Pontes. No elenco, Nara Leão, João do Vale e Zé Keti como atores-cantores. Nara depois foi substituída por Maria Bethânia. Ali se encontravam a bossa nova de Nara Leão, o samba música de Zé Keti e a música nordestina de João do Vale. Este show estreou pouco tempo depois do golpe militar e foi um movimento de resistência e protesto. Virou um marco na histórica da música popular brasileira. Se não me engano foi a primeira vez que Bethânia cantou em palcos cariocas. O show foi lançado em LP no ano seguinte. No repertório, basicamente sambas.
Em 1965, estreou, no teatro Jovem, o show Rosa de Ouro, idealizado e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho. O objetivo deste show era trazer o samba para os palcos urbanos da zona sul carioca. No elenco, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Anescar do Salgueiro, Nelson Sargento, Paulinho da Viola (um iniciante na época) e Aracy Cortes. Este espetáculo revelou ao público um dos maiores tesouros da música brasileira: Clementina de Jesus. Ficou meses em cartaz no Rio e em São Paulo. Fez tanto sucesso que também foi lançado em LP. Dois anos depois, em 1967, estreava o “Rosa de Ouro II”, com o mesmo elenco, e desta vez o espetáculo foi, além do Rio e de São Paulo, até Salvador.
Mais recentemente, tivemos o espetáculo É com Esse que Eu Vou – o samba de carnaval na rua e no salão, escrito por Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral e dirigido por Charles Moeller e Claudio Botelho. Este musical foi fruto de uma longa pesquisa pela história musical brasileira, onde foram escolhidos mais de 80 sambas para retratar compor o roteiro e apresentar sambas de carnaval que fizeram sucesso entre a década de 1920 e 1970. Eu mesma fazia parte do elenco, ao lado de Soraya Ravenle, Marcos Sacramento, Alfredo Del-Penho, Pedro Paulo Malta, Lilian Valeska e Makley Mattos. Estreamos em agosto de 2010 no Teatro Oi Casagrande, no Rio de Janeiro, e fizemos outra temporada no Teatro João Caetano no início de 2011. Viajamos por 6 capitais com este espetáculo ao longo de 2011. Este espetáculo também gerou um CD e um DVD.
Opinião, Rosa de Ouro, Rosa de Ouro II e É com Esse que Eu Vou são apenas três espetáculos totalmente voltados ao samba que me vêm à cabeça agora, mas tivemos muitos outros onde o samba se destacou, como a “Ópera do Malandro, de Chico Buarque (que já teve várias montagens) e o “Samba Futebol Clube”, que estreou no ano passado aqui no Rio e também foi escrito e dirigido pelo Gustavo Gasparani (autor e diretor do “SamBra”), entre outros. Não sei exatamente o que você quis dizer com “alta cultura”, mas acho que não é de hoje que o samba é uma expressão cultural e artística brasileira extremamente representativa e expressiva. SamBra é mais um fruto dessa expressividade e retrata a trajetória do samba com exuberância.
Por que optou por ser uma atriz de musicais, foi uma ruptura familiar, já que seu avô foi um sambista muito importante e seu pai é um astro da MPB, cogita ter uma carreira também como cantora “normal”?
Acho que a melhor forma de começar a responder essa pergunta é me apresentando. Sou Beatriz Rabello de Faria, 33 anos. Pelo lado materno, bisneta do maestro e violonista paraibano José Baptista Queiroz e sobrinha de Raphael Rabello, violonista brasileiro falecido em 1995. Pelo lado paterno, neta de Cesar Faria, falecido em 2007, violonista integrante do lendário grupo Época de Ouro, fundado na década de 1960 por Jacob do Bandolim. Filha de Paulinho da Viola, cantor e compositor brasileiro de 72 anos de idade e 50 anos de carreira.
Comecei a estudar música aos 7 anos, quando aprendi a tocar piano. Aos 13 anos, me apaixonei pelo canto e entrei para um curso de canto-coral. Aos 17, me apresentei cantando sozinha pela primeira vez em público, num festival de música escolar. Entrei para a faculdade de Comunicação Social da PUC-RJ, onde me formei jornalista, mas durante os 4 anos de curso conciliei os estudos com apresentações como cantora em pequenos bares da região oeste do Rio de Janeiro. Já formada, cheguei a exercer as duas atividades ao mesmo tempo – era jornalista de dia e cantora à noite. Quando isso se tornou inconciliável, optei por continuar cantando.
Em 2007, fui convidada pelo meu pai para fazer parte do projeto Paulinho da Viola – Acústico MTV, que foi lançado no mesmo ano em CD e DVD. E, desde então, me tornei cantora profissional e o acompanho em shows pelo Brasil e no exterior.
Em 2008, fui convidada para fazer um teste para o musical Divina Elizeth, de João Falcão. Fui aprovada e estreei no teatro. Nunca fiz uma opção por ser atriz de musicais. Sou uma cantora que tem versatilidade para atuar, se necessário. Mas o que me atrai e me guia é sempre a música.
Em 2009, fui convidada para integrar o elenco de Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha, de Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral, com direção de Charles Moeller e Claudio Botelho. Desde então – e lá se vão 6 anos – faço parte do elenco desse musical e nele atuei em temporadas no Rio, em São Paulo e em turnê por várias capitais do país.
Em 2010, fui novamente convidada por Rosa Maria e Sério Cabral para fazer parte de outro musical: “É com esse que eu vou – o samba na rua e no salão”, espetáculo teatral musical que apresentava 83 sambas carnavalescos. Com esse, fiz temporada no Rio e viajei por 6 capitais ao longo de 2011.
Em 2013 e 2014, integrei o elenco de Sassariquinho. Também de Rosa Maria Araújo e Sério Cabral, com direção de Claudio Botelho, foi uma versão infantil do Sassaricando.
Costumo participar de projetos de música, como o que marcou as comemorações dos 100 anos de nascimento de Carmen Miranda, ao lado do cantor Marcos Sacramento, num projeto do CCBB, a convite do diretor musical Luís Filipe de Lima. Também me apresento em casas de shows no Rio de Janeiro, São Paulo e já cantei em palcos de Minhas Gerais, São Luís do Maranhão, Curitiba, Porto Alegre, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Distrito Federal e Goiás. Meu repertório é sempre de sambas, que eu seleciono com carinho e cuidado. Também costumo fazer muitos bailes durante o período carnavalesco. Gravei no ano passado o DVD do Prêmio da Música, onde cantei ao lado de Beth Carvalho, Dudu Nobre e Mariene de Castro, entre outros.
Tenho muito orgulho do meu avô, do meu pai e do meu tio Raphael Rabello e sempre tive com eles uma relação amorosa e harmoniosa. Não tenho nenhum motivo para fazer uma “ruptura familiar”, isso nunca passou pela minha cabeça. Pelo contrário. Eles são até hoje minhas principais referências musicais e profissionais. E eu me sinto uma pessoa abençoada por descender dessa linhagem musical tão especial.
Seu pai costuma ir nos espetáculos, ele é coruja?
Sim, meu pai costuma assistir os espetáculos que faço. Mas não é um pai coruja. Ele me apoia e me incentiva, mas não passa a mão na minha cabeça e é crítico e exigente. Isso é muito bom para mim, porque não fico com falsas referências e vou me tornando cada vez mais consciente do que faço, buscando sempre melhorar, me desenvolver, crescer como profissional. Quando meu pai me critica, é para me ajudar a melhorar; quando diz que está bom, é porque está bom mesmo.
Paulinho da Viola também é retratado no musical, seu personagem tem alguma ligação com ele?
Eu encarno vários personagens ao longo do espetáculo, dentre eles as cantoras Dalva de Oliveira, Aracy Cortes, Marília Batista. Dessas, Aracy Cortes foi quem teve uma aproximação real com meu pai. Os dois atuaram juntos no espetáculo Rosa de Ouro, em 1965, que já mencionei na resposta à primeira pergunta.
De que maneira ter feito Divina Elizeth te ajudou neste trabalho?
Ter feito Divina Elizeth, Sassaricando e É com Esse que Eu Vou me deixaram mais segura e familiarizada com a linguagem do teatro musical.