Fonte: Agência Efe

O diretor israelense Eran Riklis volta a pôr em cheque o espírito de convivência de israelenses e palestinos em Dancing Arabs (ainda sem título em português), que retrata os problemas de integração da comunidade árabe em Israel, com 1,6 milhão de pessoas (20% da população) e seus conflitos de identidade.

“É um tema sensível, mas meu país gostou. A crítica ficou encantada e, assim como o público, penso que perceberam que é um filme honesto e não uma manipulação política”, explica à Agência Efe o cineasta, que se define como um “humanista”.

Baseado em duas semibiografias do escritor palestino Sayed Kashua, Dancing Arabs conta a história de Eyad (Tawfeek Barhom), um brilhante jovem palestino nascido na cidade de Tira em meados dos anos 70, que consegue uma bolsa de estudos para o melhor colégio judeu de Jerusalém. Apesar dos esforços para se ambientar e brilhar, Eyad se vê obrigado a abandonar a escola após a relação que mantém com uma judia ser descoberta, fazendo com que ele repense profundamente sua própria identidade.

“Até mesmo para pessoas com posições políticas distintas, fica difícil não gostar dos personagens deste filme”, ressalta Riklis, que se refere não apenas a Eyad, mas a outros protagonistas como Jonathan (Michael Moshonov), um estudante israelense com uma doença degenerativa que ele se oferece para cuidar, e sua mãe Edna (Yaël Abecassis).

O tom do filme vai evoluindo, e embora comece como uma comédia, aos poucos adquire peso até desembocar em um final impactante e inesperado.

“Uso o humor de modo intuitivo, mas também consciente. O humor é uma maneira de manipular o espectador. Ao fazê-lo rir, você consegue fazer com que a pessoa se veja refletida nos personagens, o que torna mais fácil ir à tragédia no final. É um recurso extremo, claro, mas nada novo. Shakespeare já fazia isso”, diz Riklis.

Para Barhom, um ator sem experiência, não foi difícil se adaptar ao papel principal, já que sua própria vida continha muitos paralelismos com a ficção.

“Ele também vinha de uma cidade pequena, era o único árabe em um internato judeu, deixou o colégio e teve uma história de amor com uma menina judia. Sabia que ele fazeria bem”, explica o diretor.

Com mais de 30 anos de cinema, Riklis ganhou notoriedade internacional em 2008 com Lemon Tree. Com ele obteve prêmio do público nos festivais de Berlim (Alemanha) e San Sebastián (Espanha), ao contar a história de uma viúva palestina proprietária de um campo de limoeiros, que faz limite com a casa do ministro da Defesa de Israel.

Em 2011, com A Missão do Gerente de Recursos Humanos, alcançou cinco prêmios da Academia de Cinema de Israel e o prêmio do público no Festival de Locarno (Suíça), além de representar seu país no Oscar.

Riklis diz que seu desejo é fazer um cinema universal. “Não estou interessado em fazer filmes que tenham muito sucesso em um punhado de festivais, mas que ninguém vê. É maravilhoso ganhar prêmios, mas o cinema é um meio popular. Se bem que, se tem algo que aprendi é que, quanto mais local mais universal e que famílias são iguais em todas as partes do mundo”.

Segundo ele, a questão universal por trás de Dancing Arabs é “como as maiorias empurram as minorias para que mudem” e o medo que há por trás disso. “É preciso educar as pessoas para deixarem de ter medo. Quando for primeiro-ministro, transformarei isso na minha prioridade”, diz Riklis , com um sorriso aberto.


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Diretor Eran Riklis volta a pôr em cheque a convivência entre israelenses e palestinos