Chef Exequiel Haggeo Muñoz Soto
Existe gente cosmopolita e, então, tem o chef Exequiel Haggeo Muñoz Soto, que é uma outra coisa. O chileno de 47 anos foi o “rei da coxinha” brasileira em Montreal, capital culinária do Canadá, onde se formou em gastronomia e forneceu salgadinhos para o consulado verde-amarelo. Por lá, ele também preparou um bobó de camarão para o ex-presidente Lula, quando trabalhava em uma cozinha brasileira, e montou um restaurante mexicano (este da foto aqui embaixo), que virou o hype da cidade depois de o jornal The Gazette descrevê-lo como um “oásis”. Hoje, o chef recomeça sua vida em São Paulo, servindo quesadillas e burritos bombásticos em barraquinhas no Bairro do Limão e na Freguesia do Ó, onde participa da feira gastronômica na Praça da Matriz aos sábados e domingos.
Você pode, eventualmente, encontrá-lo dançando alegremente ao lado das barracas, ao som de salsa, com sua mulher, Sinay Melian Muñoz, enquanto ele tira pausas da preparação de carnes e guacamoles. O que importa é a “buena onda”.
Exequiel fala quatro línguas: espanhol, português, inglês e francês, herança de suas andanças pelo mundo, e faz questão de conversar com seus clientes, fazer amigos e tomar uma cervejinha com quem estiver no pique.
“Tem gente que diz, ‘Pô, você teve um restaurante no Canadá e agora está vendendo comida em barraquinha em São Paulo?’. Eles veem isso como um retrocesso, mas eu não enxergo dessa maneira. Eu vim para o Brasil com a mala cheia de experiência de vida, conhecendo várias pessoas e culturas. Trabalhei em restaurantes dos mais tipos diferentes de gastronomia e aprendi muito”, disse Exequiel, ao Virgula Inacreditável, quando fomos à Praça da Matriz ouvir sua história e provar sua comida.
A culinária entrou na vida profissional de Exequiel quando ele tinha 18 anos. Sua família havia migrado para o Brasil no ano anterior, 1984, e ele e seu irmão aprenderam a fazer coxinhas com um mineiro. “Peguei a prática e nunca mais parei. No Brasil, foi o que me sustentou por um tempo e, aos 20 anos, abri meu próprio negócio, vendendo frango assado”.
O chileno se mudou para Montreal com o irmão aos 26 anos, “na cara e na coragem”, atrás de novas experiências e oportunidades. Seu primeiro trabalho no Canadá foi como entregador de jornal, durante um inverno com neve, mas logo estava fritando coxinhas e pastéis para a comunidade brasileira. “Ficamos conhecidos e fizemos muito salgadinho para o consulado brasileiro. Os canadenses também comiam, mas tínhamos de explicar o que era”.
Depois de se formar em gastronomia, de passar três meses no México aperfeiçoando suas receitas e de trabalhar em restaurantes dos mais diferentes tipos, Exequiel montou seu próprio restaurante de comida mexicana em Montreal, o La Tex. “Ficava sempre lotado. Era um espaço acolhedor e de muita energia, com música latina e batuque. Eu tocava violão e, quando iam brasileiros ao restaurante, a gente cantava música brasileira e dançava. Apesar de ser um restaurante mexicano, eu continuei a oferecer coxinhas”.
Exequiel fechou o restaurante em Montreal depois de se separar da mulher e, depois disso, trabalhou em uma churrascaria gaúcha em Calgary, também no Canadá. Naquela cidade, ele levava burritos à roça, em uma van, na época de colheita de morangos e maçãs, para vender para trabalhadores temporários mexicanos.
Quando voltou ao Brasil para rever familiares, em 2010, Exequiel reencontrou Sinay, uma amiga de infância do Chile, e se apaixonou por ela. Eles decidiram ficar no Brasil em vez de voltar ao Canadá e se casaram há quatro meses.
“Eu não tenho medo de recomeçar e não tenho preconceito com nada e nem ninguém. Pretendo abrir um restaurante em São Paulo um dia, mas não preciso de muito dinheiro para ser feliz. O que me deixa contente é quando um cliente gosta da minha comida e vem falar comigo”, explicou. “E aí, gostou?”, me perguntou Exequiel, enquanto eu devorava uma suculenta quesadilla com molho de pimenta jalapeño caseira. Cara, eu nunca comi uma tão boa.
SERVIÇO – COMIDA MEXICANA DE EXEQUIEL HAGGEO
Onde: Feira Gastronômica da Praça da Matriz – Freguesia do Ó – São Paulo (SP)
Quando: Aos sábados, das 14h às 2h