Amigos olímpicos,

Ainda não foi desta vez que ouvi o hino nacional em Atenas. Na segunda-feira (23/08) à noite, visivelmente nervosa e cometendo erros incomuns para ela, provavelmente em função da enorme pressão de toda a mídia especializada e não especializada (a imensa maioria), Daiane não repetiu o desempenho das eliminatórias, o qual lhe daria a medalha de prata. Pela primeira vez na história, centenas de brasileiros compareciam a uma final de ginástica, talvez o mais belo e plástico dos esportes olímpicos. Assisti a prova ao lado da jornalista Glória Maria que, como muitos de vocês já obsrevaram, me entrevistou para o Jornal da Globo. Na prova seguinte, a final das barras masculina, ainda frustrado, presenciei um momento inédito na história das Olimpíadas. O russo Alexey Nemov, detentor de 12 medalhas olímpicas, fez uma exibição soberba e foi extremamente aplaudido. O público, ao ver a nota que lhe daria o terceiro lugar, iniciou uma vaia ensurdecedora, que perdurou por incríveis 14 minutos e só terminou com a elevação da nota por parte de dois dos constrangidos jurados.

Nesta terça (24/08) à noite, Adriana Behar e Shelda pouco puderam fazer diante das incríveis Kerri Walsh e Misty May. As americanas, além de altíssimas, são ágeis e habilidosas, eliminando qualquer pretensão de vitória por parte de nossas veteranas e simpáticas jogadoras. O placar de 21-17 e 21-11 até que ficou de bom tamanho. Ao contrário de Sidney, quando perderam vários
match-points na final contra uma dupla de pior ranking, dessa vez, a prata foi o limite para elas.

O ambiente na arena do beach-voley é algo inesquecível para todos nós que estivemos lá. A alegria é contagiante, com muita música nos intervalos dos pontos, e várias coreografias de torcedores, incluindo a tradicional ola. Australianos e brasileiros sempre estão juntos, torcendo e vibrando a cada ponto. Na saída, dou mais uma entrevista, dessa vez para a rede norte-americana NBC, que me pede para dançar samba e pergunta sobre Copacabana e segurança. Tirando o samba, creio que me saí bem.

Saindo do vôlei de praia, em Faliro, atravesso cerca de 1 km por modernos túneis e chego ao vôlei feminino. Chego com 2 sets a zero, mas as americanas empatam e sofro até o tié-break, quando o Brasil fecha com tranqüilidade. O pior é que, a exemplo das últimas duas Olimpíadas, vamos enfrentar as famigeradas cubanas nas semifinais. Desnecessário lembrar o resultado de
Atlanta e Sidney, basta mencionar que Cuba é bi-campeã olímpica. Depois da final de Ricardo e Emanuel, que são favoritos diante dos espanhóis Bosma e Herrera, vou ver Brasil e Polônia pelas quartas-de-final do vôlei masculino.

Pena que o basquete feminino contra a Espanha é quase no mesmo horário. Aliás, quem pretende assistir uma Olimpíada, deve evitar comprar ingressos com antecedência. É que nas fases finais, as tabelas e horários dos esportes coletivos somente são divulgados na véspera. Isso faz com que tenhamos que trocar constantemente, de acordo com os interesses de cada torcedor. Como exemplo, tenho há mais de 3 meses ingressos para as quartas-de-final do
vôlei masculino, período da tarde. No entanto, como o jogo do Brasil é a noite e os jogos da tarde são RussiaXServia e GreciaXEUA, vou à praça central do estádio olímpico procurar trocar meu ingresso com russos, sérvios, gregos ou americanos que tinham comprado para o período da noite. Outra alternativa, é ir até a entrada do ginásio 10 minutos após o início da partida e comprar com deseperados cambistas pela metade do preço.

Tenho aprendido bastante com a experiência de pessoas que vou conhecendo no dia-a-dia. Dona Marina, enfermeira de Recife, começou sua aventura olímpica em Barcelona e, mesmo sendo monoglota, se vira bem por aí. Seu Antonio Carlos, professor de história em Cuiabá, já é mais descolado. Começou em Los Angeles-84, aos 39 anos e nunca mais parou. Na entrada do vôlei, compra ingresso para a final da praia hoje. Paga 40 por um ingresso de 60, vendido
por um alemão que visivelmente abusou da cerveja.

Chego, finalmente à praça Monastiraki, perto da estação central de Omônia, onde se concentram milhares de torcedores retornando das competições. Argentinos que chegam do futebol, húngaros voltando do handebol, italianos do pólo aquático e belgas retornando do hipismo, sem falar dos chilenos, ainda eufóricos e perplexos com as duas medalhas de ouro no tênis, se
misturam, confraternizam, trocam informações e experiências. Enquanto converso com um jornalista esloveno sobre os resultados da esgrima, e sou interrompido por um abraço de um grupo de sul-africanos que conheci na natação uma semana atrás, começo a entender o que leva seu Antonio Carlos e dona Marina a não conseguirem mais largar o vício de Olimpíadas.

As pessoas começam a ficar cansadas da tradicional rudeza, acompanhada de mau-humor dos gregos. Como se não bastassem os taxistas, que lotam seus carros e nos deixam a centenas de metros do nosso destino final para tentar conciliar com o trajeto dos demais passageiros (é uma verdadeira lotação), os serviços pecam muito em qualidade de atendimento. Outro dia, meu amigo Marcelo solicitou um spaghetti a bolonhesa e pediu quiejo ralado. O garçom, um senhor de vastos bigodes, colocou o dedo no prato e mostrou que já tinha queijo suficiente, que ele não precisava de mais.

Por outro lado, não posso me queixar da família grega que me recebe com muita hospitalidade. Para quem já assitiu ao filme Casamento Grego, vai entender claramente a figura do patriarca, Sr. Andreas. Fanático por esportes, quase enfartou numa noite dessas, quando o grego perdeu a medalha de ouro no levantamento de pesos. Para conforto da família, o ginasta grego ganhou o ouro nas argolas uma hora depois e seu Andreas cantou o hino nacional com a emoção de quem já atravessou guerras militares e civis.

Depois da trágica regata final de Bimba, na Mistral quando precisava de um 16º lugar para a medalha e conseguiu chegar em 17º e ficar em quarto no geral, Torben Grael e Marcelo Ferreira seguem sendo nossa grande esperança na vela. Aliá, a vela já é a categoria que mais trouxe medalhas para o país.

Quando voltar ao Brasil, devo diminuir minhas idas ao Pacaembu e começar a freqüentar a represa de Guarapiranga para prestigiar nosso esporte número 1.

Vamos pra cima deles, Emanuel e Ricardo.

Abraços olímpicos,
<b>Gerson Caner</b>

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Gerson Caner direto de Atenas