Pedro Mariano chega ao seu sexto disco inovando: depois de apostar no balanço e no piano e voz, ele agora lança um álbum mais instrospectivo, ou em suas palavras, “o disco que sempre quis fazer”.
Na semana de estréia do show do novo disco – intitulado apenas Pedro Mariano – ele falou por telefone ao Virgula-Música sobre carreira, parcerias, a irmã Maria Rita e das revelações da MPB. Confira.
Virgula – Primeiro, que balanço você faz da sua carreira até agora? Você atingiu o ponto que queria, à vontade pra encarar qualquer coisa?
Pedro Mariano – Espero que não (risos). Parece frase feita, mas conforme fui trilhando meu caminho, percebi que quanto mais você se prepara sempre vão existir desafios maiores pra te testar. E não tem essa de falar “ah, eu tô pronto pra tudo” que é conversa. E se nós estivessemos sempre prontos pra tudo, ia perder a graça. Mas, posso dizer que estou mais preparado que os discos anteriores e menos que os próximos.
Virgula – O disco vem intitulado simplesmente Pedro Mariano. Isso tem a ver com as pessoas sempre procurarem definir seu som – jazz, pop, soul, mpb – e nunca terem conseguido? Você consegue definir seu som?
Pedro Mariano – Tem. Curiosamente, o fato de não conseguirem definir bem o meu som é um objetivo alcançado. O rótulo define, limita. Um artista que se dedica e é reconhecido pelo pop não consegue mais sair disso. O melhor para um artista é quando alguém diz que gosta de um som “meio Marisa Monte, meio Pedro Mariano”. Isso mostra que seu trabalho tem um diferencial, tem personalidade. Fazer coisa simples eu não faço. Pode pagar suas contas, mas não te consolida.
Virgula – Você não compõe. Como rola a parceria com os compositores: você pede músicas, eles mandam por conta própria?
Pedro Mariano – Encomendar músicas do tipo ligar para o cara e ver se ele tem uma música pra mim eu nunca fiz. Mas eu tenho compositores como o Daniel Carlomagno, o Jair Oliveira, agora o Jorge Vercilo, que me acompanham então é mais fácil. Com relação a novos compositores, trabalho com alguns, mas às vezes não dá certo. Eu gosto de gravar apenas músicas inéditas e esses compositores às vezes gravam seus discos e querem dar exclusividade à sua música, o que eu acho correto.
Virgula – Música sua nem pensar?
Pedro Mariano – Eu não componho porque poupo a humanidade disso. (risos)
Virgula – Nesse disco você também regravou Só Deus é Quem Sabe, gravada no último disco de sua mãe. Por que quis regravar essa música?
Pedro Mariano – Ela é uma balada soul, funk e sempre tive uma empatia muito grande com essa música. Sempre quis gravá-la por achar que ela tinha a cara do meu trabalho. Chamei meu pai, que é fez o arranjo original da música, para fazer um novo arranjo ra mim.
Virgula – Pra você, gravar um álbum e não ter seu pai do lado é uma idéia que não passa pela sua cabeça?
Pedro Mariano – Sabe que quanto eu chamei ele pra trabalhar comigo pela primeira vez ele veio meio cético. Não botou fé por achar que a parceria pudesse atrapalhar meu trabalho. Mas eu o considero o maior arranjador do Brasil, e até a idéia de gravar esse disco com apenas um quarteto foi sacada dele, depois de ver um show meu em Campos do Jordão, nesse formato. Ele disse que eu precisava registrar isso num disco.
Virgula – Esse disco é “mais” em que aspectos, comparados com os anteriores?
Pedro Mariano – É um disco mais intimista, introspectivo, feito com apenas um quarteto me acompanhando, sem tecnologia nenhuma. Sempre quis fazer um disco assim, atemporal. Acho que todo o intérprete deve se impor fazer um trabalho desses. O clima era outro comparado com meus outros discos. É mais olho no olho. Vale aquela máxima de que menos às vezes é mais.
Virgula – E parceria com sua irmã, Maria Rita. Já pensaram em gravar juntos?
Pedro Mariano – Nunca apareceu uma oportunidade nem vontade de ambas as partes. Nós temos uma relação pessoal que só diz respeito à gente, e no profissional, temos carreira diferentes, em épocas diferentes. Ela está no seu quarto ano e com dois discos lançados, enquanto eu estou lançando meu sexto disco, com 10 anos de estrada. Para que um encontro aconteça é preciso ter um porquê. Já cantei com algumas cantoras como a Luciana Mello, que me chamou pra cantar com ela antes, e a Sandy, que sempre me fala da admiração que tem pela minha mãe. Por isso chamei as duas para o meu DVD. Mas ainda não surgiu o momento pra nós dois.
Virgula – Você, Luciana Mello, Jairzinho, Max de Castro, Simoninha, e outros, fizeram parte de uma turma que trouxe a MPB de volta ao centro. Hoje, uma nova turma está sendo destaque na MPB, como Ceu, Mariana Aydar, Roberta Sá, Eduardo Nazarian…O que você acha dessa nova turma? Será que um dia a nostalgia da MPB do passado vai passar?
Pedro Mariano – Essas comparações com a nova geração da MPB e com a época da minha mãe não levam a lugar nenhum. As pessoas precisam parar com isso. Quando elas comparam essas gerações, não se leva em consideração o contexto político e social da época, o número de artistas no cenário musical nem o número de veículos que davam espaço a esses artistas.
Virgula – Bem diferente de hoje…
Pedro Mariano – Pois é. É claro que a Elis ia ser uma cantora de destaque sendo que tocava em dez das dez rádios brasileiras da época. Certa vez num show no Canecão, uma senhora veio me dizer que “minha mãe era muito melhor”. Eu agradeci porque ela foi ao meu show, mas eu não sou a minha mãe. Esse saudosismo não faz bem. A nova MPB é muito mais qualificada para o mercado hoje, os artistas se lançam sozinhos, fazem sucesso mais rápido lá fora. Os artistas daquela época que sobreviveram, já não são mais os mesmos. Gliberto Gil é um exemplo de artista que vem se reinventando com o tempo. Essa nostalgia não leva a lugar nenhum.
Virgula – Quem se destaca nessa nova cena?
Pedro Mariano – A Ceu tem um trabalho muito pessoal. Gostei muito do disco dela. Uma cantora que não lembra ninguém, não copia outros e faz uma música que é só sua.