Depois de conquistar o Redentor de melhor filme de ficção no Festival do Rio 2006, O Céu de Suely entra em cartaz nos cinemas de São Paulo dentro da programação da 30ª Mostra de Cinema com o objetivo de mudar a vida do espectador. Ao menos é assim que o diretor Karim Aïnouz (o mesmo de Madame Satã, filme que revelou Lázaro Ramos ao grande público) gosta de pensar.

"O cinema pode mudar o mundo", disse ele em entrevista ao Virgula por telefone. "O que eu mais gosto no cinema é a possibilidade de fazer política, não no sentido partidário, mas de mexer com a vida das pessoas", completa ele.

Divertido, porém consciente de que o cinema é muito mais que entretenimento. Este é Karim, que em seu novo longa conta a história de Hermila, uma jovem de 21 anos que vem a São Paulo tentar a vida e acaba voltando para a sua casa, no interior do Ceará, cidade natal do diretor. Lá ela vai tentar reinventar sua vida e ir em busca de um sonho.

"Queria contar dessa migração mais contemporânea, do retorno ao nordeste, e não a velha história das pessoas que vem de lá pra cá em busca de uma vida melhor", conta Karim. 

A dura missão de encontrar um nome para  o filme

Suely. A princípio, era como o filme deveria se chamar, mas para Karim, faltava alguma coisa. "Acho tão bonito quando o nome consegue traduzir bem o filme. Este filme não é sobre Suely, é sobre o sonho. O céu é um personagem, daí escolhi O Céu de Suely. Achei mais poético, mais aberto", diz Karim.

Para entender melhor o sonho de jovens como Hermila, a produção do filme entrevistou vários jovens para saber com o que eles sonhavam. "Em geral eles têm um desejo de sobrevivência, de criar os filhos e ter um trabalho. Mas três meninas me chamaram atenção, pois queriam conhecer o Brasil dançando num grupo de forró", conta brincando Karim que comenta uma passagem do filme, onde a personagem quer ir a Porto Alegre não por ser mais longe, mas por ser alegre, um lugar feliz.

Uma Hermila dentro de outra Hermila

"Sempre pensei em Hermila como para o filme. Queira um rosto desonhecido, que surpreendesse". Karim se refere à atriz Hermila Guedes, que em O Céu de Suely vive a protagonista Hermila. "Foi uma estratégia perversa", diz rindo o diretor. Sua idéia era aproximar mais a personagem da própria atriz.

Para isso, Karim fez as atrizes morarem na casa do filme, se vestirem e serem chamadas pelos nomes das personagens. "Coloquei os atores na situação. Foi um momento Auschwitz", brinca Karim, dizendo que dessa forma conseguiu dirigir os atores que ainda não têm tanta experiência no cinema.

Prêmio no Rio foi uma total surpresa

Quanto ao prêmio Redentor, Karim afirma que foi uma surpresa total. "Com Madame Satã o filme e Lázaro Ramos ganharam prêmios mais tarde, e agora, tinhamos acabado de voltar do Festival de Veneza. Foi ótimo", diz o diretor.

Se há semelhanças entre os protagonistas de seus dois longas? Karim acredita que sim. "São personagens teimosos com relação à felicidade, desencaixados de seu universo, inquietos. Gosto disso".

A última sessão de O Céu de Suely acontece neste domingo, dia 29, às 14h00, na Sala UOL de Cinema. Mas na próxima semana, ele retorna aos cinemas de todo o Brasil.


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30ª Mostra de Cinema: 'O cinema pode mudar o mundo', diz o diretor Karim Aïnouz