O cinema brasileiro vem assumindo papel importante na preservação da memória dos fatos ocorridos durante a ditadura militar, iniciada em 1964. Nos últimos 15 anos, filmes como Lamarca (1994), O Que É Isso, Companheiro (1997) e Batismo de Sangue (2007 ) recuperaram histórias do período mais difícil da ditadura.
Para o crítico de cinema Rubens Edwald Filho, uma das funções do cinema é justamente “denunciar, discutir e retratar situações e períodos da história”. “O cinema é um grande veículo de comunicação e é preciso que esse meio relembre o passado.”
Segundo Ewald, o cinema brasileiro cumpriu o seu papel de denunciar e discutir o tema desde o começo do regime, como mostra o filme Desafio (1965), de Paulo Cesar Saraceni.
“O Arnaldo Jabor também fez seu filme durante o período, mas as pessoas não entenderam”, comentou o crítico. Pindorama (1970), de Jabor, não foi censurado, segundo Edwald, porque era de difícil compreensão. “Se o público entende ou não o recado, é outro ponto de discussão. O importante é que os cineastas brasileiros fizeram sua parte e fizeram, cada um a seu modo, o retrato da história.”
O diretor de cinema Roberto Farias rodou, em 1982, o primeiro longa que tratava abertamente da tortura na ditadura miliar, Pra Frente, Brasil. O cineasta conta que mesmo após 25 anos do lançamento do filme, ele continua presente na memória das pessoas. “Não fico uma semana sequer sem falar sobre esse filme”, disse.
Farias afirmou também que é convidado para mostrar seu filme em universidades e sempre conversa com os estudantes após a exibição. “O que mais escuto dos jovens é que eles não faziam idéia de que a tortura era daquele jeito. O filme cumpriu seu papel e ainda hoje cumpre”, acrescentou.
O cineasta João Batista de Andrade usou a ditadura militar como tema em alguns de seus filmes, entre eles, Vlado – Trinta Anos Depois (2005). Este ano, ele lançará Travessia, que também trata do assunto. Para Andrade, filmes sobre o período são importantes não apenas porque preservam a memória, mas por esclarecer certos aspectos dela.
O cineasta contou que ouviu recentemente de um vizinho que tempos bons eram os da ditadura, quando não tinha violência. “Dizem que o Brasil sofre de falta de memória, mas muitas vezes há lembranças, só que fantasiosas. Qual a memória que ficou? Esta é uma delas”, disse.
Cao Hamburguer, que dirigiu O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), também acredita que o cinema é importante para mostrar todos os lados de um mesmo fato. “Acho importante obras que mostrem o horror desse tipo de regime. A democracia é importante em qualquer época e em qualquer lugar do mundo. As ditaduras todas se parecem, seja qual for a ideologia”, disse.